Nestor de Holanda
O mais honesto pedinte que encontrei
estava, uma noite, na Cinelândia. Ele se aproximou cambaleante de nosso grupo –
eu, Jaime Costa, Frazão, Delorges Caminha, Silva Filho, André Villon, Fernando
Costa, Armando Rosas, Arlindo Costa, Santos Garcia e outros – e pediu:
- Dai uma esmola a um pobre
bêbedo, pelo amor de Deus!...
Outro, igualmente sincero, foi visto pelo Governador Eraldo Gueiros, recentemente, no interior de Pernambuco. Havia muitos anos que o mendigo posava de cego, nas feiras. Um dia, surgiu de aleijado. Perguntaram-lhe:
Outro, igualmente sincero, foi visto pelo Governador Eraldo Gueiros, recentemente, no interior de Pernambuco. Havia muitos anos que o mendigo posava de cego, nas feiras. Um dia, surgiu de aleijado. Perguntaram-lhe:
-
Desistiu de ser cego, Zé?
- Desisti.
- Por quê?
- Porque me passavam muito
dinheiro falso...
O comum dos que pedem na via pública,
porém, é a insinceridade. Quando Joraci Camargo escreveu Deus lhe Pague, com o falso mendigo, filósofo e milionário,
discutiram a realidade do tema. Entretanto, nada mais verossímil. Hoje, no Rio
de Janeiro, a mendicância é comércio dos mais rendosos...
Ainda há dias, um motorista de praça
me contou a história de uma dona que, todas as manhãs, vem pra cidade de táxi. Num
quarto que alugou, veste o “uniforme de trabalho”. Pede esmola até a noite, e,
depois, de tornar a meter o paisano, toma outro táxi, para regressar a casa.
Ganha, em média, 100 cruzeiros por dia. Trabalhando cinco dias por semana
(Porque ela faz “semana inglesa”...), fatura cerca de 2 mil cruzeiros por mês.
Quase 12 salários mínimos...
Muitas alugam crianças e surgem, ante
a caridade pública, caracterizadas de mãe infeliz. Há um mendigo na cidade,
segundo me informaram, que mantém amante de luxo, em apartamento da Zona Sul,
tal qual o personagem que Procópio criou, na famosa comédia de Joraci Camargo.
E é fato corriqueiro a polícia descobrir que muitos têm conta no banco e são
até proprietários de imóveis...
Por essas e outras, vi (e contei
aqui) quando um pedinte, logo cedo, estendia o jornal velho num canto de
calçada, perto do edifício do Ministério da Fazenda, para instalar-se. E um
popular que passava:
- Está
abrindo seu banquinho, hein?!...
Enfim, os fatos mostram que a
situação está de tal maneira que não se pode confiar nos mendigos, porque, como
o uísque, nunca se sabe quando são legítimos ou falsificados...
x.x.x.
Nestor de Holanda (Nestor de
Hollanda Cavalcanti Neto) nasceu a 1º de dezembro de 1921, em Vitória de Santo
Antão, Pernambuco e faleceu em 14 de novembro de 1970, no Rio de Janeiro.
Jornalista e escritor, tendo
trabalhado em diversos jornais, rádios e televisões brasileiras. Pernambuco:
tendo trabalhado na Gazeta do Recife, Jornal Pequeno, Jornal do Comércio e
Diário da Manhã. É dessa época, a comédia-histórica Nassau, transmitida pela
Rádio Clube de Pernambuco.
Trabalhou também como compositor de
música popular, em parceria com Levino Ferreira, Ernani Reis, Nelson Ferreira e
João Valença.
No Rio de Janeiro foi redator de A
Cena Muda, Revista da Semana, Brasilidade, Vida, Deca, e das rádios Vera Cruz,
Transmissora e Educadora.
Após a Guerra, trabalhou nos jornais: Folha
Carioca, Democracia, O Imparcial, A Noite, Folha do Rio, Shopping News, Diário
Carioca, Última Hora e Diário de Notícias; nas revistas:
Manchete, A Noite Ilustrada, Carioca. nas estações de Rádio: Clube Fluminense,
Cruzeiro do Sul, Clube do Brasil, Globo, Nacional e Ministério da Educação e
Cultura. Nas emissoras de televisão: Continental, Excelsior, Rio.
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