Em tempos de problematizações de
marchinhas, vale lembrar essa notinha de Lúcio Rangel sobre Lima Barreto no
carnaval de 1906, publicada no Comício de número 17, em 1952:
Conta Francisco de
Assis Barbosa, na sua excelente biografia de Lima Barreto:
“Durante um carnaval (teria sido em
1906 ou 1907), quando ainda não se entregara de todo à vida boêmia, pela
primeira vez com certeza, abandonaria os companheiros no melhor da festa,
deixando-os perplexos ante a sua atitude inesperada e sem explicação. Por sinal
que, nessa noite, Lima Barreto, de natural pouco expansivo, parecia alegre e
comunicativo como nunca, o que não deixou de ser notado por todos. Em meio à
folia carnavalesca, fizera-se de repente taciturno. A um deles comunicou a
decisão de ir para casa e logo desapareceu.
Como? Por quê? ‒ perguntavam os
amigos espantados, entreolhando-se, como a procurar o causador involuntário do
aborrecimento.
Dias depois, Lima Barreto confessaria
a Antônio Noronha Santos, que fazia parte do grupo, o motivo da sua retirada
intempestiva. É que, acompanhando um rancho que passava, por entre guinchos
estridentes de cornetim e ruídos surdos de bombos, todos os que compunham a
roda, menos ele, começaram a cantar a música da moda:
Vem cá, mulata!
Não vou lá, não.
‒ “Aquilo ‒ segredou então ao amigo
querido ‒ penetrou-me nos ouvidos como insulto. Lembrei-me de minha mãe. O
convite canalha parecia dirigido a ela”…
*****
P.S. A música em questão, de
autoria de Arquimedes de Oliveira, foi gravada por Duarte Silva e Isabel Costa e
faz alusão ao Clube dos Democráticos, famoso por seus bailinhos.
Rubem Braga republicaria a
anedota trinta e cinco anos depois, em sua página da Revista Nacional, mas
omitindo o nome de Lúcio Rangel, que morreu em 1979.
(Do Blog quarta capa
de Guilherme Tauil)
Vem cá, mulata
Musica: Arquimedes de Oliveira
Vem cá, mulata!
Não vou lá, não.
Vem cá, mulata!
Não vou lá, não.
Sou Democrata, sou Democrata,
Sou Democrata de coração.
O Democráticos, gente jovial,
Não vou lá, não.
Sou Democrata, sou Democrata,
Sou Democrata de coração.
O Democráticos, gente jovial,
Somos fanáticos do
carnaval.
Do povo, vivas nós recolhemos,
De nós cativas almas fazemos.
Ao povo damos sempre alegria,
E batalhamos pela folia,
Não receamos nos sair mal,
E letra damos no carnaval.
Do povo, vivas nós recolhemos,
De nós cativas almas fazemos.
Ao povo damos sempre alegria,
E batalhamos pela folia,
Não receamos nos sair mal,
E letra damos no carnaval.
Nenhum comentário:
Postar um comentário