segunda-feira, 27 de junho de 2016

Revolução de 30

Por que os gaúchos amarraram os cavalos no obelisco?


Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República e começava um novo período da história política brasileira, com Getúlio Vargas à frente do Governo Provisório. Era o início da Era Vargas. Entender o significado desse movimento, saber se representou uma ruptura ou continuidade na vida nacional, tem sido objeto de inúmeros livros e artigos escritos desde então.

(Do Blog FGC CPDOC)

Chimangos e maragatos marcham lado a lado na revolução que derruba o presidente brasileiro Washington Luiz e colocam no poder Getúlio Vargas. Os gaúchos amarram os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, Capital da República, como símbolo de sua vitória.

Em 25 de setembro, Vargas e Aranha decidiram desencadear a revolução no dia 3 de outubro. Segundo o plano adotado, o movimento deveria irromper simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas e estados do Nordeste. 

A revolução começou em Porto Alegre às cinco horas da tarde de 3 de outubro, com um ataque bem planejado ao comando da 3ª RM. Em 20 minutos, o general Gil de Almeida foi feito prisioneiro. Em Belo Horizonte, o movimento começou ao mesmo tempo, mas no Nordeste, por um equívoco de Juarez Távora, a revolução irrompeu na madrugada do dia 4. Diz Bóris Fausto: "A adesão do Exército foi quase imediata no Sul, também se concretizando em Minas e no Nordeste, apesar de algumas resistências nessas áreas. Apenas em São Paulo delineou-se um choque decisivo de maiores proporções."

Na madrugada do dia 4, todas as unidades militares de Porto Alegre já se encontravam sob o controle dos revolucionários. No interior do estado quase não houve luta. Vargas divulgou, no mesmo dia 4, um manifesto conclamando o povo gaúcho às armas: "Estamos diante de uma contra-revolução para readquirir a liberdade, para restaurar a pureza do regime republicano." Dizia no final: "Rio Grande, de pé, pelo Brasil! Não poderás falhar ao teu destino heróico." Os gaúchos atenderam ao apelo com entusiasmo e em poucos dias cerca de 50 mil voluntários alistaram-se para lutar na insurreição. Em 5 de outubro, as forças gaúchas partiram em direção a Santa Catarina e ao Paraná. A resistência de Florianópolis não chegou a ameaçar o êxito da ofensiva. No Paraná, o Exército se sublevou em apoio à revolução, depondo o governo do estado. Em 11 de outubro, Vargas passou o governo gaúcho a Osvaldo Aranha e rumou para Ponta Grossa (PR), onde, ao chegar, dia 17, estabeleceu seu quartel-general e assumiu o comando das forças revolucionárias em marcha para a capital da República.

Em meados de outubro, a revolução já era vitoriosa em quase todo o país, restando apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pará sob controle do governo federal. A principal frente de luta localizava-se na divisa de São Paulo com o Paraná. Em Itararé (SP), as forças revolucionárias vindas do Sul viram-se diante de uma das maiores concentrações militares articuladas pelos governistas. O choque decisivo foi, entretanto evitado pela intervenção da cúpula militar do Rio de Janeiro: em 24 de outubro, um grupo de oficiais-generais, liderados por Augusto Tasso Fragoso, exigiu a renúncia de Washington Luís. Ante a negativa do presidente, os militares determinaram o cerco do palácio Guanabara e sua prisão.

Washington Luís foi substituído por uma junta governativa provisória, composta pelo general Tasso Fragoso, seu chefe, o general João de Deus Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha. Ainda no dia 24, a junta organizou um novo ministério, do qual faziam parte, entre outros, o general José Fernandes Leite de Castro (Guerra), Isaías de Noronha (Marinha) e Afrânio de Melo Franco (Relações Exteriores). Com a situação na capital sob controle, a junta enviou o primeiro de uma série de telegramas a Vargas, propondo a suspensão total das hostilidades em todo o país, mas nada adiantando sobre a transferência do poder aos chefes da revolução. As verdadeiras intenções da junta não eram claras. A nomeação do ministério e a adoção de medidas legislativas indicavam sua disposição em permanecer no poder como um fato consumado. A situação tornou-se ainda mais dúbia com a designação do general Hastínfilo de Moura, comandante legalista da 2ª RM, para o cargo de interventor em São Paulo e com as declarações do novo chefe de polícia no Rio, coronel Bertoldo Klinger, prometendo reprimir as manifestações públicas na capital em favor dos revolucionários.

De Ponta Grossa, Vargas comunicou imediatamente à junta que prosseguiria a luta se não fosse reconhecido como chefe de um governo provisório. Ao mesmo tempo, ordenou às forças revolucionárias que prosseguissem seu avanço em direção à capital do país. Em 28 de outubro, o impasse foi finalmente superado, após entendimento firmado por Aranha e Collor, emissários de Vargas, com o general Tasso Fragoso. Em proclamação ao país, a junta comunicou a decisão de transmitir o poder a Vargas.

A caminho do Rio, em trem militar, Vargas passou por São Paulo, onde deixou o "tenente" João Alberto como "delegado militar da revolução" no estado. Em 31 de outubro, precedido por três mil soldados gaúchos, desembarcou no Rio, de uniforme militar e com um grande chapéu gaúcho, sendo recebido com uma manifestação apoteótica de apoio. Finalmente, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas tomou posse como chefe do Governo Provisório. Os soldados gaúchos fizeram então o que ficaria registrado na crônica como o gesto simbólico da vitória: amarraram seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio.


Gaúchos no Obelisco da  Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro.




Getúlio Vargas e seu Estado-Maior-1930







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