Nova biografia revela que o estadista romano se
depilava,
gostava de lançar moda e passou a vida sendo chamado
de gay
Ivan Claudio
Colosso
César
admirava o macedônio Alexandre, o Grande,
e teve uma convulsão diante de sua estátua.
e teve uma convulsão diante de sua estátua.
Até tu, César? Essa
pergunta atravessa por inteiro “César – a Vida de um Soberano” (Record),
alentada biografia do mais admirado ou odiado estadista romano, assinada pelo
historiador inglês Adrian Goldsworthy. O homem que inspirou Napoleão Bonaparte
e cujo nome passou a ser sinônimo de poder – deu origem às palavras kaiser e
czar – gostava de se depilar. Ele também tinha mania de lançar moda. “Em vez da
túnica de mangas curtas, que era branca com listras púrpuras, usava sua própria
versão não convencional, com mangas longas que chegavam abaixo dos punhos e
terminavam em uma franja”, escreve o autor, que se ampara em textos de Cícero,
Suetônio e Plutarco, entre outros, para traçar o seu perfil do general cujos
domínios não tiveram par na face da Terra.
Goldsworthy é especialista
em guerras, mas tem suficiente veneno para mirar o flanco dos detalhes pitorescos. Gaius
Julius Caesar (cerca de 100 a .C.
– 44 a .C.)
era ambicioso, sagaz, estrategista, mas também de uma vaidade desmesurada. Esse
traço já aparece na juventude, quando alardeava que sua linhagem vinha de
Rômulo e Remo e ia até a deusa Vênus. Como para os romanos um bom comandante
deveria impor a autoridade, desde o manuseio das armas e montaria, ele não se
intimidava: mirava o horizonte cavalgando com os braços cruzados para trás e
guiava o trote do cavalo apenas com os joelhos. Da vaidade imberbe ao
temperamento explosivo da maturidade, bastava uma taça de vinho, vício que
passou a cultivar para embriagar à noite os oficiais e assim não cair em
emboscada.
Uma cena rápida: antes mesmo de se
tornar cônsul (aos 41 anos), César agarra pela barbicha o filho de um rei que
ousou tentar a independência de Roma. Apesar de elegante e sofisticado (lia os
clássicos, aprendeu oratória e escrevia esplendidamente), ele sempre perdia os
modos nos momentos de fúria que podiam terminar em ataques epilépticos. E isso
desde moço. Na volta de uma de suas viagens de formação, aos 25 anos, César foi
feito prisioneiro por piratas.
Os bucaneiros pediram 20 talentos de
prata de resgate e receberam a resposta petulante: “peçam mais, valho 50” . Enquanto esperava a
chegada do dinheiro, César declamava poesias e discursos, ouvidos com desdém
pelos piratas, “bárbaros analfabetos”, segundo ele. Ao ser liberto, jurou
crucificá-los.
E o fez, sem autoridade legal. Por
ter a virtude da piedade, primeiro cortou-lhes a garganta. Sofreriam menos. Daí
para o “Veni, Vidi, Vici” (Vim, Vi, Venci), famosa frase dita após a vitória
mais fácil de sua carreira, a de Zala, foi uma sucessão de conquistas que
preenchem as 700 páginas do livro.
Apesar disso, César era motivo de
chacotas de seus soldados. Durante toda a sua vida pesou sobre ele a fama de
ter sido “fêmea” do rei Nicomedes, episódio acontecido aos 19 anos que lhe
valeu a alcunha de “Rainha de Bitínia”. Golsdworthy aventa a hipótese de que
ele tenha se tornado um grande sedutor de nobres mulheres casadas para apagar
esse episódio da juventude. Sua fama ficou sendo a de “marido de todas as
mulheres e mulher de todos os maridos”. Sobreviveu a Cleópatra, mas outra de
suas conquistas lhe deixaria um rebento incômodo: Servília, mãe de Brutus,
magistrado que deu a última das 23 punhaladas no complô que o matou. Segundo o
autor, César não teria dito “até tu, Brutus” (criação de William Shakespeare),
mas “até tu, filho”.
Ele se
julgava pai do militar.
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