segunda-feira, 23 de março de 2020

Que sociedade vai emergir da pandemia?



“Gostaria de acreditar que uma sociedade mais unida, mais integrada, mais empática. Certamente o coronavírus não irá transformar o mundo, tampouco a imensa diversidade tão complexa dos seres humanos. Mas ele já está nos relembrando que somos um planeta único, um sistema integrado, que o ser humano é igualmente vulnerável sendo chinês ou americano, com mais ou menos dinheiro, branco ou negro. O vírus também nos lembra que o ser humano consegue rapidamente se articular, buscar respostas, mas que também sobrevive se desacelerar, que tem capacidade de se preocupar e cuidar e acima de tudo ser criativo e pode cantar e brincar. Que isso permaneça! Que não seja um privilégio só dos tempos de crise!”

Giuliana Chiapin, Psicóloga

“É importante que uns tentem ajudar os outros. Vivemos tempos que requerem solidariedade. Solidariedade é contrário do neoliberalismo que há anos e anos buscam nos impor. Tudo o que aprendemos sobre Estado mínimo estava errado. Imaginar o amanhã é o desafio que passa por aprender já o quão decisivo são a educação pública, a saúde pública, com o fantástico SUS que os últimos governos vêm atacando ao minguar as verbas. A hora não é de fanatismo político ou religioso, a hora é de os cientistas desenvolverem novas vacinas, e a hora é dos artistas que precisam inventar como chegar aos seus públicos pelas redes sociais. A hora é de a civilização crescer, amadurecer e mobilizar suas forças de integração, ao contrário dos últimos anos, nos quais Trump e outros líderes fizeram guerra. O vírus, hoje, adoece, às vezes mata, gera tristeza, mas novos caminhos serão criados como foram no passado. De algo estou seguro: os mais ricos, os ricos e os letrados ou não têm de aprender mais sobre a importância da solidariedade. É tempo de aprender que o futuro da humanidade passa pela solidariedade e não por acumular milhões e bilhões como o triste Tio Patinhas.”

Abrão Slavutzky, Psicanalista

“Uma coisa é um sociedade que gostaria que emergisse: mais solidária, mais consciente da sua responsabilidade com o coletivo, que desse mais valor a investimentos de longo prazo, como atenção a saneamento, saúde básica e educação, em vez de deixar-se guiar pela montanha-russa dos mercados financeiros. Tenho minhas dúvidas de que isso mude por essa crise que, embora de dimensões globais, ao que tudo indica deve passar em questão de meses. Talvez saíamos dela como uma sociedade que lava mais as mãos, usa mais álcool gel, beija menos e evita aglomerações − ao menos por um tempo. Não sei se as marcas dessa crise serão profundas o suficiente para haver mudanças radicais; desejo que sim, desconfio que não. Tem circulado na internet um vídeo de cinco anos atrás no qual, após a crise do ebola − mais letal, mas menos contagioso −, Bill Gates alertava para os perigos de uma outra epidemia viral e desenhava estratégias relativamente simples, mas importantes de serem adotadas pelos governos. Não aconteceu.”

Paulo Gleich, Psicanalista

(Do caderno Vida de Zero Hora, março de 2020)


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