(Frases retiradas de
seus livros)
Nada lhe posso dar o que já não
exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele
que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o
impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é
tudo.
Se você odeia alguém, é porque
odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não
nos perturba.
A paz não é um estado primitivo
paradisíaco, nem uma forma de convivência regulada pelo acordo. A paz é algo
que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos. A paz é um ideal.
Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele
próprio não tiver vivido.
O homem é um ser ansioso pela felicidade; no entanto, não a
suporta por muito tempo.
Um ser humano só cumpre o seu dever quando tenta aperfeiçoar
os dotes que a natureza lhe deu.
Entre os seres humanos, mesmo se
intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode
superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência.
Sem amor por si mesmo, o amor
pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é exatamente idêntico
ao flagrante egoísmo e, no final, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo
desespero.
A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos
diferentes da mesma música.
O acaso não existe. Quando alguém
encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal
proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade
o conduzem a isso.
Quando se quer algo verdadeiramente e com suficiente força,
acaba-se por consegui-lo sempre.
Quem quiser nascer tem que
destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições
já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância
para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser.
Não existe nada tão mau, selvagem e cruel, na natureza,
quanto os homens normais.
Para a arte de viver, é preciso saber a arte de ouvir,
sorrir e ter paciência... sempre.
Existem pessoas que se declaram perfeitas, mas apenas porque
exigem pouco de si mesmas.
O correr das águas, a passagem
das nuvens, o brincar das crianças, o sangue nas veias. Esta é a música de
Deus.
Quanto mais envelhecia, quanto
mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto
mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da
vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).
Mas na realidade não há nenhum
eu, nem mesmo no mais simples, não há uma unidade, mas um mundo plural, um
pequeno firmamento, um caos de formas, de matizes, de situações, de heranças e
possibilidades.
Não sou aquele que sabe, mas aquele que busca.
O simples fato da música existir
e de poder um ser humano ficar, por vezes, comovido até o âmago por uns poucos
compassos e inundado por harmonias, sempre significou para mim um profundo
consolo e uma justificação de vida.
Posso amar uma pedra, uma árvore,
uma simples folha seca caída da árvore,tudo isto são coisas, coisas que eu
posso amar, mas não consigo nem posso amar palavras, é por isso que não aprecio
as doutrinas, não têm dureza, cores, arestas, cheiro, gosto, nada têm a não ser
palavras. Talvez seja por causa das palavras em excesso que me impede de
encontrar a paz. Porque o mais importante é “AMAR O MUNDO” não o desprezar, não
o odiar nem me odiar, observá-lo, a mim e a todos os seres com (amor, admiração
e respeito).
A cada chamado da vida, o coração
deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem
lamúrias. Aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um
encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.
A juventude quer divertir-se; a
velhice, trabalhar. Ninguém se casa só para ter filhos, mas, uma vez que os têm,
eles o modificam e, no fim, ele percebe que tudo, com efeito, acontecerá
somente em função deles. Isso se prende ao fato de que a juventude, sem dúvida,
gosta de falar da morte, mas nunca pensa nela. Com os velhos, dá-se o
contrário. Os jovens julgam que vão viver eternamente; daí, poderem reportar a
si mesmos todos os seus desejos e pensamentos. Ao contrário, os velhos já
perceberam que, num ponto qualquer, existe um fim e que tudo o que alguém tem
ou faz só para si mesmo, acaba por cair no vazio e por ter acontecido em vão. Assim , necessitam
de outra eternidade, bem como da crença de que não estão trabalhando unicamente
para os vermes. Para isso existem mulher e filhos, atividades e cargos e
pátria: para saber-se por quem é, afinal de contas, que suportamos a lida e o
desgaste e as aflições cotidianas.
Só há felicidade se não exigirmos nada do amanhã e
aceitarmos do hoje, com gratidão, o que nos trouxer. A hora mágica chega
sempre.
Não há como escapar. Você não pode
ser um vagabundo e um artista e ainda ser um cidadão sólido, um homem íntegro
saudável. Você quer ficar bêbado, então você tem que aceitar a ressaca. Você
diz sim à luz do sol e puras fantasias, então você tem que dizer sim para a
sujeira e as náuseas. Tudo está dentro de você, o ouro e a lama, a felicidade e
a dor, o riso da infância e da apreensão da morte. Diga sim para tudo, não fuja
de nada. Não tente mentir para si mesmo. Você não é um cidadão sólido. Você não
é um grego. Você não é harmonioso ou o mestre de si mesmo. Você é um pássaro na
tempestade. Deixá-lo invadir! Deixe-o levá-lo! Quanto você mentiu! Mil vezes,
mesmo em seus poemas e livros, você já jogou o homem harmonioso, o sábio, o
feliz, o homem iluminado.
Os poetas, mais que outras pessoas,
tendem a acreditar que no início da vida estão contidos, semiadormecidos,
certos poderes e belezas eternos, que por vezes cintilam no presente
enigmático, como relâmpagos na noite. Então para eles é como se toda a vida
habitual e eles mesmos fossem apenas imagens de uma bela e colorida cortina,
enquanto por trás dessa cortina se desenrolasse a verdadeira vida. As palavras
mais sublimes e eternas dos grandes poetas parecem-me também ser o balbucio de
alguém que sonha e sem o saber, das alturas entrevistas fugidias de um outro
mundo, murmura com lábios pesados.
Quando me comparava com os
demais, sentia-me muitas vezes orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, e em outras
tantas deprimido e humilhado. Ora me acreditava um verdadeiro gênio, ora fraco
do juízo. Não me era possível compartilhar a vida e as alegrias dos outros
rapazes de minha idade, e às vezes reprovava asperamente o meu isolamento e
sentia profunda tristeza, crendo-me definitivamente afastado de todos os meus
semelhantes, com todas as portas da vida fechadas irrevogavelmente para mim.
Não há porque te comparares com
os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser
avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por
seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as
nuvens, e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma, abandona-te
a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do
professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos,
entrar na escala burguesa e fossilizar-nos.
O que hoje existe não é
comunidade, é simplesmente rebanho. Os homens se unem porque têm medo uns dos
outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de
operários, rebanho de intelectuais... E por que têm medo? Só se tem medo quando
não se está de acordo consigo mesmo.
Os conhecimentos podem ser
transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos
consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não
nos é dado pronunciá-la e ensiná-la.
Às vezes os inimigos são mais úteis que os amigos, pois os
moinhos não giram sem vento.
Os ideais serão algo que se possa
alcançar? Viveremos para acabar com a morte? Não, vivemos para temê-la e também
para amá-la, e precisamente por causa da morte é que nossa vida vez por outra
resplandece tão radiosa num breve instante.
Minha história é, no entanto,
para mim, mais importante do que a de qualquer poeta é para ele, pois é a minha
própria história, e é a história de um homem – não de um personagem inventado,
possível ou inexistente em qualquer outra forma, mas a de um homem real, único
e vivo.
Todos os homens estão prontos a
fazer o impossível quando seus ideais estão ameaçados; mas quando se anuncia um
novo ideal, um novo impulso de crescimento, inquietante e talvez perigoso,
todos se acovardam.
Herman Karl Hesse (Calw, 2 de julho
de 1877
− Montagnola,
9 de agosto
de 1962)
foi um escritor
e pintor
alemão,
que em 1923
se naturalizou suíço. Em 1946 recebeu o Prêmio Goethe
e, passados alguns meses, o Nobel de Literatura “por seus escritos inspirados
que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais
humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo”.
Hermann Hesse (1877-1962), um dos
maiores prosadores da língua alemã do século XX, goza de um lugar especial na
história da moderna literatura ocidental. Teria sido ele o último representante
do romantismo por enfocar acima de tudo, em ambientes imaginários, rarefeitos,
a exaltação da sensibilidade do personagem e não a sua racionalidade.
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