quarta-feira, 3 de março de 2021

Pedrinho

 Bastos Tigre

 

Meu noivo era um rapazinho

Chamado Pedro − Pedrinho −

E chofer de profissão;

Bonito, meigo, elegante,

Falou-me e no mesmo instante

Conquistou meu coração.

 

Quando passava lá em casa,

Eu tinha as faces em brasa,

Ao vê-lo no auto vermelho.

Mamãe conselhos me dava...

Quem ama como eu amava

Quer lá saber de conselho?

 

Certa vez parou na esquina

E eu escutei a buzina

Do seu auto a fonfonar...

Saltou, chegou-se à janela...

Fiquei vermelha e amarela,

Fiquei fria e a transpirar!

 

Pediu perdão da ousadia,

Disse que já não podia

Resistir ao meu feitiço...

Pegou-me a mão em segredo;

Puxei-a e disse com medo:

− Seu Pedro, não faça isso!

 

No dia seguinte veio

E eu, venturosa, esperei-o

No portão lá do cortiço.

Era escura... era de noite...

Quis beijar-me... − Não se afoite

Seu Pedro, não faça isso!

 

E ele voltou no outro dia:

− Deixa que eu beije, dizia,

Teu pescocinho roliço...

E eu... que fazer? já deixava...

Porém, a rir, protestava:

− Pedrinho, não faça isso!

 

Foram-se os dias passando

E tantos beijos foi dando,

Que eu nem reparava nisso...

Uma vez beijou-me a boca!

Fiquei tonta, fiquei louca:

− Pedrinho, não faça isso!

 

Uma vez, por meu castigo,

Saiu a passear comigo,

Ao terminar o serviço.

− Vou tocar para a Tijuca!...

− Meus Deus, que ideia maluca!

Pedrinho, não faça isso!

 

Fomos. O auto em disparada,

Devorava a linda estrada!

De repente − zás! − um enguiço.

Quem passasse ali por perto

Me ouvia dizer por certo:

− Pedrinho... não faça isso!

 

O resto é melhor calar-se.

Mas de comigo casar-se

Ele tomou compromisso...

− Vou comprar-te uma pulseira...

− Não quero nada! que asneira!

Pedrinho, não faça isso!

 

Mas passaram-se três meses;

Ele vinha algumas vezes...

Depois, levou tal sumiço...

Quando lá em casa voltava,

Eu, tristonha, suplicava:

− Pedrinho, não faça isso!

 

Eu, com tamanho desgosto,

Perdi as cores do rosto,

Perdi dos olhos o viço!

E, mirando o seu retrato:

− Pedrinho, não seja ingrato,

Pedrinho, não faça isso!

 

Um dia ele apareceu-me;

Muito frio um beijo deu-me,

Mas com um ar espantadiço...

Disse que estava de viagem...

− Meu Deus! você tem coragem?

Pedrinho, não faça isso!

 

Seu ofício não dava;

Ia tentar, explicava,

A vida de embarcadiço...

E eu dizia já com asco:

− Não seja assim tão carrasco!

Pedrinho, não faça isso!

 

E foi-se. Foi-se para o Norte!

Hoje confesso que é a morte

O único bem que cobiço.

Talvez que outra, lá por fora,

Lhe esteja dizendo agora:

− Pedrinho, não faça isso!


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