terça-feira, 8 de dezembro de 2020

As árvores e as pedras

 

Era uma vez um menino cheio de ideias estranhas. Ele achava que o infinito era pequeno e que o eterno era curto. Conversava com as Árvores e com as Pedras, e emocionava-se com elas, pela magnitude do que lhe contavam. Um dia, as Árvores lhe disseram:

-  Sabes? No nosso Universo cada uma de nós cumpre o que lhe cabe, pela satisfação de fazer assim. Nenhuma de nós se exime da sua parte. Os humanos passam suas vidas a fazer coisas que lhes resultem em tensões, infelicidade e doença. Não fazem o que realmente gostariam. Caem no cativeiro da civilização, trabalham no que não gostam para ganhar a vida e perdem-na, em vão, ao nada fazer de bom. Por isso tornam-se rabugentos, envelhecem e morrem insatisfeitos. Procura tu viver feliz como nós, pois alimentamo-nos, respiramos e reproduzimo-nos, tal como nosprazer. Assim, quando morremos, na verdade continuamos vivas em nossas sementes e crescemos de novo. Vai e ensina isso aos que, como tu, podem ouvir nossas palavras. Farás muita gente feliz, livre da escravidão da hipocrisia.

O menino ainda era pequeno para saber a extensão do que lhe propunham as Árvores, mas concordou em levar essa mensagem aos homens. Entretanto as Pedras, que até então se tinham mantido muito quietas, começaram a falar e disseram coisas aterradoras!

Uma Pedra maior e coberta de musgo, o que lhe conferia um ar ancião e sacerdotal, tomou a frente das demais e falou fundo, ecoando dentro da sua alma:

-  Não, tu não deves cometer a imprudência de levar aos homens a mensagem das Árvores. Nós somos Pedras frias e friamente julgamos. Estamos aquimais tempo do que elas e temos visto o transcorrer desta pequena História Universal dos humanos.

Antes de ti, muitos receberam essa mensagem e foram incumbidos, por elas, de recuperar a felicidade que os hominídeos perderam ao ignorar as leis naturais. Todos quantos tentaram ajudar a humanidade foram perseguidos, difamados e martirizados. Cada um conforme os costumes de sua época: crucificados em nome da justiça, queimados em praça pública em nome de Deus e tantos outros martírios pelos quais tu mesmo passaste várias vezes e te esqueceste... 

Hoje tu pensas que não corres mais perigo e aceita tentar outra vez. Quanta falta de senso! Quando começares a dizer as coisas que as Árvores transmitiram, vão primeiro tentar comprar-te. Se tu não sucumbires ao tilintar dos trinta dinheiros, então será preciso que sejas realmente um forte para permaneceres de , pois passarão a agredir-te de todas as formas.

Mas o menino respondeu prontamente. Tomou um ramo em uma das mãos e uma pedra na outra, e bradou:

- Este é meu cetro. E este, o meu orbe. Com o vosso reino elemental construirei nosso santuário e nele reunirei os capazes de ouvir e de compreender. As rochas manterão do lado de fora os incapazes e as toras aquecerão, do lado de dentro, os que reconhecerem o valor deste reencontro.

As Árvores e as Pedras emudeceram. Depois as Árvores o ungiram com o orvalho sacudido pela brisa, e as Pedras deixaram cair em suas mãos o musgo primevo que lhes vestia, como que a abençoá-lo.

Nesse momento, os raios do Sol eram difusos por entre os ramos e a névoa da manhã. O menino olhou e compreendeu: se a luz fosse excessiva não ajudaria a enxergar, mas ofuscaria o entendimento. Então agradeceu aos ramos e à névoa. E mesmo às Pedras que o faziam tropeçar para torná-lo mais atento aos caminhos que percorria. E amou a todos... até aos homens! 

Mestre DeRose, in Yôga, Mitos e Verdades


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