terça-feira, 21 de junho de 2016

Por que não discuto pelo Facebook



Este ano promete ser de grandes debates. Copa do Mundo* e eleições – para ficar nos mais manjados – renderão milhões de opiniões, que levarão a curtidas, compartilhamentos e, inevitavelmente, a desentendimentos na caixa de comentários. É verdade que as redes sociais são a nova praça pública, o bar e a balada ao mesmo tempo. Mas há razões para sempre nos arrependermos de entrar em discussões no Reino de Zuckerberg.

A primeira é uma limitação do meio: textos e fotos não comunicam tudo. Lembre-se de um debate acalorado que você teve online com uma pessoa que pensa diferente e imagine a mesma discussão fora, em uma mesa de bar (com ambos ainda sóbrios). Quando estamos de frente para a pessoa, conseguimos decodificar a mensagem observando outros sinais: damos espaço para a réplica ao observar sobrancelhas arqueadas e, pelo riso no canto da boca, sabemos se o que estamos dizendo agrada ou não. No Facebook, todas essas nuances se perdem, mesmo com os emoticons, emojis e gifs animados. A mensagem é sempre truncada – basta ver o tanto de gente não entendendo textos irônicos recentemente.

A segunda questão é o calor dos holofotes. Quando escrevemos alguma opinião no nosso mural, estamos falando para centenas de pessoas – alguns amigos próximos, outros conhecidos que não vemos há anos. Isso traz um primeiro problema, de autocensura: calibramos a mensagem para não ofender. Mas sempre aparecerá alguém discordando e, de repente, dois amigos de diferentes círculos – um tio conservador e um amigo de faculdade bem de esquerda, talvez – acabam discutindo. O que fazer? Separar os grupos nas configurações é um caminho, mas é trabalhoso e imperfeito. Eu, quando discordo fortemente da opinião de alguém, mando mensagem particular ou e-mail. Mesmo que a conversa continue no teclado, aprendi que longe da multidão somos mais honestos e claros. Não é à toa que tanta gente foge do Facebook e vai para grupos privados do WhatsApp.

E por último, se uma opinião sua for mal interpretada ou ofender uma pessoa, o recém-desafeto pode esconder as suas atualizações do feed de notícias. Aí coisas que você realmente gostaria de anunciar para todo mundo, como a chegada de um filho, não terão o alcance desejado. Tudo porque você discordou de maneira mais veemente da convocação de algum jogador. Então, resista à tentação e pense bem em qual o foro adequado para cada assunto. Às vezes, a única opção sensata é encontrar os amigos para conversar ao vivo. E esse bug do Facebook é ótimo.

Pedro Burgos é jornalista, especialista em tecnologia e autor do livro Conecte-se ao que Importa – Um Manual para a Vida Digital Saudável (Ed. LeYa) (Foto: Luís Dourado/ Editora Globo)

*Texto de fevereiro de 2014 na revista Galileu – Editora Globo.





2 comentários:

  1. O Facebook parece trocas de "likes", quando estamos à favor de algo somos os legais e quando somos contra a alguma opinião somos ignorantes desconhecedores de tal assunto.
    Com o aparecimento de cientistas políticos com as últimas notícias do nosso querido Brasil, ficamos imersos a falta de coerência do brasileiro.
    Querem exigir política impecável, mas não dão nem bom dia para o porteiro, são a favor somente do que querem ouvir.
    Somos eternos aprendizes, onde temos que ter a capacidade de saber lidar com pessoas de diversas culturas e educação.

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    1. Muito bem sacado, sua opinião é lógica e coerente.
      Obrigado por opiniar a respeito de um texto de nosso almanaque.

      Nilo da Silva Moraes

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