sexta-feira, 26 de abril de 2019

Delfina Cunha, primeira poetisa cega.



1791 – Nasce na estância do Pontal (São José do Norte) a poetisa Delfina Benigna Cunha. Conforme João Pinto da Silva escreveu nas duas edições de sua 'História Literária do Rio Grande do Sul' (1924 e 1930): 'Cronologicamente, o primeiro livro rio-grandense que se publicou foi, talvez, o da poetisa Delfina da Cunha, a cega, datado de 1834'. Segundo afirmou o pesquisador Guilhermino César, peremptoriamente: 'Essa pobre mulher é a primeira figura literária de alguma importância que surge nestas paragens'. E é seu, do mesmo modo, o primeiro livro de versos que se publicou em prelos rio-grandenses. Perdendo a visão aos 20 meses de idade, acometida de varíola, Delfina se defrontou com um mundo de escuridão completa. Todavia, sua intensa luz interior lhe escancarou as portas do universo por meio do lirismo romântico de suas rimas. A par do conteúdo psicológico sombrio que matiza uma inspiração dolorida, a obra de Delfina constitui-se num marco histórico de especial relevo nas letras rio-grandenses. Delfina faleceu no Rio de Janeiro, a 13 de abril de 1857, amparada pelos favores da magnanimidade imperial.

SONETO

Vinte vezes a lua prateada
Inteira o rosto seu mostrado havia,
Quando um terrível mal, que então sofria,
Me tornou para sempre desgraçada.

De ver o céu e o sol sendo privada,
Cresceu a par comigo a mágoa ímpia;
Desde a infância a mortal melancolia
Se viu em meu semblante debuxada.

Sensível coração deu-me a natura,
E a fortuna, cruel sempre comigo,
Me negou toda a sorte de ventura;

Nem sequer um prazer breve consigo:
Só para terminar minha amargura
Me aguarda o triste, sepulcral jazigo.

Extraído de “Sonetos Brasileiros Século XVII – XX”. 
Coletânea organizada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia.- 1913


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