Contos brasileiros
Uma ocasião achavam-se na beira da estrada um macaco e uma cutia e vinha passando na mesma estrada um carro de bois cantando. O macaco disse para a cutia:
− Tira o teu rabo da estrada, senão o carro passa e corta.
Embebido nesta conversa, não reparou o macaco que ele é que corria o maior risco, e veio o carro e passou em riba do rabo dele e cortou. Estava um gato escondido dentro de uma moita, saltou no pedaço do rabo do macaco e correu. Correu também o macaco atrás, pedindo o seu pedaço de rabo. O gato disse:
− Só te dou, se me deres leite.
− Onde tiro leite? − disse o macaco.
Respondeu o gato:
− Pede à vaca.
O macaco foi à vaca e disse:
− Vaca, dá-me leite para dar ao gato, para o gato dar-me o meu rabo.
− Não dou; só se me deres capim! − disse a vaca.
− Donde tiro capim?
− Pede à velha.
− Velha, dá-me capim, para eu dar à vaca, para a vaca dar-me leite, o leite para o gato me dar o meu rabo.
− Não dou; só se me deres uns sapatos.
− Donde tiro sapatos?
− Pede ao sapateiro.
− Sapateiro, dá-me sapatos, para eu dar à velha, para a velha me dar capim, para eu dar à vaca, para a vaca me dar leite, para eu dar ao gato, para o gato me dar o meu rabo.
− Não dou; só se me deres cerda.
− Donde tiro cerda?
− Pede ao porco.
− Porco, dá-me cerda, para eu dar ao sapateiro, para me dar sapatos, para eu dar à velha, para me dar capim, para eu dar à vaca, para me dar leite, para eu dar ao gato, para me dar o meu rabo.
− Não dou; só se me deres chuva.
− Donde tiro chuva?
− Pede às nuvens.
− Nuvens, dai-me chuva, para o porco, para dar-me cerda para o sapateiro, para dar-me sapatos para dar à velha, para me dar capim para dar à vaca, para dar-me leite para dar ao gato, para dar meu rabo…
− Não dou; só se me deres fogo.
− Donde tiro fogo?
− Pede às pedras.
− Pedras, dai-me fogo, para as nuvens, para a chuva para o porco, para cerda para o sapateiro, para sapatos para a velha, para capim para a vaca, para leite para o gato, para me dar meu rabo.
− Não dou; só se me deres rios.
− Donde tiro rios?
− Pede às fontes.
− Fontes, dai-me rios, os rios ser para as pedras, as pedras me dar fogo, o fogo ser para as nuvens, as nuvens me dar chuvas, as chuvas ser para o porco, o porco me dar cerda, a cerda ser para o sapateiro, o sapateiro fazer os sapatos, os sapatos ser para a velha, a velha me dar capim, o capim ser para a vaca, a vaca me dar o leite, o leite ser para o gato, o gato me dar meu rabo.
Alcançou o macaco todos os seus pedidos. O gato bebeu o leite, entregou o rabo. O macaco não quis mais, porque o rabo estava podre.
(Versão de Pernambuco, coletada por Sílvio Romero)
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