quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Mas será o Benedito?

 Mário Prata 

Jornal Estado de São Paulo − 1998

Mario Prata (ilustração: sigaescalada.com) 

Estou lançando um livro chamado “Mas Será o Benedito?”, uma coletânea com 419 expressões, ditos populares e provérbios brasileiros. Como cada autor ou filólogo tem uma explicação diferente para cada um delas, resolvi inventar as origens por minha conta. Só da letra "A", tirei estes sete (conta de mentiroso) exemplos. Mas não leve a sério. É tudo inventado. 

À boca pequena → O Boca Pequena era um barzinho frequentado por membros da Academia Brasileira de Letras, desde a sua fundação. Era ali, tomando vinho do Porto, depois do famoso chá das cinco, que os imortais discutiam “à boca pequena” os nomes dos futuros integrantes da Casa de Machado de Assis. Seu proprietário era um português chamado Nuno Vasco, vizinho de infância de Machado no bairro do Juramento. Vide “Anais da Academia − Tomo I”, de Sousa Bandeira. Portanto, “à boca pequena”, surgiu ali. Hoje, no local ergue-se uma Lojas Arapuã. 

A fé move montanhas → Na verdade a palavra inicial não era  e sim as iniciais de “Federal Enterprise Dynamite”, a FED, contratada pelo governo português para dinamitar montanhas em Vila Rica (hoje Ouro Preto) na época do ciclo do ouro nas Minas Gerais. E, pelo jeito, a FED movia mesmo montanhas. Dizem até que o ex-presidente Geisel seria descendente do primeiro diretor da FED, sir Washington W. Geisel. 

A mentira tem pernas curtas → Essa expressão nos vem de Paris, no final do século passado. Henri de Toulouse-Lautrec, pintor francês, era famoso pelas histórias que contava nos bares parisienses de Pigalle, entre uma litografia e outra. Dizem as resenhas da época, que mentia tão bem quanto pintava cartazes dos shows da época. Como todos sabem, Lautrec tinha um defeito físico. Tinha as pernas curtas. 

Adorar o próprio umbigo → Adão e Eva, evidentemente não tinham umbigo, por motivos óbvios. Já Caim e Abel tinham. Consta em edições paralelas à Bíblia (edições em aramaico, ainda não disponíveis no Brasil), que Eva (a primeira Jocasta), que sempre sonhou em ter o próprio umbigo, adorava o umbigo de Abel, despertando ciúmes edipianos e doentios em Caim. O resto da história você sabe: foi aquela tragédia. 

Amarrar a cara → A República francesa foi proclamada em setembro de 1792. Instituiu-se um Conselho Executivo como governo, formado por pequenos burgueses, mas dependia das decisões da Convenção para implantar uma política definida. O rei Luís XVI foi julgado e condenado. Em 21 janeiro de 1793 foi decapitado na guilhotina. Mas pediu que seu rosto fosse amarrado para não ver a cerimônia. Foi para provar que estava zangado e não concordava com aquilo. Províncias francesas sublevaram-se contra o governo central girondino e exércitos estrangeiros invadiram a França, todos com a cara amarrada, novo símbolo dos rebeldes. Talvez venha daí os nossos jovens “caras pintadas. 

Ao pé do ouvido → Ouvido não tem pé, é claro. Mas Ovídio, o grande poeta, tinha. Não só tinha, como era tarado por pés, como se verá a seguir. Na verdade, a expressão incial era “ao pé de Ovídio”. E tem sua explicação. Como todos sabem, Ovídio, homossexual e pedófilo, tinha uma escolinha de poesia para os jovens adolescentes e ficava a segredar e a falar baixinho com eles depois das aulas noturnas. Logo os pais se rebelaram com aquela libertinagem dos seus filhos ficarem sempre “ao pé de Ovídio”. No que Ovídio respondia: 

- Quidquid tentabam dicere versus erat. (ou seja: tudo o que tentava dizer, era versos). 

Aquela que matou o guarda → Engana-se quem pensa que “aquela que matou o guarda” foi a cachaça. Tratava-se de uma mulher que trabalhava para D. João VI e se chamava Canjebrina, que como informam os dicionários, significa pinga, cachaça. Ela teria matado um dos principais guardas da corte do Rei. O guarda era seu marido e estaria de caso com dona Carlota Joaquina. Portanto, teria sido a Canjebrina que teria matado o guarda. Nunca nada ficou provado. Mas está no livro “Inconfidências da Real Família no Brasi”, de Alberto Campos de Moraes. A partir daí, canjebrina virou mais um dos sinônimos da cachaça.


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