sábado, 13 de agosto de 2016

Palavra ré



Fraga*

Do verbo ao advérbio, do substantivo ao adjetivo, do pronome à preposição, do mono ao polissílabo, da oxítona à proparoxítona, da conjunção ao jargão, da gíria ao neologismo, enfim, do palavrão à palavrinha, todos os vocábulos têm seu caráter. Conforme suas funções, as palavras atendem à linguagem – mas nem pela essencial serventia estão isentas de críticas. Aí estão, no meu tribunal particular, algumas das julgadas à revelia do seu valor linguístico. Pra cada uma, seu justo veredito:

A palavra mais odiosa e odienta do mundo é racista.
A palavra mais carregada de sinceridade é não.
A palavra mais egoísta de qualquer dicionário é quero.
A palavra mais esdrúxula – Luís Fernando Veríssimo também acha isso – é esdrúxula.
A palavra mais autoritária com as outras palavras é psiu!
A palavra mais eloquente é socorro!
A palavra mais materialista, interesseira, corrupta e a que mais humilha é dinheiro.
A palavra mais injusta é justiça.
A palavra mais preconceituosa, entre tantas preconceituosas, é defeito.
A palavra menos democrática em qualquer democracia é abaixo!
A palavra mais alienada mesmo entre as mais cultas é sei.
A palavra que mais pode prejudicar um ser humano é outro.
A palavra mais perecível é vida.
A palavra mais temível são várias: adversário, inimigo, oponente, etc.
A palavra mais absoluta e definitiva é morte.
A palavra com a pior sensação térmica é indiferença.
A palavra mais insensata no planeta é desperdício.
A palavra mais dolorosa em qualquer língua é mudez.
A palavra mais ameaçadora e incontrolável de todos os tempos é fome.
A palavra mais insana entre as mais doidas é linchamento.
A palavra menos esperançosa é desisto.
A palavra mais defectível é indefectível.
A palavra menos elogiosa à beleza das pessoas é tempo.
A palavra menos legal de todas é, claro, lei.
A palavra mais solitária em qualquer situação é sempre solidão.
A palavra mais cara é, obviamente, preço.
A palavra mais politicamente incorreta é política.
A palavra menos crível e mais traiçoeira é verdade.
A palavra menos cansativa é trabalho, enquanto a mais trabalhosa é desemprego.
A palavra que mais contém erros é julgar.
A palavra mais frágil, comparada a qualquer outra, é frágil.
A palavra mais desumana é humano.

*Do jornal Extra Classe.Org.Br



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