Lá ia o trem da Mogiana, soltando aquela fumaceira e faísca. A veia maria-fumaça. E, bem refestelado na segunda classe, um caboclo traçava um cachimbão que empestava o vagão inteiro.
Entre os infelizes obrigados a engolir aquele fedor, estavam duas colegiais regateiras que só vendo. E tinham um luluzinho branco, com uma coleirinha vermelha. Um gracinha de cão.
De repente, aquele caipira resolve dar uma desapertadinha na bexiga. Deixa o cachimbo no aparador da janela e se encaminha para o mictório.
Ah... brilhante ideia teve uma das colegiais regateiras. Exatamente o que você está pensando: passaram a mão naquele cachimbo fedorento e... zássss. Apincharam pela janela do trem.
O caipira volta e começa a procurar seu querido cachimbo. Apalpa daqui, procura dali, e nada. Se acomoda conformado e segue viagem, sem pitar, o que para ele devia ser grande sofrimento.
As regateiras caem na gargalhada e no fuxico. Eis que têm a ideia de passear por outros vagões. E esquecem de levar o tal cãozinho lulu. O caipira, sem cerimônia, pega o dito cujo, abre a janela e, com o trem em movimento, despacha o animalzinho.
Lá vêm então as mocinhas e começam a chamar o lulu:
– Nenê! Nenê! Onde você se meteu?
E começam preocupadas a perguntar aos passageiros se viram o Nenê. O caipira responde calmamente:
– Por acauso é um cachorrinho piquitinho, branquinho, com uma coleirinha vermelhinha no pescoço?
Elas ficam eufóricas:
– É. É esse mesmo! Onde ele está?
– Ele foi percurá o meu cachimbo, dona!
Adaptado de Contando
Causos, de Rolando Boldrin,
(Nova Alexandria, 2001).
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