do ex-governador Leonel de Moura Brizola
do Território Brasileiro.
do Território Brasileiro.
Brizola permaneceu quase um mês
na clandestinidade em solo gaúcho, mesmo sendo perseguido, o seu primeiro
refúgio foi numa fazenda situada perto da capital.
Uma semana após, viajou à noite
com a esposa Neusa e os três filhos para Porto alegre, indo para casa de um
amigo situado a rua Eça de Queiroz, no bairro Petrópolis, depois disso, se
refugiou em diversas residências de amigos e políticos.
Brizola se encontrava em Porto Alegre , mas sem
condições de sair do país, pois as buscas, a “caça ao Brizola”, se intensificaram,
tendo a sua residência à rua Tobias da Silva, n° 66, sido invadida e depredada
pelas forças de repressão.
Toda a informação dava conta que
os militares o prenderiam. Não havia outra alternativa senão o exílio, afirmava
Brizola, pediu, então, aos seus amigos que levassem Neusa e os filhos para
Montevidéu.
Dessa forma, Brizola acabou se
refugiando no apartamento do grande amigo, ex-vice-prefeito de Porto Alegre, o
renomado advogado Ajadil de Lemos, o apartamento localizado à rua Duque de
Caxias, a uma quadra do Palácio Piratini.
Manoel Soares Leães, (mais
conhecido por Maneco), conta que em fins de abril de 1964, quando acompanhava o
ex-presidente João Goulart, comentou sobre o desejo de Brizola sair do Brasil.
Maneco recebeu no seu
apartamento, à rua Bulevar España esquina com La Rambla , barrio de Pocitos,
um emissário que lhe propôs a missão de resgatar o ex-governador Brizola.
Durante dez dias estudou a possibilidade de fazer o resgate em Porto Alegre , por
achar muito arriscado a melhor alternativa seria realizá-lo no litoral gaúcho.
Solicitou, então, ao emissário que fosse analisado os movimentos das marés
“alta e baixa”, com areia firme, faria um pouso com segurança. Para tal,
deveriam estar na praia um caminhão e dois carros, posicionados no formato de
uma “cruz”. Esse seria o sinal de que o plano de resgate não havia sido
descoberto. Maneco, então, rasgou uma nota de um cruzeiro ao meio, ficando com
uma metade, a outra metade ser-lhe-ia entregue pelo emissário que traria o
plano de resgate de Brizola.
O deputado Hélio Fontoura,
veranista de Cidreira, ficou encarregado de analisar o melhor horário para
Maneco pousar e realizar o resgate. Deveria ser entre 7h30min e 8 horas da
manhã, horário em que areia estaria firme.
Coube à dona Lenira, esposa de
Ajadil de Lemos, levar Brizola para o litoral.
Na madrugada do dia 15 de abril
de 1964, saíram da garagem do prédio, na Avenida Duque de Caxias, no Wolkswagen
verde dirigido por dona Lenira. Brizola estava vestido com a farda e o capacete
branco da Brigada Militar, cedido pelo Coronel Atílio Escobar, ex-Chefe da Casa
Militar, que retirou as estrelas das fitas dos ombros. Brizola entra no
Wolkswagen com mais duas pessoas, sentando-se no banco traseiro, seguiram em
direção ao litoral gaúcho.
Ao se aproximarem de Águas Claras,
havia uma blitz, foram momentos dramáticos. Brizola falou: preciso manter a
calma. “Se eu for reconhecido serei preso e morto.” O veículo foi parado por
soldados militares, dona Lenira, ao abrir a janela do carro, o soldado olhou
para o interior do fusca, Brizola executou a continência, tocou o seu chapéu
com as pontas dos dedos e o soldado, nem pediu os documentos, mandando-os
passar. E assim seguiram viagem para a praia de Cidreira, até o local do
resgate, onde ficariam aguardando a chegada de Manoel Leães, o “Maneco”.
Passados alguns dias do resgate,
fui chamado a comparecer no hotel Lancaster, no centro de Montevidéu, onde dona
Neusa e os seus filhos estavam hospedados, já sabendo que seria, peguei o carro
de Jango e fui o mais rápido possível ao hotel. Ao chegar lá, Neusa e o
emissário Ajadil de Lemos estavam à minha espera, com ele, a outra metade de um
cruzeiro e com o plano de resgate.
Um dia antes, havia comentado com
a minha esposa, que viajaria ao interior uruguaio, para receber as cabeças de
gado que Jango havia comprado e iria despachar para a fazenda El Rincón, Departamento
de Tacuarembó. Na madrugada do dia seguinte, peguei a minha família e fomos
para Punta del Este, era preciso ludibriar os agentes que nos vigiavam.
Orientei, então, a minha esposa, Odila, que, caso eu não retornar até o fim da
tarde, ela deveria voltar para Montevidéu e entrar em contado com Jango.
Às 5 horas do dia seguinte,
decolei do aeroporto de Punta del Este totalmente às escuras. Fui para o
interior uruguaio. Era preciso enganar os agentes, e teria que chegar à praia
de Cidreira entre 7h30min e 8 horas. Em 15/04/1964, Maneco Leães, pilotando o
Cessna 310 bimotores azul e branco prefixo PT-BSP, levantei voo
clandestinamente do aeroporto de Acuhel, cidade do interior uruguaio, ao
decolar sintonizei no VOR a rádio Guaíba e, durante o voo, ouvi uma entrevista
de uma autoridade do governo comentando que em poucas horas o ex-governador
Leonel Brizola estaria preso.
Cheguei a pensar que seriam dois
os presos! Para não ser percebido pelos radares, vinha voando baixo, pouco mais
que um metro acima das ondas do mar. Ao aproximar-me do litoral, fui para a
praia de Cidreira-RS. Ao avistar o sinal, notei que o plano não correspondia ao
que havia sido combinado: estava faltando um carro. Pensei em retornar, que o
plano havia sido descoberto. Mesmo assim resolvi sobrevoar a praia, quando
avistei o Brizola saindo de trás dos cômoros (dunas) de areia com o capacete
branco na mão abanando e vestido com a farda da Gloriosa Brigada Militar do Rio
Grande do Sul, farda emprestada pelo coronel Atilio Escobar.
Pousei na beira da praia e nem
desliguei os motores, abri a porta do avião, enquanto Brizola entrava e fechava
a porta. Já estava decolando e voando baixo em direção ao Uruguai. Durante o
retorno, o Brizola perguntou: − “Maneco, olha para trás e vê se não vem vindo
algum avião da FAB?” Eu tranquilizei-o: − “Não há mais perigo de sermos
interceptados, já estamos perto da fronteira”. Pouco depois, ultrapassamos a
fronteira, saindo do território brasileiro, anunciei ao Brizola que já
estávamos no espaço aéreo uruguaio! Ele apertou a minha mão e agradeceu: − “Obrigado,
Maneco”! Posei na cidade de Sarandi Grande a 150 km de Montevidéu, início
do seu exílio!
Esta foi a última operação de
Manoel Soares Leães o “Maneco” em solo brasileiro. Brizola parecia aliviado,
porque iria encontrar-se com a sua família. A viagem terminou em Solymar, um
balneário nos arredores de Montevidéu, onde o ex-Presidente João Goulart o
esperava.
*****
Quinze anos depois, o mesmo
Maneco Leães iria buscar Brizola em Assunção, no Paraguai, no dia 07/09/1979, às
7h30min, a bordo do avião Sêneca prefixo PT-ESO, propriedade de João Vicente
Goulart, levando Brizola e a sua comitiva com destino a São Borja-RS. As 09h30min,
pousa o avião na pista da Granja São Vicente de propriedade do ex-Presidente
João Goulart.
Mais de 30 mil pessoas o
esperavam. Com Maneco desembarcaram Neusa e os seus filhos, Sereno Chaise,
Wilson Vargas e Pedro Simon, encerrando o seu exílio.
Brizola teve que subir na capota
de uma Kombi, para poder vencer a multidão que queria tocá-lo, acenando para o
povo são-borjense.
Manoel Laquito
Barbisan Leães
↑
O piloto: Manoel (Maneco)
Soares Leães*
*Uruguaiana-RS: 28.01.1923
− Porto Alegre-RS: 07.08.2001
↑
Cessna 310 bimotores
azul e branco prefixo PT-BSP,
O avião do resgate do
governador Leonel Brizola.
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