quarta-feira, 22 de março de 2017

A perda de um amor e o reencontro desse amor



Duas letras de músicas da MPB que retratam dois momentos na vida de um homem. Quando a mulher amada vai embora, o desleixo pelas roupas e a desarrumação da casa, enfatizando, no final, que o que mais fazia falta a ele era as “intimidades” debaixo do cobertor...

E quando, finalmente, a mulher amada volta para casa, tudo volta ao normal: as refeições na hora certa, limpeza na casa e roupas bem cuidadas. Tudo está no lugar certo, desde que se respeite uma ética da malandragem: Na rua e na boêmia manda o malandro, mas em casa quem manda é a mulher.

Debaixo do cobertor

Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro

Desde que ela foi embora,
A rotina em meu lar mudou.
Eu almoço e janto fora
E a faxina já se acumulou.

No meu terno de cambraia,
Não tem mais botão no paletó.
Secou no jarro o pé de samambaia
E já silenciou meu curió.

Se eu preciso alguma coisa,
Não sei onde ela guardou:
Saca-rolha, agulha, lâmpada,
pano de chão, pregador.
Cama feita não existe,
As gavetas estão de fazer dó.

Volta depressa, amor, que é muito triste
A rotina do lar de um homem só.
Não tem mais rádio ligado,
O vizinho do lado é que comemorou,
Porém perdeu a alegria,
Esse dia-dia do meu bangalô.

Como era ótimo o cheiro
Daquele tempero pelo corredor,
Casa que não faz fumaça,
Ninguém acha graça, me faça um favor!

Volta, meu bem, dá um jeito,
Primeiro em meu peito depois no chatô,
Porque, amor, tua ausência ainda acho,
Dói mais é debaixo do meu cobertor.

Trato

Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro

Desde quando ela voltou pra casa,
A minha vida endireitou.
É meio-dia o almoço e a janta não se atrasa
E não tem mais poeira o chão do corredor.

Achar um abridor era um inferno,
Minha rotina era uma bagunça só.
Agora tem gravatas finas o meu terno
E abotoaduras no meu paletó.
Ficou bem mais bonito
O meu jardim de inverno
E já canta de novo o meu curió.

Na mesinha de pinho-de-riga,
Ela botou o nosso retrato,
E para evitar mais briga,
A gente já fez um trato:

Sou dono da rua do mundo,
Mas pra dentro da varanda,
Em casa de vagabundo,
Ainda é mulher que manda.

A primeira canção, “Debaixo do cobertor” está no CD “O som sagrado de Wilson das Neves”; a segunda canção, “Trato”, está no CD “Wilson das Neves – se me chamar, ô sorte”, e podem ser escutadas pela Internet.

Os compositores:


Wilson das Neves (Rio de Janeiro, 14 de junho de 1936 - 26 de agosto de 2017) foi um baterista, cantor e compositor brasileiro. Nas duas composições, ele, provavelmente, fez as músicas, e Paulo César Pinheiro, as letras.


Paulo César Francisco Pinheiro (Rio de Janeiro, 28 de abril de 1949) é compositor e poeta brasileiro. Tem mais de duas mil canções, das quais mais de mil gravadas, compostas com cerca de 120 parceiros, uma grande variedade de músicos. As duas letras foram feitas por ele.


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