A vida tem surpresas alucinantes. Surpresas e lições de
estarrecer.
Há certos fatos, porém, que não
nos causam nenhuma admiração, não porque não sejam em si admiráveis, mas porque
nos deixam simplesmente tão bestificados que nos tiram até a capacidade de
raciocinar.
É verdade que a faculdade de
abrir mais ou menos a boca, movida pelo espanto, varia de indivíduo para
indivíduo. Uns esbugalham os olhos diante do fenômeno mais natural, ao passo
que os outros acham mais que natural o fenômeno mais esbugalhante.
Os que se julgam espertos acham
que a admiração é um alarmante sintoma de ignorância e, por isso, afirmam que
só os tolos se admiram. Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se
surpreendem também da impassibilidade dos sabidos, aos quais consideram
lamentáveis cegos e inconscientes.
O ladino se admira do tolo e não
pode compreender como este se possa admirar de uma bobagem. O tolo, por seu
turno, se admira de que o ladino não se admire de coisa alguma, quando ele acha
tudo admirável.
O tolo se admira de tudo, porque
vê em tudo uma verdade para admirar. O tolo, então, raciocina e tira uma
conclusão. E, portanto, não é tolo.
O inteligente vê o fenômeno e não
se admira, porque não vê nada de admirável no que vê. Mas o homem que não chega
a ver o que até os tolos veem não pode ser um homem inteligente.
De tudo isto só se pode concluir
que o tolo, afinal, é um inteligente e que o inteligente é um tolo.
É ou não admirável?
(Do livro “Máximas e
Mínimas do Barão de Itararé”)
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