Catulo da Paixão
Cearense
Um
pássaro engaiolado,
mestre
de canto e harmonia,
disse
a um relógio cansado
de
tanto dar meio-dia:
–
Relógio, isto não tem jeito!
Até
parece chalaça!
Eu
canto sem ter proveito
e
tu trabalhas de graça!
Queres
ouvir um conselho?
Vê
lá se é do teu agrado:
Tu
te conservas parado,
eu
fecho a minha garganta,
fazendo
como esse espelho,
que
não dá horas nem canta!
Eu
já estou desencantado
de
cantar sem resultado.
*****
E
disse o relógio: – Amigo,
o
mesmo se dá comigo.
Mas
o espelho disse: – Não!
Nenhum
dos dois tem razão.
Nenhum
pássaro gorjeia,
sem
ter a barriga cheia.
Nenhum
relógio tem vida
sem
o sustento da corda,
que
a corda é a sua comida.
*****
Eu
vivo neste abandono,
sem
dar despesa ao meu dono.
Sem
comer corda ou alpista,
Trabalho,
e, nesta canseira,
estou
sempre retratando,
pois,
quer queira, quer não queira,
tenho
de ser retratista!
E,
desde que fui criado
e
comecei a espelhar,
nunca
vi um retratado,
que
em mim se vindo mirar,
dissesse:
– Muito obrigado
que
é modo civilizado
de
se pagar, sem pagar.
*****
Obrigada pela postagem deste poema que é pra mim quase uma epifania. Uma das minhas memórias afetivas mais antigas.
ResponderExcluirMeu pai, quando eu era criança, ficava à noite, à mesa depois do jantar, me ensinando este conto. Há
ResponderExcluir43 anos aprendi. E sei até hoje de cor. De cor... ação. Muito obrigada por essa postagem
Estudei essa poesia com uma professora há 60 anos! Sei de cor até hoje! Muito bom revê-la.
ResponderExcluirEstudei essa poesia no ano de 1970 gosto muito nunca esqueci
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