“Gostaria de acreditar que uma
sociedade mais unida, mais integrada, mais empática. Certamente o coronavírus
não irá transformar o mundo, tampouco a imensa diversidade tão complexa dos
seres humanos. Mas ele já está nos relembrando que somos um planeta único, um
sistema integrado, que o ser humano é igualmente vulnerável sendo chinês ou
americano, com mais ou menos dinheiro, branco ou negro. O vírus também nos
lembra que o ser humano consegue rapidamente se articular, buscar respostas,
mas que também sobrevive se desacelerar, que tem capacidade de se preocupar e
cuidar e acima de tudo ser criativo e pode cantar e brincar. Que isso
permaneça! Que não seja um privilégio só dos tempos de crise!”
Giuliana Chiapin,
Psicóloga
“É importante que uns tentem
ajudar os outros. Vivemos tempos que requerem solidariedade. Solidariedade é
contrário do neoliberalismo que há anos e anos buscam nos impor. Tudo o que
aprendemos sobre Estado mínimo estava errado. Imaginar o amanhã é o desafio que
passa por aprender já o quão decisivo são a educação pública, a saúde pública,
com o fantástico SUS que os últimos governos vêm atacando ao minguar as verbas.
A hora não é de fanatismo político ou religioso, a hora é de os cientistas
desenvolverem novas vacinas, e a hora é dos artistas que precisam inventar como
chegar aos seus públicos pelas redes sociais. A hora é de a civilização
crescer, amadurecer e mobilizar suas forças de integração, ao contrário dos
últimos anos, nos quais Trump e outros líderes fizeram guerra. O vírus, hoje,
adoece, às vezes mata, gera tristeza, mas novos caminhos serão criados como foram
no passado. De algo estou seguro: os mais ricos, os ricos e os letrados ou não
têm de aprender mais sobre a importância da solidariedade. É tempo de aprender
que o futuro da humanidade passa pela solidariedade e não por acumular milhões e
bilhões como o triste Tio Patinhas.”
Abrão Slavutzky,
Psicanalista
“Uma coisa é um sociedade que
gostaria que emergisse: mais solidária, mais consciente da sua responsabilidade
com o coletivo, que desse mais valor a investimentos de longo prazo, como
atenção a saneamento, saúde básica e educação, em vez de deixar-se guiar pela
montanha-russa dos mercados financeiros. Tenho minhas dúvidas de que isso mude
por essa crise que, embora de dimensões globais, ao que tudo indica deve passar
em questão de meses. Talvez saíamos dela como uma sociedade que lava mais as
mãos, usa mais álcool gel, beija menos e evita aglomerações − ao menos por um
tempo. Não sei se as marcas dessa crise serão profundas o suficiente para haver
mudanças radicais; desejo que sim, desconfio que não. Tem circulado na internet
um vídeo de cinco anos atrás no qual, após a crise do ebola − mais letal, mas menos
contagioso −, Bill Gates alertava para os perigos de uma outra epidemia viral e
desenhava estratégias relativamente simples, mas importantes de serem adotadas
pelos governos. Não aconteceu.”
Paulo Gleich,
Psicanalista
(Do caderno Vida de
Zero Hora, março de 2020)
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