Saudades!... Tenho saudades
Desses tempos que lá vão!
Desses tempos que lá vão!
Quando à porta do quinteiro
Eu jogava o meu pião;
Quando no campo eu corria
Cum papagaio na mão!
Eu jogava o meu pião;
Quando no campo eu corria
Cum papagaio na mão!
Oh! que então eram, na terra,
Tudo venturas pra mim!
Meu pai me dava biscoitos,
Minha mãe, beijos sem fim;
Minha avô me defumava
De manhã, com alecrim.
Tudo venturas pra mim!
Meu pai me dava biscoitos,
Minha mãe, beijos sem fim;
Minha avô me defumava
De manhã, com alecrim.
Por entre os prados amenos
Como, contente, eu saltei,
Com meu chapéu de dois bicos
Que dum papel arranjei,
E em grosso pau a cavalo,
Mais orgulhoso que um rei!
Como, contente, eu saltei,
Com meu chapéu de dois bicos
Que dum papel arranjei,
E em grosso pau a cavalo,
Mais orgulhoso que um rei!
De ser cristão, nessa idade,
Tendo já nobre altivez,
De papelão com a mitra
Que o mano Antônio me fez,
Ao pé da minha igrejinha
Bispo fui por muita vez!
Tendo já nobre altivez,
De papelão com a mitra
Que o mano Antônio me fez,
Ao pé da minha igrejinha
Bispo fui por muita vez!
Nos inocentes folguedos
Eu via o tempo voar;
Se um dia vinha um sopapo
Que me obrigava a chorar,
Depois, de mimos coberto,
Eis-me a rir, eis-me a brincar!
Eu via o tempo voar;
Se um dia vinha um sopapo
Que me obrigava a chorar,
Depois, de mimos coberto,
Eis-me a rir, eis-me a brincar!
Meu pião idolatrado,
Que será feito de ti?
Papagaio da minha alma,
Há que tempo te não vi!
Doces biscoitos de outrora,
Quem mos dera aqui!
Que será feito de ti?
Papagaio da minha alma,
Há que tempo te não vi!
Doces biscoitos de outrora,
Quem mos dera aqui!
Meigos beijos, inocentes,
Como ainda me lembrais!
Cheirosos defumadouros,
Que saudades me inspirais!
Meu lindo chapéu de bicos,
Não me enfeitarás jamais!
Como ainda me lembrais!
Cheirosos defumadouros,
Que saudades me inspirais!
Meu lindo chapéu de bicos,
Não me enfeitarás jamais!
Grosso pau em que montava,
Em cinzas, talvez, será!
A mitra, com que fui bispo
Esfarrapada foi já!
Em cinzas, talvez, será!
A mitra, com que fui bispo
Esfarrapada foi já!
E a minha bela igrejinha
Em que mãos hoje estará?!
Em que mãos hoje estará?!
Da infância a negra saudade,
Que à desgraça me reduz,
A minha alma espevitando,
Tem quase apagada a luz;
Só vivo até que meu peito,
Que à desgraça me reduz,
A minha alma espevitando,
Tem quase apagada a luz;
Só vivo até que meu peito,
Ás escuras, diga: “truz!”
Faustino Xavier de
Novais
Nenhum comentário:
Postar um comentário