sábado, 25 de junho de 2016

Uma Figura mítica do Rio de Janeiro

Natal da Portela


Natalino José do Nascimento, o seu Natal da Portela, nasceu na cidade de Queluz, no interior paulista e ainda criança mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Desde a juventude, Natalino sempre teve uma forte atuação na quadra da escola, uma vez que a agremiação fora fundada na casa de seu pai.

Ainda jovem, Natalino começou a trabalhar na Central do Brasil, onde mais tarde ocorreria o mais grave acidente de sua vida - Natalino teve o braço direito amputado. Mas, a ausência do braço direito não deixou Natal incapacitado de atuar na sua escola de coração. Mesmo sem compor um único samba de enredo, Natal transformou-se em bicheiro e passou a patrocinar a Portela, tornando-a a primeira escola de samba a ter um bicheiro como patrocinador.

Com o tempo, Natal conquistou respeito e admiração na comunidade e, além disso, passou a representar a escola em todos os lugares onde era requisitado. Sua simpatia e humildade fizeram com que o então ministro das relações exteriores, Negrão de Lima, levasse a agremiação ao Palácio do Itamaraty para se apresentar a Duquesa de Kent em 1959.

Devido a alguns problemas de saúde, Natal veio a falecer em 5 de abril de 1975, deixando três filhos e vários fãs, além da escola de samba que ajudou a divulgar. Após sua morte, a agremiação decidiu elegê-lo presidente de honra da Portela em homenagem póstuma.

Natalino José do Nascimento, o Natal e a Portela.


A história da Portela está intimamente ligada à vida de Natal, já que foi nos fundos da casa de seu pai, Napoleão, na esquina da Rua Joaquim Teixeira com a estrada do Portela, que foi fundada a escola.

Foi com a morte de Paulo da Portela que Natal resolveu se dedicar à Portela e ajudou a transformá-la na maior de todas as escolas de samba.

Em 1972, Natal começou a construir a atual sede da Portela, o Portelâo.

Natal foi um sambista rei. Rei do samba, do bairro, da cidade. Natal foi um sambista que nunca fez samba, que nunca desenhou um passo, que nunca cantarolou um refrão sequer.

Às vezes, nos perguntamos de onde surgiu tanto respeito, tanto temor, tanto amor e ódio por um homem comum, que andava sempre com seu paletó de pijamas, de chinelos, um cigarro no canto da boca, um chapéu no alto da cabeça e com apenas um braço?

Natal dizia que se tivesse dois braços, seria covardia.

Foi valente pacas. Gostava de um charivari. Sofreu quase quatrocentos processos, foi preso umas noventa vezes, tirou cana quatro vezes na Ilha Grande e uma em Fernando de Noronha. Enfrentou, com um braço só, o lendário matador China Preto, temido pistoleiro do subúrbio nos anos 50. Em certa ocasião, matou um sujeito que quis tomar seus pontos do bicho em Madureira. Pela frente, como mandam as regras da valentia.

Natal só andava de chinelos e paletó de pijama. Era assim, em trajes tremendamente informais, que desfilava pela azul e branca de Oswaldo Cruz. No único ano em que convenceram o malandro a desfilar na beca, de terno e sapatos, creditou ao traje requintado a derrota vergonhosa da Portela.

Foi o retrato de um Rio de Janeiro que nos anos 50, auge do seu poder, fugiu ao estereótipo da cidade cantada pela bossa nova, que então surgia com o objetivo de retirar a África do samba. Muito além do barquinho, do cantinho e do violão, a cidade dos subúrbios, dos pequenos times de futebol, do samba e do jogo do bicho, pulsava nos botequins, terreiros e esquinas de Oswaldo Cruz e Madureira. Ali, longe do mar, Natal foi o rei e a lenda também.

O Homem de um Braço Só

João Nogueira

Com um braço só,
Já fiz o que você não faria,
Acho que era covardia,
Eu ter dois braços também.

Com um braço só,
Eu já dei muito trabalho,
Carteei muito baralho,
Bem melhor do que ninguém.

Com um braço só,
Já dei tapa em vagabundo,
Dei a volta pelo mundo,
Mas também já fiz o bem.

Com um braço só,
Vou viver a vida inteira,
Mandando em Madureira,
E em outras terras também.

Com um braço só,
Eu comando na avenida,
A minha Portela querida,
E que me quer tanto bem.



Nenhum comentário:

Postar um comentário