sexta-feira, 19 de março de 2021

A Flor

 A. F. de Castilho

Despontou o botão! cresceu! entreabriu! corou! desapertou-se! desdobrou-se de todo − eis a flor! Nunca a planta pareceu tão maravilhosa! sobretudo, nunca se mostrou assim amável! As cores, o cheiro, as formas encantadoras desta efêmera(1) maravilha, apelidada flor, namoram até aos espíritos mais rústicos, mais ignorantes ou menos reflexivos. O camponês se detém para a considerar; o menino que ainda não fala, a pede por acenos; a formosa a cobiça, para se alindar; mil insetos e vermes folgam de se ir embalar nela aos zéfiro(2), a ave a espreita do seu ninho; a abelha lhe vai pedir mel; os olhos do velho, uma saudade; o pintor se apressa de a retratar; a floreira de a esculpir; o destilador de lhe recolher o espírito em cristais; o sábio de a descrever, estudá-la, enquanto o poeta lhe deve e lhe consagra um canto íntimo; e o religioso extrai dela uma das suas orações mais fervorosas. 

(1) Efêmera: passageira. 

(2) Zéfiro: brisa, vento brando e agradável. 

Do livro “Seleta em Prosa e Verso”, de Alfredo Clemente Pinto

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