Ele amava este mar contemplando sua
prateada superfície, muitas vezes predicou ali suas parábolas. E num vale
vizinho deu de comer a cinco mil pessoas com cinco pães e alguns peixes. As
cristalinas águas espumantes de um braço do Rio Jordão, que descem saltando dos
cerros, formam este mar que ri e que canta sob a carícia do sol.
Os homens edificam suas casas perto
dele; e os pássaros, seus ninhos. E tudo quanto ali vive é feliz, apenas por
estar às suas margens.
O Jordão desemboca ao Sul em outro
mar. Ali não há movimentos de peixes, nem sussurros de folhas, nem canto de
pássaros, nem risos infantis. Os viajantes evitam esta rota, a menos que a urgência
de seus negócios os obrigue a segui-la. Uma atmosfera densa paira sobre as
águas desse mar que nem o homem, nem a besta, nem a ave bebe jamais.
A que se deve esta enorme diferença
entre dos mares vizinhos?
Não se deve ao rio Jordão, tão boa é
a água que lança num como no outro. Também não se deve ao solo que lhes serve
de leito e nem às terras que circundam. A diferença se deve a isto: O Mar da
Galileia recebe as águas do rio Jordão, mas não as retém ou as conserva em seu
poder. Para cada gota que entra, sai uma gota. O dar e o receber se cumpre ali
em idêntica medida.
O outro mar é avaro e retém, com
ciúmes, o que recebe. Jamais é tentado por impulso generoso. Cada gota que ali
cai, é gota que ali fica.
O Mar da Galileia dá e vive.
O outro não dá nada e chama-se Mar
Morto.
Há duas classes de gente neste
mundo...
Há dois mares na Palestina...
(Texto de Paulo Rogério Petrizi)
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