sábado, 20 de abril de 2019

Os pandas



Em certo país sul-americano havia um jardim zoológico bastante diversificado, mas ele tinha apenas um exemplar de panda. Momento cultural: panda é aquele ursinho que os gorilas dizem ser comunista, sabe? O panda que eles tinham lá era um macho. Tanto a direção do zoológico procurou que conseguiu comprar uma panda fêmea.

Eis que, um dia, a panda chegou ao zoológico e puseram os dois ursinhos juntos: o macho e a fêmea. Já deu para perceber que, a essa altura, os dois animais estavam no maior atraso. O encontro dos dois foi um grande acontecimento e ocorreu num dia cheio de fatos interessantes naquele país. Fatos interessantes e, por isso mesmo, corriqueiros.

Nesse dia, descobriram que havia suspeita de votos comprados e vendidos no congresso nacional, surgiram gravações clandestinas e grampos em telefones de altas autoridades do governo, falaram da existência de supostas contas mantidas em paraísos fiscais por algumas autoridades e outras amenidades do gênero. (E teve também uma estatal privatizada a preço de banana podre, mas isso ai já é outra piada.)

Bom, apesar de tudo isso − ou por causa disso mesmo − o que interessava a uma grande emissora de televisão daquele país era mostrar o encontro amoroso do casal de ursinhos. E os cinegrafistas foram lá para o zoológico registrar o grande acasalamento que deveria ocupar pelo menos a metade do tempo do telejornal daquela noite. Eles ficaram na frente da jaula esperando que os ursos dessem as caras. Esperaram, esperaram e nada de os animais aparecerem, pois eles ficavam o tempo todo dentro da grutinha lá no fundo da jaula. E tome espera.

Os cinegrafistas já estavam ficando impacientes com a demora. Lá pelas tantas, foi passando por eles um dos zeladores do zoológico levando um balde cheio de peixes para alimentação dos outros ursos. Foi aí que um dos cinegrafistas teve uma ideia luminosa. Chamou o zelador e perguntou se ele podia jogar alguns peixes lá na jaula dos pandas. Talvez assim o casal saísse e eles aproveitariam a ocasião para filmá-los. O zelador olhou bem para o cinegrafista e falou:

− Me diga uma coisa, moço: se você estivesse lá no lugar deles, você saía, saía? Você vinha comer peixe, vinha?


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