segunda-feira, 29 de abril de 2019

O Conselheiro Acácio



O Conselheiro Acácio por Arnaldo Ressano-1945

→ Conselheiro hipócrita e enfatuado, ridículo e convencido. É o símbolo do convencionalismo e da respeitabilidade burguesa. Representa o constitucionalismo e o formalismo oficial.

→ Natural de Lisboa, ex-director geral, fora nomeado conselheiro por carta régia.

→ Os seus gestos eram sempre medidos. Crítico severo e autor. Não tinha família e habitava o 3º andar da Rua do Ferragial. Vivia amantizado com uma criada.

→ Ocupava-se da economia política e era cavaleiro da Ordem de Santiago.

→ Fisicamente, era alto, magro, de rosto comprido, afilado e calvo, vestia-se habitualmente de preto, “com o pescoço entalado num colarinho direito”.

Descrição de Eça de Queirós no livro “O Primo Basílio”

Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o bigode: tinha-o grisalho, farto, caído aos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio.

Fora, outrora, diretor-geral do Ministério do Reino, e sempre que dizia “El-rei!” erguia-se um pouco na cadeira. Os seus gestos eram medidos, mesmo a tomar rapé. Nunca usava palavras triviais; não dizia vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir. Dizia sempre “o nosso Garrett, o nosso Herculano”. Citava muito. Era autor. E sem família, num terceiro andar da Rua do Ferregial, amancebado com a criada, ocupava-se de economia política: tinha composto os Elementos genéricos da ciência da riqueza e a sua distribuição, segundo os melhores autores, e como subtítulo: Leituras do serão! Havia apenas meses publicara a Relação de todos os ministros de Estado desde o grande Marquês de Pombal até nossos dias, com datas cuidadosamente averiguadas de seus nascimentos e óbitos.

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→ Conselheiro Acácio é uma das personagens da obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Esta figura fictícia tornou-se célebre como representação da convencionalidade e mediocridades dos políticos e burocratas portugueses dos finais do século XIX, sendo até à atualidade utilizada para designar a pompa balofa e a postura de pseudo-intelectualidade utilizada por muitas das figuras públicas portuguesas. Deu origem ao termo acaciano, designação utilizada para tais figuras ou para os seus ditos.


Conselheiro Acácio por Bernardo Marques

 Vocábulos Literários

Acaciano → deriva do ridículo Conselheiro Acácio, personagem do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós. Embora a figura do Conselheiro seja vista como uma crítica ao moralismo hipócrita e ao apego às meras aparências sociais, o termo imortalizou outra faceta da personagem: o hábito de proferir, com toda a pompa e solenidade, frases absolutamente ocas e triviais. Por isso, “frases acacianas” ou “verdades acacianas” servem para criticar a banalidade ou o absurdo de qualquer afirmação. Um bom exemplo é a frase “em futebol, ou se ganha, ou se perde, ou se empata”, dita em tom sério e solene.

(Prof. Cláudio Moreno)


“O Primo Basílio” faz parte da segunda fase da obra de Eça de Queirós, iniciada com a publicação de “O crime do Padre Amaro”. O objetivo central do autor nessa fase foi destruir a burguesia através de críticas mordazes e da ironia corrosiva que marcou seu estilo, daí as sátiras destrutivas à sociedade portuguesa. Foi também a forma encontrada para levar avante os objetivos da geração realista portuguesa, que se pretendia socialista.

A crítica de “O Primo Basílio” é contra toda a sociedade lisboeta, marcada pela ociosidade burguesa, a futilidade, a devassidão, a imoralidade, a hipocrisia social, a superficialidade nos relacionamentos, a falsidade e a arrogância que o dinheiro parece criar em certos indivíduos.

 “O Primo Basílio” procura atacar a mediocridade burguesa, representada de maneira às vezes caricatural em Jorge e Luísa, através de um episódio doméstico, inspirado em “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, e em “Eugênia Grandet”, de Honoré de Balzac. O casal estampa, por assim dizer, essa sociedade aparentemente tranquila, mas que oculta em seus subterrâneos, imoralidades mantidas secretas para o grande público: desejos sexuais inconfessáveis, relacionamentos amorosos vulgares, ambições pessoais indisfarçáveis e um culto zeloso da aparência, que nem sempre conseguem sufocar o ranço de decadência e ascensão social forçada.

(Do Blog Travessia Poética)



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