Alfred Dreyfus*
(1859-1935)
J’accuse!, em português “Eu
acuso”, é o título da carta aberta (artigo) publicado em 13 de janeiro de 1898
no jornal L’Aurore, escrita pelo romancista e ativista político francês Émile
Zola (1840–1902) e dirigida ao então presidente Félix Faure. Trata-se de uma
contundente e implacável “denúncia” contra os oficiais que ocultaram a verdade
no caótico caso em que o oficial francês de origem judaica Alfred Dreyfus, foi
acusado injustamente de traição e espionagem. O Caso Dreyfus, é sem dúvida um
dos maiores e mais polêmicos casos de erro judiciário da história. Em razão da
carta aberta, Zola acabou sendo processado e condenado por difamação.
O Caso Dreyfus
A partir da interceptação de uma
carta, em setembro de 1894, cujo conteúdo teria segredos estratégicos, o
Estado-Maior francês sai à busca de um culpado e depois de breves investigações
chega ao capitão Alfred Dreyfus, acusado de espionagem em favor da Alemanha,
aparentemente segundo algumas evidências grafológicas, elas mesmas, aliás, de
caráter duvidoso. De todo o volumoso dossiê da acusação, somente foi exibido o
chamado bordereau, carta supostamente escrita por Dreyfus, endereçada ao adido
militar alemão, Schwartzkoppen.
A história começa a mudar quando
em junho de 1895 o tenente-coronel Picquard tornou-se chefe da Seção de
Estatística do Estado-Maior, na realidade encarregada de informações e
contraespionagem. Sendo certo que o caso começou a ter uma reviravolta quando
“em maio de 1896, Picquard disse ao chefe do Estado-Maior, Boisdeffre, que
estava convencido da inocência de Dreyfus e da culpabilidade de um outro
oficial, major Walsin-Esterhazy. Seis meses mais tarde, Picquard foi removido
para um perigoso posto na Tunísia”.
É fato que em agosto de 1898
Walsin-Esterhazy foi reformado por crime de peculato. Walsin-Esterhazy logo
contou a um jornalista inglês, que ele – e não Dreyfus – era o autor do
famigerado bordereau, tendo forjado a letra de Dreyfus por ordem do coronel Sandherr,
seu superior e antigo chefe da Seção de Estatística.
Somente quatro anos após a morte
de Zola (29/9/1902), é que em 1906 o Exército francês acabou, admitindo o
grande e irreparável erro, reintegrando Alfred Dreyfus, que chegou a receber uma
medalha da Legião de Honra. Dreyfus morreu em 1935.
(Do blog Justifcando)
Trecho de “Eu Acuso…!”
Emile Zola
(1840-1902)
“Eu acuso o tenente-coronel du
Paty de Clam de ter sido o operário diabólico desse erro judiciário,
inconscientemente, quero acreditar, e de haver, em seguida, defendido sua obra
nefasta, durante três anos, por meio das mais absurdas e culpáveis maquinações.
Eu acuso o general Mércier de ter
se tornado cúmplice, ao menos por fraqueza de espírito, de uma das maiores
iniquidades do século.
Eu acuso o general Billot de ter
nas mãos as provas verdadeiras da inocência de Dreyfus e de havê-las abafado,
de ter se tornado culpado desse crime de lesa-humanidade e de lesa-justiça, com
objetivos políticos e para salvar o Estado-Maior comprometido.
Eu acuso o general de Boisdeffre
e o general Gonse de terem se tornado cúmplices do mesmo crime, um sem sombra
de dúvida pelo ardor clerical, o outro talvez por esse espírito de corpo que
torna as divisões do Ministério da Guerra a Arca Santa, inatacável.
Eu acuso o general de Pellieux e
o comandante Ravary de terem feito uma investigação infame, eu entendo por isso
uma investigação da mais monstruosa parcialidade, da qual temos, no relatório
do segundo, um monumento imortal de uma audácia ingênua.
Eu acuso os três experts em
caligrafia, os senhores Belhomme, Varinard e Couard, de terem feito relatórios
mentirosos e fraudulentos, a menos que um exame médico os declare portadores de
uma doença da vista e do juízo.
Eu acuso as divisões do
Ministério da Guerra de terem desencadeado na imprensa, particularmente no
L’Éclair e no L’Écho de Paris, uma campanha abominável, para enganar a opinião
pública e acobertar as suas falhas.
Eu acuso, enfim, o primeiro
Conselho de Guerra de ter violado o direito, condenando um réu com base em um
documento que permaneceu secreto, e eu acuso o segundo Conselho de Guerra de
ter acobertado esta ilegalidade, […], cometendo, por seu turno, o crime
jurídico de absolver conscientemente um culpado.
Ao fazer essas acusações, eu não
ignoro que me inscrevo nos artigos 30 e 31 da lei de imprensa de 29 de julho de
1881, que pune os delitos de difamação. E é voluntariamente que me exponho.
Quanto às pessoas que eu acuso,
eu não as conheço, nunca as vi, não tenho contra elas nem rancor nem ódio. Elas
são para mim apenas entidades, os espíritos da maldade social. O ato que
realizo aqui é um meio revolucionário para acelerar a explosão da verdade e da
justiça.
Eu tenho apenas uma paixão, a da
verdade, em nome da humanidade que tanto sofreu e que tem direito à felicidade.
Meu protesto inflamado é o grito da minha alma. Que ousem, portanto, me levar
ao tribunal do júri e que a investigação aconteça em pleno dia!
Eu espero.
Queira receber, senhor Presidente, a certeza do meu mais
profundo respeito.”
Fonte:
Zola, Émile. L’Affaire Dreyfus. La vérité en marche . Paris: GF-Flammarion, 1969.
Alfred Dreyfus, tendo
sua espada de oficial quebrada,
degradação como oficial.
Alfred Dreyfus no julgamento
Alfred Dryfus e filhos
degradação como oficial.
Alfred Dreyfus no julgamento
Alfred Dryfus e filhos
*Alfred Dreyfus; Mulhouse,
9 de outubro
de 1859
-
Paris,
12 de julho
de 1935
foi um capitão
da artilharia
do exército
francês
de fé
e origem judaica.
Injustamente acusado e condenado por traição
-
depois anistiado
e reabilitado -
foi o centro de um famoso episódio de conotações sociais e políticas, durante a
Terceira República Francesa, e que ficou
conhecido como o Caso Dreyfus.
P.S. Assista ao filme “O oficial e o espião”, de Roman Polanski.
Sinopse e detalhes
“O oficial e o espião” se passa em Paris, final
do século 19. O capitão francês Alfred Dreyfus é um dos poucos judeus que faz
parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884, seus inimigos alcançam seu
objetivo: conseguem fazer com que Dreyfus seja acusado de alta traição. Pelo
crime, julgado a portas fechadas, o capitão é sentenciado à prisão perpétua no
exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart decide seguir
as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus.
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