“Estou muito tranquilo. Que venham os
meses e os anos, não conseguirão tirar nada de mim, não podem tirar-me mais
nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo.”
↑
(“Nada de Novo no Front”, Erich Maria Remarque)
Aquela
vida tranquila, as coisas simples de todos os dias. Levantar, ler o jornal
diário, tomar o café da manhã, ir ao cinema, praticar nosso esporte favorito...
onde ficaram essas coisas tão simples de nosso dia-a-dia que não sabíamos que
nos fazia tão feliz.
Apertar
a mão e abraçar um amigo. Encontros de família, beijar o rosto de uma criança,
não, como agora, ver uma pessoa qualquer como se fosse um transmissor de algo
terrível.
Cuidar
onde se está pisando, no que se está tocando, se afastar das pessoas na rua.
Ter medo de tudo e de todos. Não é fácil viver assim...
Ao
assistir noticiários na TV, perceber a desgraça, a dor, a morte, tanto de
doentes como daqueles que estão nos hospitais para salvar as nossas vidas.
Sentir na alma a dor do outro. Temer pelas vidas daqueles que estão salvando
vidas!
O
medo das pessoas da minha idade, que já passaram dos 70 anos, em temer que essa
doença não pode, de maneira nenhuma, nos alcançar, seria quase fatal!
Ver,
em alguns poucos jovens, a consciência de notar que a morte, pela primeira vez
na vida, pode estar muito próxima deles. Notar, também, que para a maioria dos
jovens essa doença é coisa de velhos. Notar a soberba com que eles olham para
nós, os velhos, quando nos veem de máscaras nos supermercados.
Caminho
sozinho pela calçada da minha rua. Há silêncio nas casas. Portas estão
fechadas. As crianças, poucas, que habitam a minha rua, estão trancadas dentro
de casa. Não ouço sons de falas dos moradores, não ouço música, só o silêncio,
o constrangedor silêncio do medo.
Telefono
para um amigo que está de aniversário. Queria tanto dar nele um abraço
fraternal. Nos anos anteriores, estávamos sempre juntos. Fica para outra vez.
Quando? Quem poderá saber...
Recebo
o telefonema de um antigo e querido amigo. Falamos tantas coisas boas da nossa
antiga amizade. Queríamos estar juntos na mesa de um bar, tomar um chope, falar
coisas que vivemos no passado, mas vai ficar para outro dia. Quando? Ninguém,
também, poderá saber...
Hoje
é Páscoa, o dia mais sagrado e importante do catolicismo. Famílias estariam
reunidas numa mesa para celebrar o renascimento daquele que nos salvou e, com
certeza, vai nos salvar dessa desgraça também, se Ele quiser!
*****
P.S.
Hoje, em virtude dessa doença, as famílias se comunicam online, assistem a
missas pelo celular e as comunicações são sempre telefônicas para evitar
contacto físico. Até quando, meu Deus!
Nilo da Silva Moraes
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