domingo, 21 de abril de 2019

Hermann Hesse



(Frases retiradas de seus livros)

Nada lhe posso dar o que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.

Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba.

A paz não é um estado primitivo paradisíaco, nem uma forma de convivência regulada pelo acordo. A paz é algo que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos. A paz é um ideal.

Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.

O homem é um ser ansioso pela felicidade; no entanto, não a suporta por muito tempo.

Um ser humano só cumpre o seu dever quando tenta aperfeiçoar os dotes que a natureza lhe deu.

Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência.

Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é exatamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no final, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero.

A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música.

O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso.

Quando se quer algo verdadeiramente e com suficiente força, acaba-se por consegui-lo sempre.

Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser.

Não existe nada tão mau, selvagem e cruel, na natureza, quanto os homens normais.

Para a arte de viver, é preciso saber a arte de ouvir, sorrir e ter paciência... sempre.

Existem pessoas que se declaram perfeitas, mas apenas porque exigem pouco de si mesmas.

O correr das águas, a passagem das nuvens, o brincar das crianças, o sangue nas veias. Esta é a música de Deus.

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).

Mas na realidade não há nenhum eu, nem mesmo no mais simples, não há uma unidade, mas um mundo plural, um pequeno firmamento, um caos de formas, de matizes, de situações, de heranças e possibilidades.

Não sou aquele que sabe, mas aquele que busca.

O simples fato da música existir e de poder um ser humano ficar, por vezes, comovido até o âmago por uns poucos compassos e inundado por harmonias, sempre significou para mim um profundo consolo e uma justificação de vida.

Posso amar uma pedra, uma árvore, uma simples folha seca caída da árvore,tudo isto são coisas, coisas que eu posso amar, mas não consigo nem posso amar palavras, é por isso que não aprecio as doutrinas, não têm dureza, cores, arestas, cheiro, gosto, nada têm a não ser palavras. Talvez seja por causa das palavras em excesso que me impede de encontrar a paz. Porque o mais importante é “AMAR O MUNDO” não o desprezar, não o odiar nem me odiar, observá-lo, a mim e a todos os seres com (amor, admiração e respeito).

A cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias. Aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.

A juventude quer divertir-se; a velhice, trabalhar. Ninguém se casa só para ter filhos, mas, uma vez que os têm, eles o modificam e, no fim, ele percebe que tudo, com efeito, acontecerá somente em função deles. Isso se prende ao fato de que a juventude, sem dúvida, gosta de falar da morte, mas nunca pensa nela. Com os velhos, dá-se o contrário. Os jovens julgam que vão viver eternamente; daí, poderem reportar a si mesmos todos os seus desejos e pensamentos. Ao contrário, os velhos já perceberam que, num ponto qualquer, existe um fim e que tudo o que alguém tem ou faz só para si mesmo, acaba por cair no vazio e por ter acontecido em vão. Assim, necessitam de outra eternidade, bem como da crença de que não estão trabalhando unicamente para os vermes. Para isso existem mulher e filhos, atividades e cargos e pátria: para saber-se por quem é, afinal de contas, que suportamos a lida e o desgaste e as aflições cotidianas.

Só há felicidade se não exigirmos nada do amanhã e aceitarmos do hoje, com gratidão, o que nos trouxer. A hora mágica chega sempre.

Não há como escapar. Você não pode ser um vagabundo e um artista e ainda ser um cidadão sólido, um homem íntegro saudável. Você quer ficar bêbado, então você tem que aceitar a ressaca. Você diz sim à luz do sol e puras fantasias, então você tem que dizer sim para a sujeira e as náuseas. Tudo está dentro de você, o ouro e a lama, a felicidade e a dor, o riso da infância e da apreensão da morte. Diga sim para tudo, não fuja de nada. Não tente mentir para si mesmo. Você não é um cidadão sólido. Você não é um grego. Você não é harmonioso ou o mestre de si mesmo. Você é um pássaro na tempestade. Deixá-lo invadir! Deixe-o levá-lo! Quanto você mentiu! Mil vezes, mesmo em seus poemas e livros, você já jogou o homem harmonioso, o sábio, o feliz, o homem iluminado.

Os poetas, mais que outras pessoas, tendem a acreditar que no início da vida estão contidos, semiadormecidos, certos poderes e belezas eternos, que por vezes cintilam no presente enigmático, como relâmpagos na noite. Então para eles é como se toda a vida habitual e eles mesmos fossem apenas imagens de uma bela e colorida cortina, enquanto por trás dessa cortina se desenrolasse a verdadeira vida. As palavras mais sublimes e eternas dos grandes poetas parecem-me também ser o balbucio de alguém que sonha e sem o saber, das alturas entrevistas fugidias de um outro mundo, murmura com lábios pesados.

Quando me comparava com os demais, sentia-me muitas vezes orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, e em outras tantas deprimido e humilhado. Ora me acreditava um verdadeiro gênio, ora fraco do juízo. Não me era possível compartilhar a vida e as alegrias dos outros rapazes de minha idade, e às vezes reprovava asperamente o meu isolamento e sentia profunda tristeza, crendo-me definitivamente afastado de todos os meus semelhantes, com todas as portas da vida fechadas irrevogavelmente para mim.

Não há porque te comparares com os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens, e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma, abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos.

O que hoje existe não é comunidade, é simplesmente rebanho. Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários, rebanho de intelectuais... E por que têm medo? Só se tem medo quando não se está de acordo consigo mesmo.

Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la.

Às vezes os inimigos são mais úteis que os amigos, pois os moinhos não giram sem vento.

Os ideais serão algo que se possa alcançar? Viveremos para acabar com a morte? Não, vivemos para temê-la e também para amá-la, e precisamente por causa da morte é que nossa vida vez por outra resplandece tão radiosa num breve instante.

Minha história é, no entanto, para mim, mais importante do que a de qualquer poeta é para ele, pois é a minha própria história, e é a história de um homem – não de um personagem inventado, possível ou inexistente em qualquer outra forma, mas a de um homem real, único e vivo.

Todos os homens estão prontos a fazer o impossível quando seus ideais estão ameaçados; mas quando se anuncia um novo ideal, um novo impulso de crescimento, inquietante e talvez perigoso, todos se acovardam.


Herman Karl Hesse (Calw, 2 de julho de 1877Montagnola, 9 de agosto de 1962) foi um escritor e pintor alemão, que em 1923 se naturalizou suíço. Em 1946 recebeu o Prêmio Goethe e, passados alguns meses, o Nobel de Literatura “por seus escritos inspirados que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo”.

Hermann Hesse (1877-1962), um dos maiores prosadores da língua alemã do século XX, goza de um lugar especial na história da moderna literatura ocidental. Teria sido ele o último representante do romantismo por enfocar acima de tudo, em ambientes imaginários, rarefeitos, a exaltação da sensibilidade do personagem e não a sua racionalidade.

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