Otto Lara Rezende me conta uma
história que ouviu do saudoso poeta Augusto Frederico Schmidt. Schimidt
conhecia um rapaz que vivia na maior pobreza e, depois de muitos esforços,
conseguiu arranjar um emprego em uma certa repartição federal – digamos , a
Cexim*. Meses depois, o poeta o encontra muito bem vestido e com todos os
sinais de uma prosperidade súbita que seu minguado ordenado não justificava de
modo algum.
– Então, que
tal seu emprego?
– Ótimo,
doutor, ótimo!
Passa-se mais algum tempo, e Schimidt
volta a encontrar o moço. Já o seu aspecto não era tão próspero, e ele se
queixava da vida.
– Ganho
muito pouco, doutor. E o pior é que aquele emprego não tem futuro...
– Mas você estava
tão satisfeito lá! Lembro-me que você disse que o lugar era ótimo...
– Era, doutor, era. Eu estava me
defendendo muito bem. Mas tenho um inimigo lá, e ele fez a minha caveira...
– Fez alguma
denúncia contra você?
– Muito pior, doutor. De denúncia eu
não tenho medo, porque, modéstia à parte, quando eu fazia alguma coisa para
ajudar um camarada – o senhor sabe, uma mão lava a outra – eu fazia tudo legal
e não deixava rabo.
– Mas, então, o que é que ele fez?
– Ele me desmoralizou, doutor. Ele é mais
antigo lá, conhece todas as firmas que lidam com a repartição, e fez minha
caveira...
– Mas como, rapaz?
– Ele inventou que eu tinha dito:
“O primeiro sujeito que
vier com conversa mole pra cima de mim achando que eu sou desses que engole
bola, eu parto a cara!”
Rubem Braga – nO
Pasquim)
Rubem Braga
(1913-1990)
*Nome fictício, é claro, mas
poderia ser qualquer órgão federal que trata com contratos de empresas que
prestam serviços ao governo.
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