terça-feira, 15 de novembro de 2016

Avançamos ou regredimos?



Estamos em 1960. Joãozinho não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o ocorrido dos pais com medo de alguns "cascudos" em casa, mas voltou a se comportar e nunca mais perturbou a classe.

Vamos para 2016. Joãozinho é mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e ainda processam a escola.

Voltamos para 1960. Luizinho quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo, cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso.

Estamos em 2016. O pai de Luizinho é processado por maus-tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho volta-se para as drogas, delínque e é colocado numa casa de recuperação para adolescentes.

Outra volta a 1960. Paulinho cai no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua brincando.

Pátio em 2016. A professora é acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora, por negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida.

Retorno a 1960. Qualquer bagunça na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em casa sabíamos o que nos esperava...

Em 2016, bagunça na aula resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos?

Férias

Nossas férias em 1960 eram uma ida única à praia num Gordini ou num Fusca. Os 15 ou 20 dias relaxavam a família, com o lazer do jogo de cartas, víspora ou uma boa leitura e muita praia e passeio nos cômoros.

Em 2016, voltamos de Cancun numa viagem a ser paga em 12 vezes, cansados, e com a ansiedade de uma readaptação ao nosso cotidiano.

Trabalho

Em 1960, quando um funcionário era flagrado fazendo "cera" recebia uma severa advertência do chefe e, envergonhado na frente dos colegas, tomava jeito e ia trabalhar.

Em 2016, o chefe tem cuidado em saber o que estava ocorrendo com o funcionário que "desestressava" no horário de trabalho. Mesmo assim, o "trabalhador" acusa-o de bullying e assédio moral, processa a empresa que toma uma multa, paga indenização e demite o chefe.

Bingo!

Nesta semana,* uma professora foi agredida a socos e pontapés por um aluno de 7 anos, em Santa Maria. O menino foi encaminhado a um psicólogo, e o pai não compareceu à escola, alegando que estava no trabalho. 

*O texto é de 2012.  

          (Rogério Mendelski – no Correio do Povo)



Nenhum comentário:

Postar um comentário