Este ano promete ser de grandes
debates. Copa do Mundo* e eleições – para ficar nos mais manjados – renderão
milhões de opiniões, que levarão a curtidas, compartilhamentos e,
inevitavelmente, a desentendimentos na caixa de comentários. É verdade que as
redes sociais são a nova praça pública, o bar e a balada ao mesmo tempo. Mas há
razões para sempre nos arrependermos de entrar em discussões no Reino de
Zuckerberg.
A primeira é uma limitação do meio:
textos e fotos não comunicam tudo. Lembre-se de um debate acalorado que você
teve online com uma pessoa que pensa diferente e imagine a mesma discussão
fora, em uma mesa de bar (com ambos ainda sóbrios). Quando estamos de frente
para a pessoa, conseguimos decodificar a mensagem observando outros sinais:
damos espaço para a réplica ao observar sobrancelhas arqueadas e, pelo riso no
canto da boca, sabemos se o que estamos dizendo agrada ou não. No Facebook,
todas essas nuances se perdem, mesmo com os emoticons, emojis e gifs animados.
A mensagem é sempre truncada – basta ver o tanto de gente não entendendo textos
irônicos recentemente.
A segunda questão é o calor dos
holofotes. Quando escrevemos alguma opinião no nosso mural, estamos falando
para centenas de pessoas – alguns amigos próximos, outros conhecidos que não
vemos há anos. Isso traz um primeiro problema, de autocensura: calibramos a
mensagem para não ofender. Mas sempre aparecerá alguém discordando e, de
repente, dois amigos de diferentes círculos – um tio conservador e um amigo de
faculdade bem de esquerda, talvez – acabam discutindo. O que fazer? Separar os
grupos nas configurações é um caminho, mas é trabalhoso e imperfeito. Eu,
quando discordo fortemente da opinião de alguém, mando mensagem particular ou
e-mail. Mesmo que a conversa continue no teclado, aprendi que longe da multidão
somos mais honestos e claros. Não é à toa que tanta gente foge do Facebook e
vai para grupos privados do WhatsApp.
E por último, se uma opinião sua for
mal interpretada ou ofender uma pessoa, o recém-desafeto pode esconder as suas
atualizações do feed de notícias. Aí coisas que você realmente gostaria de
anunciar para todo mundo, como a chegada de um filho, não terão o alcance
desejado. Tudo porque você discordou de maneira mais veemente da convocação de
algum jogador. Então, resista à tentação e pense bem em qual o foro adequado
para cada assunto. Às vezes, a única opção sensata é encontrar os amigos para
conversar ao vivo. E esse bug do Facebook é ótimo.
Pedro Burgos é jornalista, especialista em tecnologia e autor do livro
Conecte-se ao que Importa – Um Manual para a Vida Digital Saudável (Ed. LeYa)
(Foto: Luís Dourado/ Editora Globo)
*Texto de fevereiro de 2014 na
revista Galileu – Editora Globo.
O Facebook parece trocas de "likes", quando estamos à favor de algo somos os legais e quando somos contra a alguma opinião somos ignorantes desconhecedores de tal assunto.
ResponderExcluirCom o aparecimento de cientistas políticos com as últimas notícias do nosso querido Brasil, ficamos imersos a falta de coerência do brasileiro.
Querem exigir política impecável, mas não dão nem bom dia para o porteiro, são a favor somente do que querem ouvir.
Somos eternos aprendizes, onde temos que ter a capacidade de saber lidar com pessoas de diversas culturas e educação.
Muito bem sacado, sua opinião é lógica e coerente.
ExcluirObrigado por opiniar a respeito de um texto de nosso almanaque.
Nilo da Silva Moraes