segunda-feira, 29 de abril de 2019

Tem jangada no Guaíba


Aquela miniatura de jangada, cheia de detalhes, que ganhei ainda menino, de uma “tia” nordestina, casada com um amigo do meu pai, fez mais sentido quando, maiorzinho, visitei o Museu Júlio de Castilhos* e conheci, além de uma jangada de verdade, em tamanho natural, a história fantástica de uma viagem improvável. Aquela precária embarcação que eu via diante dos meus olhos tinha vindo desde muito longe, navegando pelo mar e trazendo a bordo alguns homens.


Fotos: Antonio Ronek, Revista do Globo

Esta semana, quase meio século depois, examinando uma antiga Revista do Globo, encontrei o registro documental dessa aventura, que nunca saíra da minha cabeça. Numa bela reportagem de Rubens Vidal com fotos de Antônio Ronek, publicada em março de 1952, estava o relato da chegada, depois de 127 dias e 4 mil quilômetros, da jangada N. S. de Assunção, trazendo de Fortaleza (CE) quatro pescadores e um jornalista. Vinicius Lima, repórter do jornal O Globo, que patrocinava a travessia, aproveitou o desembarque do pescador Tatá – que, enfermo, ficou no Rio, quando a expedição fez uma escala por lá – e juntou-se a Jerônimo, João Pereira, Manuel Preto e Manuel Frade na segunda etapa da jornada.

* Essa jangada ficou muito tempo no pátio do Museu Júlio de Castilhos e acabou apodrecendo, pois ninguém deu a ela o seu devido valor. Eu tinha sete anos quando eles, os jangadeiros, vieram do Ceará, parando no Rio de Janeiro, até Porto Alegre. Um irmão mais velho e um tio nadaram perto dela ao passar pela Praia de Belas. Na foto abaixo, as pessoas estão nessa praia.


Jangadeiros na antiga Praia de Belas

Veja os retratos dos viajantes

(Fotos de Stênio Azevedo, Revista do Globo)


O objetivo dos viajantes era chamar a atenção e protestar contra as más condições de vida dos pescadores nordestinos. Foram recebidos como heróis por uma multidão e, depois, pelo governador e pelo prefeito.

A jangada foi exposta à curiosidade popular no Paço Municipal e, posteriormente, recolhida ao museu – onde, após alguns anos, acabou por desfazer-se.




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