1791 – Nasce na estância do Pontal
(São José do Norte) a poetisa Delfina Benigna Cunha. Conforme João Pinto da
Silva escreveu nas duas edições de sua 'História Literária do Rio Grande do Sul'
(1924 e 1930): 'Cronologicamente, o primeiro livro rio-grandense que se
publicou foi, talvez, o da poetisa Delfina da Cunha, a cega, datado de 1834'.
Segundo afirmou o pesquisador Guilhermino César, peremptoriamente: 'Essa pobre
mulher é a primeira figura literária de alguma importância que surge nestas
paragens'. E é seu, do mesmo modo, o primeiro livro de versos que se publicou
em prelos rio-grandenses. Perdendo a visão aos 20 meses de idade, acometida de
varíola, Delfina se defrontou com um mundo de escuridão completa. Todavia, sua
intensa luz interior lhe escancarou as portas do universo por meio do lirismo
romântico de suas rimas. A par do conteúdo psicológico sombrio que matiza uma
inspiração dolorida, a obra de Delfina constitui-se num marco histórico de
especial relevo nas letras rio-grandenses. Delfina faleceu no Rio de Janeiro, a
13 de abril de 1857, amparada pelos favores da magnanimidade imperial.
SONETO
Vinte vezes a lua prateada
Inteira o rosto seu mostrado
havia,
Quando um terrível mal, que
então sofria,
Me tornou para sempre
desgraçada.
De ver o céu e o sol sendo
privada,
Cresceu a par comigo a mágoa
ímpia;
Desde a infância a mortal
melancolia
Se viu em meu semblante
debuxada.
Sensível coração deu-me a
natura,
E a fortuna, cruel sempre
comigo,
Me negou toda a sorte de ventura;
Nem sequer um prazer breve
consigo:
Só para terminar minha amargura
Me aguarda o triste, sepulcral
jazigo.
Extraído de “Sonetos Brasileiros
Século XVII – XX”.
Coletânea organizada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia.- 1913
Coletânea organizada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia.- 1913
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