segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Como não socorrer um acidentado

 

Ontem, passei na rodovia por um motoqueiro atropelado por um carro. Pensei em parar e ligar para o socorro, mas vi, de imediato, várias pessoas fazendo isso pelo celular. Pensei em parar e manter a vítima imóvel, mas vi duas coisas que me tranqüilizaram: primeiro, vi que ele se moveu, encolhendo a perna, no que foi contido por um homem ao seu lado, e, em seguida, vi o mesmo homem, que estava agachado ao seu lado, impedindo que ele se erguesse ou se movesse. Tudo o que é previsto num acidente estava sendo feito, felizmente, e nem precisei parar para ajudar. 

O que ocorre, às vezes, é que as pessoas, no afã de ajudar, fazem com que a vítima tente se levantar, mexer os membros, etc. o que é desaconselhável. Podem causar com isso um desastre maior do que o sofrido pelo cidadão. Pude seguir em frente com a consciência tranquila. 

Clarival Vilaça* 

Certa ocasião, eu estava de plantão no Hospital Militar de Porto Alegre, fui informado que um cabo se acidentara num campo de treinamento. Avisei que iria lá, que não mexesse no acidentado. 

Entrei com a ambulância no estádio, colocamos o cabo numa maca e o levei para o Pronto Socorro da capital. Lá no Raio X, vimos que a coluna cervical estava luxada, quase dois cm, quase “atingindo a medula”. Assisti ao neuro salvar o cabo de um desastre. Ele colocou no Raio X uma coroa no crânio, tracionando com dois tijolos pendurados na coroa, sem anestesia. O cabo não foi retirado da maca da ambulância militar. Vi que a redução começara ali. O cabo movia as mãos e os dedos, eu sabia que ele quase ficara “tetraplégico”. 

Acidentado não deve se mexer ou ser mexido até que o socorro adequado seja providenciado. 

Dr. Paulo Cezar Fagundes* 

Todos devem se lembrar das imagens da televisão, quando aquela moça estudante da Faculdade Estácio de Sá foi baleada na coluna. Um desses desavisados pegou a moça e saiu correndo com ela no colo. Aquilo foi tudo o que NÃO se deve fazer em casos de ferimento na coluna. Quase em frente, há a um hospital da Casa de Portugal. Era só aguardar um pouco e, talvez, a situação da moça hoje fosse menos dolorosa. 

Sérgio Mattos* 

Socorro de Acidentados 

Os cuidados dispensados no momento de socorrer um acidentado, seja ele automobilístico, esportivo ou qualquer que seja a causa do acidente, frequentemente faz a diferença entre uma recuperação completa ou graves sequelas. 

Um bom exemplo é Emerson Fittipaldi. Ele sofreu um acidente na Fórmula Indy e em decorrência desse acidente, sua coluna vertebral (parte óssea) foi seriamente afetada. Por sorte, porém, sua medula não foi comprometida. Entretanto, caso a equipe de socorro não tivesse tomado os cuidados necessários ao retirá-lo do carro e levá-lo para o hospital, os resultados muito provavelmente seriam trágicos. 

Em vista desse exemplo, devemos ter em mente ao socorrer um acidentado e quando não houver equipe especializada em socorro disponível, a pensar na possibilidade dessa pessoa que iremos socorrer possuir algum traumatismo em nível de coluna vertebral. Antes de remover esse acidentado, procure estabilizar o pescoço do indivíduo (use um pano e envolva-o ao redor do pescoço). Mantenha o corpo, a cabeça e as pernas alinhadas, apoie a cabeça do acidentado com a mão para que ela não faça movimentos pendulares. Mantenha também o tronco reto devido ao risco de haver fraturas em nível de coluna torácica ou lombar. Sendo necessário, seja enérgico e grite com o acidentado para que ele se mantenha imóvel e siga suas orientações. 

Todos esses cuidados têm como objetivo reduzir (ou não agravar) os danos medulares caso a coluna vertebral esteja comprometida, pois quando isso ocorre, a medula fica muito vulnerável a uma grave lesão. 

Ao chegar ao hospital com um acidentado suspeito ou com risco de ter sofrido traumatismo na coluna vertebral, previna os profissionais que prestarem o primeiro atendimento dessa possibilidade e exija que os cuidados adequados sejam tomados (colocação de colete cervical, etc). 

*Todos os depoimentos foram dados por ex-militares da Brigada de Infantaria Paraquedista.

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