Por que os gaúchos
amarraram os cavalos no obelisco?
Em virtude do maior peso político que
os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças revolucionárias, a
Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto
simbólico que representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos,
chegando ao Rio, amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3
de novembro chegava ao fim a Primeira República e começava um novo período da
história política brasileira, com Getúlio Vargas à frente do Governo
Provisório. Era o início da Era Vargas. Entender o significado desse movimento,
saber se representou uma ruptura ou continuidade na vida nacional, tem sido
objeto de inúmeros livros e artigos escritos desde então.
(Do Blog FGC CPDOC)
Chimangos e maragatos marcham
lado a lado na revolução que derruba o presidente brasileiro Washington Luiz e
colocam no poder Getúlio Vargas. Os gaúchos amarram os cavalos no obelisco da
Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, Capital da República, como símbolo de
sua vitória.
Em 25 de setembro, Vargas e Aranha
decidiram desencadear a revolução no dia 3 de outubro. Segundo o plano adotado,
o movimento deveria irromper simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas e
estados do Nordeste.
A revolução começou em Porto Alegre às cinco
horas da tarde de 3 de outubro, com um ataque bem planejado ao comando da 3ª
RM. Em 20 minutos, o general Gil de Almeida foi feito prisioneiro. Em Belo Horizonte , o
movimento começou ao mesmo tempo, mas no Nordeste, por um equívoco de Juarez
Távora, a revolução irrompeu na madrugada do dia 4. Diz Bóris Fausto: "A
adesão do Exército foi quase imediata no Sul, também se concretizando em Minas
e no Nordeste, apesar de algumas resistências nessas áreas. Apenas em São Paulo delineou-se um
choque decisivo de maiores proporções."
Na madrugada do dia 4, todas as
unidades militares de Porto Alegre já se encontravam sob o controle dos
revolucionários. No interior do estado quase não houve luta. Vargas divulgou,
no mesmo dia 4, um manifesto conclamando o povo gaúcho às armas: "Estamos
diante de uma contra-revolução para readquirir a liberdade, para restaurar a
pureza do regime republicano." Dizia no final: "Rio Grande, de pé,
pelo Brasil! Não poderás falhar ao teu destino heróico." Os gaúchos
atenderam ao apelo com entusiasmo e em poucos dias cerca de 50 mil voluntários
alistaram-se para lutar na insurreição. Em 5 de outubro, as forças gaúchas
partiram em direção a Santa Catarina e ao Paraná. A resistência de
Florianópolis não chegou a ameaçar o êxito da ofensiva. No Paraná, o Exército
se sublevou em apoio à revolução, depondo o governo do estado. Em 11 de
outubro, Vargas passou o governo gaúcho a Osvaldo Aranha e rumou para Ponta
Grossa (PR), onde, ao chegar, dia 17, estabeleceu seu quartel-general e assumiu
o comando das forças revolucionárias em marcha para a capital da República.
Em meados de outubro, a revolução já
era vitoriosa em quase todo o país, restando apenas São Paulo, Rio de Janeiro,
Bahia e Pará sob controle do governo federal. A principal frente de luta
localizava-se na divisa de São Paulo
com o Paraná. Em Itararé (SP), as forças revolucionárias
vindas do Sul viram-se diante de uma das maiores concentrações militares
articuladas pelos governistas. O choque decisivo foi, entretanto evitado pela
intervenção da cúpula militar do Rio de Janeiro: em 24 de outubro, um grupo de
oficiais-generais, liderados por Augusto Tasso Fragoso, exigiu a renúncia de
Washington Luís. Ante a negativa do presidente, os militares determinaram o
cerco do palácio Guanabara e sua prisão.
Washington Luís foi substituído por
uma junta governativa provisória, composta pelo general Tasso Fragoso, seu
chefe, o general João de Deus Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha.
Ainda no dia 24, a
junta organizou um novo ministério, do qual faziam parte, entre outros, o
general José Fernandes
Leite de Castro (Guerra), Isaías de Noronha (Marinha) e Afrânio de Melo Franco
(Relações Exteriores). Com
a situação na capital sob controle, a junta enviou o primeiro
de uma série de telegramas a Vargas, propondo a suspensão total das
hostilidades em todo o país, mas nada adiantando sobre a transferência do poder
aos chefes da revolução. As verdadeiras intenções da junta não eram claras. A
nomeação do ministério e a adoção de medidas legislativas indicavam sua
disposição em permanecer no poder como um fato consumado. A situação tornou-se
ainda mais dúbia com a
designação do general Hastínfilo de Moura, comandante
legalista da 2ª RM, para o cargo de interventor em São Paulo e com as
declarações do novo chefe de polícia no Rio, coronel Bertoldo Klinger,
prometendo reprimir as manifestações públicas na capital em favor dos
revolucionários.
De Ponta Grossa, Vargas comunicou
imediatamente à junta que prosseguiria a luta se não fosse reconhecido como
chefe de um governo provisório. Ao mesmo tempo, ordenou às forças
revolucionárias que prosseguissem seu avanço em direção à capital do país. Em
28 de outubro, o impasse foi finalmente superado, após entendimento firmado por
Aranha e Collor, emissários de Vargas, com o general Tasso Fragoso. Em
proclamação ao país, a junta comunicou a decisão de transmitir o poder a
Vargas.
A caminho do Rio, em trem militar, Vargas
passou por São Paulo, onde deixou o "tenente" João Alberto como
"delegado militar da revolução" no estado. Em 31 de outubro,
precedido por três mil soldados gaúchos, desembarcou no Rio, de uniforme
militar e com um grande chapéu gaúcho, sendo recebido com uma manifestação
apoteótica de apoio. Finalmente, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas tomou
posse como chefe do Governo Provisório. Os soldados gaúchos fizeram então o que
ficaria registrado na crônica como o gesto simbólico da vitória: amarraram seus
cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio.
Gaúchos no Obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro.
Getúlio Vargas e seu Estado-Maior-1930
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