Quando foi proclamada a República, Paula Nei, cheio dos paus*, estava na sacada do jornal Gazeta de Notícias, junto com outras personalidades. Do povo aglomerado embaixo, começaram os apelos: “Fala Nei, fala Nei”. Cambaleando, Paula Nei avança para pronunciar o discurso, tropeça e é amparado por um oficial do Exército. Profético, anuncia: “Concidadãos! O povo amparado pelo Exército: eis a República”.
*Embriagado
(Em Cabeças-chatas, de Leonardo Mota)
Na aula de Química, o professor pergunta:
– Conhece alguma aplicação da água, senhor Paula Nei.
– Dizem que serve para beber.
De
uma feita, ao cabo de libações com os colegas, Paula Nei abandonou-os, mas,
sentou-se exausto, num vão de porta, à Rua Gonçalves Dias. Um amigo passou,
sacudiu-o:
–
Que fazes aqui, Paula Nei.
– Espero o bonde.
– Mas aqui não passa bonde.
– Você sabe lá o futuro?…
O
incorrigível e adorável boêmio Paula Nei entrou num restaurante barato. Pediu a
lista. Dando-lha, o caixeiro postara-se-lhe ao lado. E Nei, calado.
– O que vai?
– Traga-me uns erros de ortografia.
–
Cá não há disso, meu senhor.
– Mas a carta está cheia deles…
Estava
Paula Nei parado numa esquina da Rua do Ouvidor, quando um cavalheiro seu
conhecido aproximou-se esbaforido, e indagou-lhe:
–
Ó Nei! Você não viu passar por aqui agora mesmo, um rapazote, gordote, baixote,
morenote?…
E
o Paula Nei:
– Não vióte!
Na
Escola de Medicina, o aluno Paula Nei era arguido pelo lente de obstetrícia,
apresentando-lhe todas as dificuldades que podem surgir num parto complicado.
Enquanto pode, Paula Nei foi resolvendo: faria isto, faria aquilo, etc… Veio,
porém um caso tão intrincado que, não sabendo mais o que dizer, ele respondeu:
– Num caso desses, eu mandava, a toda pressa, chamar V. Exª…
Guimarães
Passos e Paula Nei estavam com fome, e este saiu para comprar algo de comer.
Voltou com uma garrafa de pinga e um pãozinho menor que a mão. E o Guima reclamou:
– Nei, para que tanto pão?
Época de provas. Como sempre a sala cheia, e galerias também, pois quando Paula Nei ia fazer provas ninguém queria perder o espetáculo, pois sabia-se que ia sair alguma “blague”.
− O professor, o Visconde de Saboia, chamou Paula Nei, e mandou que ele retirasse o ponto, a fim de que ele dissertasse sobre a matéria. Paula Nei levantou-se, foi na banca examinadora e retirou o ponto. Abriu-o e viu logo que estava fraquíssimo naquela matéria. Verbo fácil, invejável dicção, começou:
− “Nos mares procelosos da ciência humana, às vezes as mais lúcidas inteligências se debatem e vão ao fundo...”
Aí, o Visconde de Saboia, interrompeu-o e perguntou-lhe:
− Senhor Paula Nei, já que o Senhor quer fazer dissertação literária extra-ponto, diga-me uma coisa, e faça-me o favor de dizer o que seria da ignorância se a inteligência naufraga?
Rápido como um relâmpago, Pauta Nei, fulminou o professor com essa resposta à queima roupa:
− ESSA BOIA, senhor Visconde!
O
professor, Visconde de Saboia, deu-lhe um tremendo 0, e mandou-o retirar-se da
sala, enquanto explodia pela sala uma tremenda gargalhada de todos os
presentes...
Francisco de Paula Nei foi poeta e jornalista brasileiro. Nasceu no Estado do Ceará, na cidade de Aracati, a 2 de fevereiro de 1858. Publicou com Coelho Netto e Pardal Mallet − o “Meio social, político, literário e artístico” em 1889. Ele marcou a boêmia do Rio de Janeiro da belle époque. Era amigo de Aluísio Azevedo, Coelho neto, Olavo Bilac e José do Patrocínio. Faleceu no Rio de Janeiro a 13 de outubro de 1897.
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