domingo, 27 de dezembro de 2020

Vai logo

 Que ninguém te aguenta mais 

Cláudia Tajes

Vai que já vai tarde, 2020. Vai e leva junto tudo o que não deu para fazer neste ano. Todos os planos que, de repente, sumiram. As viagens que não saíram pela porta. As ideias que ficaram só na vontade. Os abraços e os beijos que se acumularam dentro da gente. A saudade de um mundo que até podia ser cheio de defeitos, mas que era nosso. 

Vai que já vai tarde, 2020. Não foi fácil chegar até o teu fim. O mais estranho é que os dias, que pareciam não passar nunca, passaram. Tanto que estamos aqui, desejando que 2020 logo seja só mais uma folha arrancada do calendário. 

Vai que já vai tarde, 2020. 

Se possível, arrasta contigo todos os negacionistas que encontrar pelo caminho. Para parecer que esse tsumani de ignorância que varreu o Brasil não passou de um pesadelo − longo demais, é verdade, mas um pesadelo. Antes isso que uma condenação ao retrocesso. Bons tempos em que nos chamavam de “país do futuro”. 

Vai que já vai tarde, 2020. Embora a tua saída de cena jamais vá apagar os quase 200 mil mortos que se espalham pelos teus meses. 

Vai que já vai tarde, 2020. 

(...) 

Vem logo, 2021. E traze contigo a vacina, a esperança, a retomada, o horizonte. Se o nosso coração fez o que fez neste 2020 − que já vai tarde −, imagina do que vai ser capaz quando o mundo voltar para a gente. 

(No caderno Donna, Zero Hora, último domingo de 2020)



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