sexta-feira, 12 de abril de 2019

Histórias de Literatos

O cão ator


Ariano Suassuna (1927-2014), foto acima, é quem conta a seguinte história. Ele estava dirigindo uma peça teatral num palco ao ar livre. A peça era uma tragédia grega: Édipo Rei, de Sófocles. Há um diálogo dramático entre Creonte e Tirésias, um em cada lado do palco. Um cachorro de rua sentou-se exatamente entre os dois atores. Na fala de cada um dos personagens, o cachorro sempre acompanhava quem estava com a palavra. Ora olhava para um, ora olhava para outro. Comentário de uma senhora na plateia:

- Que sacada inteligente essa de colocarem um cão no espetáculo!

A vingança de José Lins do Rego


José Lins do Rego (1901 – 1957), foto acima, estava morrendo de cirrose hepática devido à esquistossomose adquirida ainda na infância. Ao seu lado, estava sempre o amigo e poeta amazonense Thiago de Mello (1926). Thiago lia antes os jornais, procurando deixar de lado as notícias que falavam da saúde do escritor paraibano, pois José Lins pedia ao amigo que lesse, em voz alta, o noticiário do dia. Uma reportagem falava de uma menina que fora roubar um litro de leite em garrafa colocado no segundo andar de um edifício. Ao pegar a garrafa, abriu-se a porta e uma senhora (Dona Risoleta) agarrou a garota e a prendeu dentro do apartamento para chamar a polícia. Vendo-se encurralada, a menina se jogou pela janela, encontrando-se hospitalizada. 

José Lins diz ao amigo poeta:

- Isso não vai ficar assim. Vamos preparar uma vingança.

Ele, então, escreve numa folha o diálogo que o amigo deveria travar com Dona Risoleta. Depois de muito ensaio, o poeta telefonou para a senhora:

- É da casa da Dona Risoleta?

- Sim, que é?

- Aqui quem fala é um grande admirador seu. Quero parabenizá-la pelo que a senhora fez. A senhora terá sempre todo o meu apoio.

- Obrigada pela gentileza, mas quem está falando?

- Aqui quem fala é Satanás, sua desgraçada!

No quarto, moribundo, José Lins do Rego gargalhou gostosamente.

Nesse dia, Thiago de Mello (1926), foto abaixo, ouvindo o amigo rir, chorou de felicidade.



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