quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Aula de política

(manhas e artimanhas)


Ora para a escolha de vereadores e prefeitos, ora para a indicação de deputados, senadores, governadores e presidente da República, os brasileiros sacam dos bolsos os títulos de leitores e exercem o democrático direito de escolher seus representantes políticos.

Leia o texto do especialista em marketing político, Ronald Kuntz, e conheça algumas das táticas que um candidato pode utilizar para que o simples e decisivo X do eleitor recaia justamente sobre o quadrinho com o seu nome.

Você sabe que um candidato é mentiroso e tenta enganá-lo quando:


01 - possui solução para todos os problemas e, pior, tenta provar que há recursos e que é possível resolvê-los todos se for eleito;

02 - diz que vai realizar mais obras e prestar mais serviços (aumentar as despesas) e, ao mesmo tempo, afirma que vai reduzir impostos, ou mesmo que não vai aumentá-los;

03 - gasta mais tempo em criticar os adversários e as propostas deles do que na defesa de suas própria ideias;

04 – estimula a inveja e a revolta dos eleitores, mostrando quanto é injusto “... tão poucos terem tanto, enquanto muitos têm tão pouco...”, principalmente quando afirma ao mesmo tempo em que, se eleito, os que têm pouco terão chances de ter muito;

05 – é incapaz de responder, objetivamente a uma pergunta clara e direta ou, ao ser questionado sobre um fato polêmico ou tema embaraçoso, finge que responde; divaga sem chegar à conclusão; ou muda de assunto e responde outra coisa, insultando a inteligência de quem pergunta e de quem assiste ao diálogo;

06 – tem a incrível capacidade de dizer, sempre, exatamente aquilo que você quer ouvir;

07 – não faz nenhum inimigo; não favorece nem contraria frontalmente os interesses de nenhum grupo ou segmento social durante a campanha;

08 – tenta mostrar que é “macho” e corajoso, afirmando que recebe ameaças de morte ou sofreu atentados “covardes”, principalmente se oferecer como prova tiros na parede da residência, do comitê ou do automóvel;

09 – ao ser alvo de boatos ou ser criticado por erro ou fato desabonador presente ou passado, em vez de esclarecê-lo, se esconde atrás da esposa e dos filhos, tentando fazer-se passar (junto com sua família) por vitima de calúnia e ataques maldosos e eleitoreiros;

10 – se for um candidato situacionista, nega que a máquina administrativa trabalhe a seu favor (ou, se for ligado a sindicatos, nega que a máquina sindical esteja a seu serviço);

11 – as fotografias que aparecem nos cartazes e outdoors de campanha mostram um candidato muito mais jovem do que o que aparece na TV e nos comícios;

12 – já tendo ocupado cargos públicos ou eletivos, ele insiste em criticar e denegrir a classe política, como se não fizesse parte dela;

13 – ele afirma que seu único compromisso é com o povo (ele sempre terá assumido compromissos com aliados, apoiadores, cabos eleitorais etc.);

14 – ele tenta parecer mais pobre do que expressa a sua declaração de bens;

15 – sem coragem de atacar diretamente seu principal adversário, um candidato majoritário cede seu espaço para que seu vice, ou candidato proporcional “pau-mandado”, faça o trabalho “sujo”, veiculando a denúncia ou acusação, fingindo nada ter com o fato e insistindo na necessidade de manter alto o nível da campanha;

16 – promete resolver problemas fora de sua alçada (ex-vereador promete congelar o preço de bens alimentícios; deputado promete reduzir os juros bancários etc...).

através delas o candidato também tenta influir na formação de sua imagem junto aos eleitores. Eis o que vai por trás de algumas de delas:

a) com criancinhas no colo ou afagando animais: boa índole, sensibilidade;

b) abraçando pessoas de outras raças: ausência de discriminação ou de preconceito racial;

c) trabalhando com pessoas idosas: valorização da força de trabalho e experiência dos idosos;

d) candidato cercado de jovens: modernidade, capacidade de compreensão dos problemas e aspirações;

e) candidato com esposa em eventos: companheirismo, valorização da esposa como pessoa ativa e atuante (eventualmente, demonstrar que boatos relativos a adultérios ou desvios de conduta sexual são falsos);

f) candidato com esposa e filhos em casa: bom marido e pai, equilíbrio e harmonia familiar, apego aos valores tradicionais;

g) candidato em templos religiosos: expressa respeito aos credos;

h) apoio de padres, professores: atestado de boa conduta, aval à moral pessoal;

i) candidato em mangas de camisa, suando e com cabelo desalinhado: dinamismo, ação, disposição para trabalhar, simplicidade;

j) candidato de terno, com autoridade e personalidades: preparo para funções executivas, trânsito, influência;

k) candidato em reunião de trabalho (sempre de pé ou em posição de destaque): demonstra que tem equipe, liderança, preparo, conhecimento superior, autoridade;

l) apoio de intelectuais: cultura superior;

m) confraternização com gente pobre ou operários: simplicidade, fácil acesso, ausência de arrogância, humildade;

n) abraçando ou beijando mulheres feias: bondade; simpatia;

o) com os pais: atestado de bom filho;

p) com a família inteira: harmonia e união familiar;

q) com artistas, atores, cineastas, escritores, desportistas etc.: aval de que dará atenção e estímulo às atividades artísticas ou culturais e desportivas.


Ronald Kuntz. In Gilberto Dimenstein.

“Como não ser enganado nas eleições”

Editora Ática



Nenhum comentário:

Postar um comentário