Depois de
trabalhar toda uma vida
E descontar
por mês do seu salário,
Ao ver
aquela soma recolhida,
Saindo do
seu bolso para o erário,
Reflete o
brasileiro conformado:
“No fundo
esse dinheiro volta um dia,
Isso é pra
quando eu for aposentado”.
Mas saibam
da verdade nua e fria:
Hoje, não há
mais quem se aposente
Como se
aposentava antigamente.
Por onde
andam os bancos de praça
Onde os
velhinhos contavam vantagem?
Já perderam
de vez a sua graça,
Viraram
camas para a vadiagem.
Se agora vai
à rua o aposentado
E escapa aos
golpes de uma patinete,
Acaba seu
passeio, injuriado,
Sendo
assaltado por algum pivete.
Hoje, não há
mais quem se aposente
Como se
aposentava antigamente.
Onde andarão
as mesas das esquinas
Tão frequentadas
por nossos avós,
Que,
enquanto olhavam pernas das meninas,
Jogavam
damas, cartas, dominós?
Viraram
bocas de fumo, e o bondoso
Senhor que
ali ficar na contramão,
Além de ser
carente e bem idoso,
Ainda leva
fama de doidão.
Hoje, não há
mais que se aposente
Como se
aposentava antigamente.
E as praias
em que a areia, o sol e o sal,
Num mágico e
perfeito sintetismo,
Curavam de
uma forma natural
Lumbago,
asma, tosse, reumatismo?
Agora, ao
frequentar um balneário,
Corre risco
de vida o ancião:
Lá vai ao
longe o afoito octogenário
Levado pela
turba do arrastão.
Hoje, não há
mais quem se aposente
Como se
aposentava antigamente.
E quando
além de tudo ele ainda pensa
Que a
aposentadoria é uma benesse,
Descobre em
sobressalto pela imprensa
Que vai ter
que brigar com o INSS,
Pois quando
tudo indica que é direito
Os cento e
quarenta e sete por cento,
Lhe dizem
logo na raça e no peito
Que nunca
ele verá tamanho aumento.
Hoje, não há
mais quem se aposente
Como se
aposentava antigamente.
É certo que
ministro, funcionário,
Deputado com
oito anos de plenário,
Senador ou
chefes de secretaria
Têm outro
tipo de aposentadoria,
Que vai ser
paga, é claro, com o dinheiro
Do pobre
aposentado verdadeiro.
São os
únicos, não há dúvida, minha gente,
Que se
aposentam igualzinho a antigamente.
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