Bastos Tigre
Meu
noivo era um rapazinho
Chamado
Pedro − Pedrinho −
E
chofer de profissão;
Bonito,
meigo, elegante,
Falou-me
e no mesmo instante
Conquistou
meu coração.
Quando
passava lá em casa,
Eu
tinha as faces em brasa,
Ao
vê-lo no auto vermelho.
Mamãe
conselhos me dava...
Quem
ama como eu amava
Quer
lá saber de conselho?
Certa
vez parou na esquina
E
eu escutei a buzina
Do
seu auto a fonfonar...
Saltou,
chegou-se à janela...
Fiquei
vermelha e amarela,
Fiquei
fria e a transpirar!
Pediu
perdão da ousadia,
Disse
que já não podia
Resistir
ao meu feitiço...
Pegou-me
a mão em segredo;
Puxei-a
e disse com medo:
−
Seu Pedro, não faça isso!
No
dia seguinte veio
E
eu, venturosa, esperei-o
No
portão lá do cortiço.
Era
escura... era de noite...
Quis
beijar-me... − Não se afoite
Seu
Pedro, não faça isso!
E
ele voltou no outro dia:
−
Deixa que eu beije, dizia,
Teu
pescocinho roliço...
E
eu... que fazer? já deixava...
Porém,
a rir, protestava:
−
Pedrinho, não faça isso!
Foram-se
os dias passando
E
tantos beijos foi dando,
Que
eu nem reparava nisso...
Uma
vez beijou-me a boca!
Fiquei
tonta, fiquei louca:
− Pedrinho, não faça isso!
Uma
vez, por meu castigo,
Saiu
a passear comigo,
Ao
terminar o serviço.
−
Vou tocar para a Tijuca!...
−
Meus Deus, que ideia maluca!
Pedrinho,
não faça isso!
Fomos.
O auto em disparada,
Devorava
a linda estrada!
De
repente − zás! − um enguiço.
Quem
passasse ali por perto
Me
ouvia dizer por certo:
−
Pedrinho... não faça isso!
O
resto é melhor calar-se.
Mas
de comigo casar-se
Ele
tomou compromisso...
−
Vou comprar-te uma pulseira...
−
Não quero nada! que asneira!
Pedrinho,
não faça isso!
Mas
passaram-se três meses;
Ele
vinha algumas vezes...
Depois,
levou tal sumiço...
Quando
lá em casa voltava,
Eu,
tristonha, suplicava:
−
Pedrinho, não faça isso!
Eu,
com tamanho desgosto,
Perdi
as cores do rosto,
Perdi
dos olhos o viço!
E,
mirando o seu retrato:
−
Pedrinho, não seja ingrato,
Pedrinho,
não faça isso!
Um
dia ele apareceu-me;
Muito
frio um beijo deu-me,
Mas
com um ar espantadiço...
Disse
que estava de viagem...
−
Meu Deus! você tem coragem?
Pedrinho,
não faça isso!
Seu
ofício não dava;
Ia
tentar, explicava,
A
vida de embarcadiço...
E
eu dizia já com asco:
−
Não seja assim tão carrasco!
Pedrinho,
não faça isso!
E
foi-se. Foi-se para o Norte!
Hoje
confesso que é a morte
O
único bem que cobiço.
Talvez
que outra, lá por fora,
Lhe
esteja dizendo agora:
−
Pedrinho, não faça isso!
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