Durante a ditadura militar (1964 – 1985), as manifestações culturais estavam sob a dura vigilância do governo, atento a tudo o que pudesse ser considerado “subversivo”. Chico Buarque de Holanda, um dos compositores mais populares do período, fez malabarismos para escapar do cerco da censura. Em 1974 ele criou um personagem, Julinho da Adelaide, que assinou algumas de suas composições. O escritor Mário Prata chegou a fazer uma “entrevista” com o fictício Julinho, publicada no jornal carioca Última Hora. O texto trazia inclusive dados biográficos e anatômicos do personagem, como o nascimento, na favela da Rocinha, referência a uma cicatriz no seu rosto e até uma foto da sua mãe, a também fictícia Adelaide de Oliveira – na verdade o retrato de uma nativa africana que Chico encontrou num livro do pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda. Na entrevista, Julinho da Adelaide até vociferava contra Chico, acusando-o de “querer parecer às minhas custas!”
Jorge maravilha
Julinho de Adelaide -
1974
Há nada como um tempo
Após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar
Apenas ficar chorando,
resmungando
Até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando
Você não gosta de mim
Mas sua filha gosta
Você não gosta de mim
Mas sua filha gosta
Ela gosta do tango, do dengo
Do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisa, belisca
Petisca, me arrisca e me enrosca
Você não gosta de mim
Mas sua filha gosta
Há nada como um dia
Após o outro dia
Pro meu coração
E não vale a pena ficar
Apenas ficar chorando,
resmungando
Até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais sobrevoando
Você não gosta de mim
Mas sua filha gosta.*
* Segundo consta, a filha do presidente Geisel gostava das
músicas do Chico.
Acorda Amor
Leonel Paiva/Julinho
da Adelaide
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura
viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o
ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão,
chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete
e o violão)
Milagre Brasileiro
Compositor: Julinho da
Adelaide
Cadê o meu, ó meu?
Dizem que você se defendeu
É o milagre brasileiro
Quanto mais trabalho
Menos vejo dinheiro
É o verdadeiro boom
Tu tá no bem bom
Mas eu vivo sem nenhum
Cadê o meu?
Cadê o meu, ó meu?
Eu não falo por despeito
Mas, também, se eu fosse eu
Quebrava o teu
Cobrava o meu Direito.
Dizem que você se defendeu
É o milagre brasileiro
Quanto mais trabalho
Menos vejo dinheiro
É o verdadeiro boom
Tu tá no bem bom
Mas eu vivo sem nenhum
Cadê o meu?
Cadê o meu, ó meu?
Eu não falo por despeito
Mas, também, se eu fosse eu
Quebrava o teu
Cobrava o meu Direito.
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