quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Cantos univesitários


E assim nasceu o “Pique-Pique”...

Adriano Marrey*


As gerações de bacharéis veteranos concorreram para a formação do mais rico folclore acadêmico, ou melhor, para o que se chama de suas “tradições”. Foram os estudantes de uma turma próxima de 1930 os que criaram, um dia, o popular “pique-pique”, que atualmente todos cantam nos dias festivos.

Poucos conhecem a sua singular origem. Escreveu Guilherme de Almeida, a que se reportava o querido amigo Lauro Malheiros, em seu comovente livro de memórias intitulado “Rosas no Inverno”, que três estudantes, da turma que colaria grau em 1927, eram então amigos inseparáveis nas horas de boemia. Um deles – Ubirajara Martins de Souza – usava um extraordinário bigode de pontas finas e retorcidas para cima e por isso era apelidado de “pique-pique”. Outro, era Mário Ribeiro da Silva, “inteligência viva e afinado senso de humor” e que apreciava desconsertar os interlocutores mais austeros, interdizendo no meio das conversas frases desconexas, como esta: “Veja você, hein? Meia hora...”. O terceiro era Aru Medeiros; e juntos constituíam o grupo do “Pudim”...

Numa noite em que bebericavam o seu chope, no bar Pérola do Douro, sendo aniversário de Ubirajara, Mário o brindava, gritando: “Pique-pique, pique-pique, pique-pique”. Retrucou, então, Ubirajara: “Meia hora, meia hora, meia hora”. Daí, para emendar com “Rá-rá-tchin-bum”, foi um relâmpago. Estava criado o hino do “Pudim”, o grito de guerra de toda a estudantada.

Recordou Guilherme de Almeida que “no dia seguinte visitava a Faculdade de Direito o Marajá de Kapurtala. Entre outras manifestações, recebeu nas bochechas ilustres, berrado de perto, o primeiro ‘pique-pique’ oficial. Gostou e manifestou alto interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil”...

Concluiu Lauro Malheiros – “foi assim que nasceu o 'pique-pique’ em São Paulo. Entre estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco”.


*Extraído da oração proferida na solenidade realizada na Faculdade de Direito de São Paulo, pela OAB/SP, em homenagem aos bacharéis em Direito com mais de 50 anos de exercício. O discurso foi depois impresso com o título de “Saudade das Arcadas”.

Abaixo, outra versão do Blog História e Tradições

A Origem do Pique-Pique

Foi assim que nasceu o “pique-pique”, em São Paulo, entre estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco:

Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas brasileiros, dedicou ao episódio uma de suas deliciosas crônicas (Ontem - Hoje - Amanhã) publicada no Diário de S. Paulo, edição de 12 de setembro de 1952, exatamente sob o título "O pique-pique".

 Ei-la:

“Conversa entre amigos. Faz pouco tempo. Na Rádio Tupi, durante o cafezinho, à margem do programa ‘Repto aos Enciclopédicos’. Fugas do pensamento, Marcha-à-ré no Tempo. Estudantadas. A velha Faculdade... E alguém:

‒ É verdade... Por quem, e quando, teria sido inventado o popularíssimo ‘Pique-pique’: a já tradicional saudação dos estudantes?. Garanto que com essa pergunta eu abiscoitaria os 250 cruzeiros!

“Ora, estava na roda o meu amigo Ubirajara Martins. Tomou um arzinho entendido, sorriu a prometeu-me um fiel depoimento a respeito. Prometeu e cumpriu. E a mim, agora, a agradável tarefa de resumir o pitoresco e fidedigno histórico.

1923. A turma que iria colar grau em 1927 (a do Primeiro Centenário da Faculdade) cultuava a boa boemia. Três estudantes ‒ o Ubirajara, o Aru Medeiros e o Mário Ribeiro da Silva ‒ fundaram uma alegre sociedade que se chamou "Pudim". Com bom fermento, o "Pudim" cresceu: desbravou o Interior com uma "Bandeira Acadêmica", composta de um team de futebol, um jazz e um grupo teatral: somente estudantes, e não apenas de Direito, mas já também de Medicina, da Politécnica e do Mackenzie.

“Ora, essa turma precisava de um grito-de-guerra. Não lhe bastava o corriqueiro ‘Ra-ra-tchim-bum!’ Sentia necessidade de coisa mais característica... Ora, na sua trindade fundadora, havia, primeiro, o apelido de Ubirajara: ‘pique-pique’ (por causa dos seus bigodes feitos de pontas agressivas como ‘picos’); depois, a expressão ‘inexpressiva’ do Mário, que, a qualquer propósito, cortava a perlenga do interlocutor com um inoportuno e incompreensível: 'Meia hora'...

“Ora, certa noite, na ‘Pérola do Douro’ ‒ um bar lusitano da Avenida São João, lá no Paissandu ‒ quando ia alta a noite, e alto o nível alcoólico, a cada trago novo Mário brindava Ubirajara, dizendo ‘Pique-pique, pique-pique, pique-pique!’ E a Ubirajara a vez de replicar: ‘Meia hora, meia hora’. Daí, para emendar com o ‘Ra-ra-tchim-bum!’ foi um relâmpago. Estava criado o hino´’ do ‘Pudim’ e da ‘Bandeira’: o grito de guerra de toda a estudantada de hoje.

“Quando foi entoado pela primeira vez? No dia seguinte àquela noite de farra, durante a visita do Marajá de Kapurtala à Faculdade: assim saudado, o príncipe hindu manifestou vivo interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil”...”

Apud Rosas no Inverno - memórias, Lauro Malheiros, pág. 173

É pic! É pic!
Meia-hora! É hora! É hora!
Ra-já Tim-bum!

ou

“Pic-pic, pic-pic,
meia hora, é hora, é hora, é hora,
rá, já, tim, bum!”


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