Foto de Alceu Feijó
Os meus contemporâneos e até mais
jovens lembram-se desta verdadeira febre entre os guris do tempo das calças
curtas e uso de suspensório, pés descalços, cabelos rapados, caminhos de rato,
com um topete a la Ronaldo
da copa (imitou-nos?).
O corte de cabelos era feito em casa
por nosso pai, sábados, depois do banho, com uma máquina que já havia cortado
os cabelos de todos os irmãos. Quando chegou a minha vez, não tinha mais fio.
Era um suplício, eis que muitos fios eram literalmente arrancados.
Espero que
gostem.
O jogo de bolas de gude (bolitas)
representava uma verdadeira febre entre os amigos da época. Marcou muito nossa
infância. Segundo os mais velhos, antigamente o jogo era feito com as bolitas
de vidro que vedavam as garrafas de “gasosa”, refrigerante de limão. As bolitas
eram retiradas quebrando-se as garrafas… Muita chinelada deve ter sido dada
pelas garrafas quebradas para confeccionar as bolitas. Mais tarde eram vendidas
nos armazéns e botecos.
Era jogado num terreno
preferencialmente plano, onde se desenhava um triângulo em que eram postas as
bolitas e uma linha reta a certa distância do mesmo, chamada de raia. Cada
jogador lançava sua “joga” o mais próximo possível da linha. Quem ficasse mais
próximo era o primeiro a jogar. Os jogadores deveriam acertar as bolitas do
triângulo e aquelas que saíssem eram suas. Levava vantagem aquele que tivesse a
melhor mira.
Tínhamos colegas exímios na arte de
acertar e esta fama logo se espalhava na localidade, pois “pelavam” os
adversários em poucas horas, isto quando o jogo era considerado “às deva” ou
“verdas” e quando não valia nada era “às brincas”. Termos usados naquela época,
que significavam apostas de perder ou ganhar as bolinhas de gude que o jogador
conseguisse acertar e tirá-las do triângulo e o outro termo quando não havia
aposta, era jogo de brincadeira.
Nem sempre a jogadeira ou “joga” era
a bolita mais vistosa. Muitos raspavam a “joga” para ficar áspera e não
escorregar na hora da jogada. Alguns usavam uma joga de aço, tirada de
rolamentos velhos, que muitas vezes era proibida, pois seguidamente quebrava as
outras bolitas.
As bolitas mais bonitas, que
chamávamos de argentinas, tinham desenhos internos no vidro. Os meninos mais
abonados tinham bolitas alemãs, de ágata. Tinha também os bolões, que eram
bolitas com o dobro de diâmetro das normais.
No jogo, a mira era feita com a bola
colocada na ponta do indicador e impulsionada pela unha do polegar. Quem jogava
assim era considerado um ás…Os que mantinham a bolita acomodada no interior do
indicador e impulsionada pela unha do polegar, dizia-se que jogava “cu de
galinha”…
Nos jogos “às ganha” aconteciam muitas
discussões e brigas entre a gurizada. Ninguém gostava de perder, senão teria
que comprá-las no armazém e nem sempre o pai liberava os “pilas”, como
chamávamos o dinheiro daquele tempo. Era muito escasso.
As bolinhas eram carregadas num saquinho
de pano, que as mães costuravam em
casa. Não trazíamos todo o estoque para os jogos. As mais
bonitas ficavam numa caixa que servia de depósito. As argentinas, famosas pelo
colorido, quando colocadas para serem apostadas no jogo, conforme o estado, por
exemplo, novinha valia duas ou mais das comuns. O troco era dado na hora. As
lascadas não valiam quase nada. Para cada bolinha nova, eram colocadas diversas
danificadas. As regras do jogo todos conheciam.
Brincadeiras muito comuns nas casas
dos amigos e na escola. Antes de entrar na sala de aula, o professor recolhia
os sacos de bolita, pois fazia muito barulho e atrapalhavam as aulas. No fim
eram devolvidas…
Nunca fui muito bom nesta prática, pois
jogava “cu de galinha”, comum para quem
aprendia quando criança. Jogava somente “às brincas”, não iria me meter com os
“cobras” da bolinha de gude. Eram certeiros na pontaria, acertavam de longe e
geralmente “pelavam” as bolitas daqueles que não tinham a mesma habilidade.
(Do Blog do Clovis)
Li esse texto com uma alegria, de recordar meu tempo de moleque, joguei muito, quase sempre as ganhas, eu tenho uma recordação fantástica, pelo menos pra mim, eu morava no interior, e um primo da capital foi passar as férias na nossa casa, ele trouxe bolinhas de gude que nunca tinha visto, coloridas novas uma preciosidade, claro que eu desafiei, em resumo rapei ele, o restante das férias tentou reaver mas não conseguiu, agora imaginem quando começou às aulas, só eu tinha bolinhas diferente, que tempo bom, sinto saudade
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