terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Pequenas histórias de Almanaques

 

Um passageiro num vagão de trem de primeira classe insistia em fumar. Um outro, indignado, protestou, e quando ia dirigir-se ao fiscal queixando-se, o primeiro antecipou-se-lhe com a seguinte observação:

− Senhor fiscal, verifique que esse homem anda viajando com bilhete de terceira classe. 

Este explicou: 

− Ora é porque se viu uma ponta do bilhete fora da algibeira e eu reparei que era da mesma cor que o meu. 

***** 

Uma senhora de idade assistia a uma conferência sobre Fisiologia. No final do seu discurso, o conferencista convidou os assistentes a fazerem-lhe as perguntas que quisessem. A senhora levantou-se: 

− Era obséquio informar-me, disse ela, − se a parte do cérebro a que chamam “cerebelo” fica dentro ou fora da cabeça. 

***** 

− Ó papai, se eu tirar cinco tostões da algibeira de um sujeito, é roubo? 

−Está claro que é. 

− E seu ganhar cinco tostões numa aposta, é jogatina? 

− De certo 

− Ma se eu impingir a alguém por 550 uma coisa que vale cinco tostões? 

− Ah! Isso então é outra coisa, isso é negócio! 

***** 

Resultado imprevisto 

Um fidalgo, ricaço, resolveu oferecer um lauto jantar aos seus amigos. 

Fez os seus convites e meteu-se no seu automóvel para ir distribuir. Mas já dentro do carro, reparou que lhe tinham esquecido os convites. 

− Manuel! Vai ao meu escritório e traze-me o maço de cartas que me ficaram sobre a mesa onde eu costumo fazer as paciências. 

Segue o automóvel e o fidalgo ia indicando ao criado: 

− Aqui, o senhor Visconde de tal; ali, no número 50, o senhor conselheiro de tal; etc. 

Quando chegou a certa altura perguntou: 

− Manuel, faltam muitas cartas ainda? 

− Não, meu senhor. Falta só o duque de espadas e o valete de copas!... 

***** 

Lógica 

O médico: − Essas dores nos músculos da perna esquerda, senhor Anacleto, são devidos à idade avançada que você já vai tendo, sabe? 

O Anacleto: − Sim, senhor doutor? Mas então minha perna direita tem a mesma idade e ela não me dói! 

***** 

Vingança cruel 

Estavam muito apaixonados, mas por fim chegou um dia em que tiveram uma grande questão e se separaram, cada um deles resolvido e nunca mais ver o outro, enquanto vivessem.

Passaram anos, e quase se tinham esquecido por completo dessa pequena intriga amorosa, quando uma noite se encontraram, cara a cara, num baile. 

Ele ficou um tanto embaraçado, mas, todavia, dirigiu-se para ela precipitadamente e disse, com uma certa afabilidade: 

− Estimo muito vê-la, Elisa. 

Ela olhou-o com indiferença e respondeu friamente: 

− Tem graça! Seria você ou seu irmão que foi dantes um grande admirador meu? Já me não lembro. 

Ele sentiu-se melindrado, mas manteve-se à altura da situação. 

− Efetivamente, também me não recordo − retorquiu com um sorriso de ironia − mas é mais natural que tenha sido meu pai. 

***** 

O caminho a seguir 

O advogado: − Diga-me então lá quais palavras de que o réu se servia no libelo de que o senhor se queixa. 

O queixoso: − Disse que me desafiava a encontrar um maior ladrão e mentiroso do que eu era. 

O advogado: − E o que foi que o senhor respondeu? 

O queixoso: − Disse-lhe que vinha ter com o meu advogado. 

***** 

Ela por ela 

O criado de escritório: − O patrão disse-me que lhe dissesse que ele não estava. 

O visitante: − Ah! Sim? Pois pode dizer ao seu patrão que eu não vim cá.

***** 

Tudo menos marido 

A Brígida, a empregada da casa, dirigiu-se à patroa. 

− Eu vinha pedir à senhora se me dava uma semana de licença − disse ela − porque me queria casar. 

A Brígida tinha sido sempre boa rapariga, por isso a patroa deu-lhe a semana de licença, e ainda mais um vestido branco, uma mantilha e um pudim. 

No fim de semana, A Brígida voltou. 

−Ah! Minha senhora − exclamou ela. Isso é que eu estava uma noiva bonita! O vestido ficava-me muito bem, a mantilha era um encanto, e o pudim estava esplêndido. 

− ainda bem, Brígida, gosto de saber que tudo correu bem − disse-lhe a patroa − e espero que tenha alcançado um bom marido. 

A Brígida mudou logo para um tom indignado. 

− Ah! Minha senhora, não queira saber o que me aconteceu? O grande malvado nunca chegou a aparecer! 

Segurança primeiro que tudo 

O eletricista estava embaraçado. 

− Olha lá! −disse ele para o ajudante, − ponha aqui a sua mão num desses fios. 

O ajudante assim fez 

− Sente alguma coisa? 

− Não senhor. 

− Ainda bem, −disse o eletricista − eu não tinha certeza qual deles era. Não toque no outro que lhe dá morte instantânea.

(Textos dos Almanaques Bertrand, de 1925 e 1930)

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