sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Declaração dos Direitos Desumanos



Esta versão atualizada da Declaração Universal dos Direitos do Homem é a propósito de um original muito conhecido da boca pra fora e que andou circulando nas mãos de um sorridente presidente americano, que o exibiu como modelo de teoria e até como cunha em negociações internacionais. Omiti alguns artigos apenas por falta de espaço e não, como fazem certos países, por falta de interesse neles.

→ Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direito. Mas não podem morrer assim.

→ Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas na Declaração original, desde que esteja disposto a correr o risco.

→ Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A não ser por vínculo empregatício.

→ Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo cruel que não possa aguentar.

→ Todos são iguais perante a lei. Isto é, todos tremem.

→ Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança. Sem exageros.

→ Todo homem tem direito a receber remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais: mercurocromo, gase, esparadrapo.

→ Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado, salvo honrosas exceções.

→ Todo homem tem direito a um julgamento justo e imparcial de vez em quando.

→ Todo homem é inocente até prova em contrário, forjada ou não.

→ Todo homem tem direito à vida privada e à proteção. Nem que para isso tenha que ir parar numa cela.

→ Todo homem, quando perseguido, tem direito a procurar asilo em outros países que perseguem menos.

→ Todo homem tem direito a uma nacionalidade, embora isso não lhe traga direito algum.

→ Todo homem tem direito à propriedade ou, pelo menos, ao aluguel dela.

→ Todo homem tem direito à liberdade de pensamento. Mas que isso não lhe suba à cabeça.

→ Todo homem tem direito à liberdade de expressão. Corporal, bem entendido.

→ Todo homem tem direito ao trabalho, mesmo que não queira.

→ Todo homem tem direito à instrução. Inclusive quem ensina.

→ Todo homem tem direito de participar do governo do seu país. De preferência votando ou sendo votado.

(Texto do livro Punidos Venceremos, e criado em 1977 em parceria com o meu amigo dramaturgo Carlos Carvalho, para uma peça que teve sua leitura impedida pela Censura na ocasião. Republicado porque o autor está em férias e também porque é sempre bom lembrar o que é ruim de esquecer.)


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