sexta-feira, 5 de março de 2021

Se acaso você chegasse

 (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins)

Lupicínio Rodrigues: 16.09.1914 a 27.08.1974

Boêmio e conquistador inveterado, Lupicínio Rodrigues várias vezes transformou em samba episódios de sua vida sentimental. Assim, por exemplo, “Se acaso você chegasse” é uma mensagem/sondagem que dirige a um amigo, Heitor Barros, de quem havia tomado a namorada. Lupicínio sabia que agira mal e temia perder o amigo, que muito prezava. Para evitar o rompimento, procurava convencê-lo de que a amizade dos dois era mais importante do que a mulher infiel (“Será que tinha coragem / de trocar a nossa amizade / por ela já lhe abandonou...”), ao mesmo tempo em que lhe comunicava um fato consumado (“eu falo porque essa dona / já mora no meu barraco...”) e de difícil reversão (“de dia me lava a roupa / de noite me beija a boca / e assim nós vamos vivendo de amor”) A verdade é que o poeta queria ficar com a mulher e o amigo, feito que acabou conseguindo, pois Heitor gostou do samba e perdoou a traição. 

Composto em 1936, de improviso, na calçada do Café Colombo, em Porto Alegre, “Se Acaso Você Chegasse” é um dos melhores sambas de todos os tempos. Possui o mérito de ter projetado Lupicínio e Cyro Monteiro, seu intérprete inicial, em 1938.

Se acaso você chegasse 

(Falando com um amigo com as duas mãos no seu ombro, olho no olho...) 

Se acaso você chegasse
No meu chatô e encontrasse
Aquela mulher que você gostou.
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?

Eu falo porque essa dona
Já mora no meu barraco,
À beira de um regato
E de um bosque em flor.
De dia me lava a roupa,
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor.

 (Do livro “A Canção no Tempo”, Vol. 1: 1901 – 1957,

de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello)

 

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