Cornélio Pires:
1884-1958
Boa desculpa
Nhô Lau era bom homem, possuindo um sítio em que plantava de
tudo, à margem do rio Tietê.
Ultimamente notara que as suas roças de milho estavam sendo
“broqueadas”. Ao ver tanto milho quebrado, atribuiu o estrago às capivaras,
pois não podia acreditar que os seus vizinhos, todos compadres, fossem capazes
de furto.
A fim de defender a roça mandou
fazer profundo fojo (foge na expressão dos caipiras) nos carreiros, cobrindo-os
com ligeira camada de sapé e terra. À tardinha viu arrematarem o serviço e
partiu satisfeito para casa.
‒ Amanhã cedo voltaremos e vamos almoçar lombo de capivara...
‒ Nois vai tê paçoca da boa, somana intera... comentou o Zé
Boliero.
No outro dia, pela manhã, de longe bradou Nhô Lau:
‒ Eu não dizia! Lá está o foge destapado! Pegamos já uma!
Ao chegar à borda do profundo buraco, notou, com espanto,
uma capivara deitada de cansaço e o seu compadre Julião, todo esfolado, meio
escondido por trás de um grande saco cheio de milho...
‒ Ô c´os diabos! Descurpe, compadre! Gritou Nhô Lau para
baixo.
Jogou uma corda e continuou:
‒ Me esqueci de mandar avisar o
compadre que tinha feito os foges... E aqui é o atalho por onde o compadre
costuma passar...
‒ Foi o diabo! Comentou lá embaixo Julião, agarrando-se à
corda para ser guindado.
Nhô Lau, sempre bonachão, bradou-lhe:
‒ Amarre o saco de milho pra subir junto, compadre.
‒ O saco de mio num é meu... Só se é da capivara...
Sítio
do caboclo
Pouco
distante da aguada,
no
chapadão que além vira,
uma
casinha barreada,
de
uma família caipira.
A
cerca de pau-a-pique,
logo
ao chegar se depara;
dá
ao quadro um quê de chique
uma
porteira de vara.
No
oitão da casa um poleiro,
e
um leitãozinho a fuçar...
e
num canto do terreiro,
uma
pedra de afiar.
Do
telhado sob as beiras,
o
córrego de enxurradas,
formado
pelas goteiras,
no
tempo das chuvaradas.
Num
cocho perto da porta
come
milho um punga baio,
e
um homem taquaras corta
para
fazer um balaio.
Um
caboclinho indolente,
que
baixinho cantarola,
recostado
no batente,
vai
ponteado a viola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário