domingo, 12 de abril de 2020

O garoto que pulava do telhado



Uma vez, estando eu pelos meus cinco anos, contei uma mentira a meu avô. Uma tolice sem maiores consequências. Mas meu avô pediu ao jardineiro que trouxesse uma escada de pedreiro, para colocá-la de encontro à parede da casa, de modo que atingisse o nível do telhado. Ao ver cumprida a sua ordem, explicou ao jardineiro:

− Nosso garoto deu agora para pular de cima dos telhados. Pondo-se essa escada, assim, ele há de usá-la, quando bem quiser, sem perigo de quebrar a cabeça ou partir uma perna.

Compreendi, imediatamente, o que representava aquilo, pois na região em que morávamos há um provérbio que diz: “Mentir é dar um pulo do telhado da casa”.

Fiquei calado, pensando no caso. Causava-se uma impressão estranha aquela escada em frente a casa. Tive medo que ela ficasse ali para sempre, se eu não tomasse uma decisão. Encontrei meu avô folheando um livro. Aproximei-me dele e reclinei minha cabeça no seu colo.

− Vovô − disse-lhe, então − não precisamos mais da escada...

A notícia causou-lhe, ao que me parece, uma alegria imensa. Chamou o jardineiro e disse-lhe, sorrindo:

− Tire imediatamente a escada. Nosso garoto já não pula dos telhados...

(História chinesa, do Almanaque do Barão de Itararé de 1955)


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