Estamos em 1960. Joãozinho não
fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à
secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com
a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o
ocorrido dos pais com medo de alguns "cascudos" em casa, mas voltou a
se comportar e nunca mais perturbou a classe.
Vamos para 2016. Joãozinho é
mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com
transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O
garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um
filho incapaz e ainda processam a escola.
Voltamos para 1960. Luizinho
quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um
corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo,
cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso.
Estamos em 2016. O pai de
Luizinho é processado por maus-tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho
volta-se para as drogas, delínque e é colocado numa casa de recuperação para
adolescentes.
Outra volta a 1960. Paulinho cai
no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando
e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua
brincando.
Pátio em 2016. A professora é
acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo
susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora, por
negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se
suicida.
Retorno a 1960. Qualquer bagunça
na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em
casa sabíamos o que nos esperava...
Em 2016, bagunça na aula
resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais
vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho
para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos?
Férias
Nossas férias em 1960 eram uma
ida única à praia num Gordini ou num Fusca. Os 15 ou 20 dias relaxavam a
família, com o lazer do jogo de cartas, víspora ou uma boa leitura e muita
praia e passeio nos cômoros.
Em 2016, voltamos de Cancun numa
viagem a ser paga em 12 vezes, cansados, e com a ansiedade de uma readaptação
ao nosso cotidiano.
Trabalho
Em 1960, quando um funcionário
era flagrado fazendo "cera" recebia uma severa advertência do chefe
e, envergonhado na frente dos colegas, tomava jeito e ia trabalhar.
Em 2016, o chefe tem cuidado em saber o que
estava ocorrendo com o funcionário que "desestressava" no horário de
trabalho. Mesmo assim, o "trabalhador" acusa-o de bullying e assédio
moral, processa a empresa que toma uma multa, paga indenização e demite o
chefe.
Bingo!
Nesta semana,* uma professora foi
agredida a socos e pontapés por um aluno de 7 anos, em Santa Maria. O
menino foi encaminhado a um psicólogo, e o pai não compareceu à escola,
alegando que estava no trabalho.
*O texto é de 2012.
(Rogério Mendelski – no Correio do Povo)
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