“à moda Miguelão”?
Surgimento do dito
está relacionado ao ex-prefeito de Giruá,
Miguel Szostkiewicz.
Miguel Szostkiewicz.
Esta história tem início no ano
de 1896, quando o padre polonês Miguel Francisco Szostkiewicz foi designado
pela diocese de Porto Alegre
para a cidade de Caxias do Sul.
Lá, foi indicado para trabalhar nos distritos do município, nas colônias. Após
um ano, conheceu e apaixonou-se por uma jovem de família também polonesa,
chamada Helena Rimer Zehanoski. O jovem padre resolveu abandonar a batina para
casar-se com a conterrânea.
Para isso, consultou o bispo de
Caxias do Sul, que, por sua vez, transferiu a questão ao arcebispo da
Arquidiocese Eclesiástica de Porto Alegre, que a encaminhou ao seu superior, o papa.
Transcorrido um ano, veio a autorização papal. Casaram-se. Após um ano, nasceu
um filho, ao qual deram o nome de Miguel Francisco Szostkiewicz Filho. Depois,
o casal Szostkiewicz transferiu-se para Santa Maria
e, mais tarde, para Ivorá.
Posteriormente, mudou-se para Santo Ângelo,
onde Miguel Filho passou a trabalhar em uma firma exportadora de madeira
chamada Scarpelini. Como o distrito de Giruá era grande exportador de madeira,
Miguel passou a morar e a comprar a matéria-prima em Mato Grande , também
distrito de Santo Ângelo. Miguel, uma pessoa cordial, fez amizade em toda a
região noroeste do Estado. Por ser simples e comunicativo, elegeu-se vereador
para a Câmara de Santo Ângelo. Com a emancipação de Giruá, em 1955, na primeira
eleição lá realizada, outra vez elegeu-se vereador.
No segundo pleito, Miguel
candidatou-se a prefeito e venceu. No término de sua gestão, em 1963, concorreu
ao cargo de vereador e, novamente, foi eleito. Provavelmente num fato inédito
na política brasileira, em 1964, Miguel, como vereador em Giruá, foi convidado
a candidatar-se a prefeito do recém-emancipado município de Campina das
Missões. E foi eleito! Mas, para essa mesma legislatura, de 1964 a 1968, também se
candidatou a deputado estadual, ficando como suplente. Miguel não respeitava
protocolos e, inquieto, não era de esperar muito tempo quando se tratava de
trabalho.
Em certa ocasião, na sala de
espera do Palácio Piratini, aguardava para falar com o governador Ildo
Meneghetti. Miguel já estava nervoso pela demora. Quando surgiu um garçom com
uma bandeja com café, levantou-se, tomou-a das mãos do garçom e entrou no
gabinete do governador. Meneghetti, que conhecia a irreverência do companheiro
de partido, não se preocupou e mandou que ele sentasse. Após despachar com os
secretários, chamou Miguel para conversar. Depois de um bate-papo político,
segundo a lenda, o governador perguntou para Miguel:
“E daí, polaco, como está a zona
por lá?”. Miguel teria respondido: “Olha, governador, andei meio adoentado, por
isso, não tenho ido até lá. Mas me disseram que chegou uma mulher nova, lá de
Cruz Alta”. “Não, polaco, quero saber é da política lá da tua região.”
O titular eleito renunciou e
Miguel também se tornou deputado. Convocado para assumir o cargo, o fez e, no
dia seguinte, renunciou, voltando a Campina das Missões para reassumir a
prefeitura.
Na década de 1980, ou pouco antes
disso, em Capão da
Canoa, havia um quarteirão da Avenida Paraguaçu onde a maioria dos
terrenos era de propriedade de famílias de Giruá. Ali, havia um terreno
desocupado, onde, todas as tardes, uma turma se juntava para bater bola. Entre
esses “atletas” figurava o jornalista e comentarista esportivo Lauro Quadros.
O grupo de Giruá formava duas
equipes. Quando estava perdendo, reclamava: “A nossa defesa está furada, os
adversários entram à moda Miguelão, quando querem!”. Lauro Quadros, o
comentarista que garimpava ditos populares para aproveitar em suas locuções, de
tanto ouvir aquela expressão, perguntou o que ela queria dizer. Afinal, do que
se tratava?
Dadas as devidas explicações,
Lauro, que criou inúmeros bordões no rádio gaúcho, como a alusão que fazia à
“gangorra” da dupla Gre-Nal, passou também a usá-la em seus comentários
esportivos.
Muitos gaúchos que utilizam a
expressão e sabem, intuitivamente, o que ela significa talvez estejam tomando
conhecimento só agora da história que está em sua origem.
Colaboração enviada
por Luiz Carlos Mello.
(Do Almanaque Gaúcho
de Zero Hora, junho de 2018)
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