domingo, 12 de abril de 2020

Aquela rotina tão boa que nós tínhamos...



“Estou muito tranquilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar nada de mim, não podem tirar-me mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo.”
(“Nada de Novo no Front”, Erich Maria Remarque)

Aquela vida tranquila, as coisas simples de todos os dias. Levantar, ler o jornal diário, tomar o café da manhã, ir ao cinema, praticar nosso esporte favorito... onde ficaram essas coisas tão simples de nosso dia-a-dia que não sabíamos que nos fazia tão feliz.

Apertar a mão e abraçar um amigo. Encontros de família, beijar o rosto de uma criança, não, como agora, ver uma pessoa qualquer como se fosse um transmissor de algo terrível.

Cuidar onde se está pisando, no que se está tocando, se afastar das pessoas na rua. Ter medo de tudo e de todos. Não é fácil viver assim...

Ao assistir noticiários na TV, perceber a desgraça, a dor, a morte, tanto de doentes como daqueles que estão nos hospitais para salvar as nossas vidas. Sentir na alma a dor do outro. Temer pelas vidas daqueles que estão salvando vidas!

O medo das pessoas da minha idade, que já passaram dos 70 anos, em temer que essa doença não pode, de maneira nenhuma, nos alcançar, seria quase fatal!

Ver, em alguns poucos jovens, a consciência de notar que a morte, pela primeira vez na vida, pode estar muito próxima deles. Notar, também, que para a maioria dos jovens essa doença é coisa de velhos. Notar a soberba com que eles olham para nós, os velhos, quando nos veem de máscaras nos supermercados.

Caminho sozinho pela calçada da minha rua. Há silêncio nas casas. Portas estão fechadas. As crianças, poucas, que habitam a minha rua, estão trancadas dentro de casa. Não ouço sons de falas dos moradores, não ouço música, só o silêncio, o constrangedor silêncio do medo.

Telefono para um amigo que está de aniversário. Queria tanto dar nele um abraço fraternal. Nos anos anteriores, estávamos sempre juntos. Fica para outra vez. Quando? Quem poderá saber...

Recebo o telefonema de um antigo e querido amigo. Falamos tantas coisas boas da nossa antiga amizade. Queríamos estar juntos na mesa de um bar, tomar um chope, falar coisas que vivemos no passado, mas vai ficar para outro dia. Quando? Ninguém, também, poderá saber...

Hoje é Páscoa, o dia mais sagrado e importante do catolicismo. Famílias estariam reunidas numa mesa para celebrar o renascimento daquele que nos salvou e, com certeza, vai nos salvar dessa desgraça também, se Ele quiser!

*****

P.S. Hoje, em virtude dessa doença, as famílias se comunicam online, assistem a missas pelo celular e as comunicações são sempre telefônicas para evitar contacto físico. Até quando, meu Deus!

Nilo da Silva Moraes


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