Antonio Maria (Recife, 17.03.1921 /
Rio, 15.10.1964). Compositor (autor de Ninguém me ama), cronista, radialista,
homem de TV. Entre 1950 e 1964, ele escreveu praticamente todos os dias nos
jornais do Rio, algo próximo a 3 mil crônicas.
Consultório Sentimental foi uma das
mais deliciosas invenções de Antonio Maria na sua atividade nos jornais. Na
Última Hora, entre 1959 e 1961, No Diário da Noite, entre 1961 e 1962, e em O Jornal , até outubro de
1964, ele respondeu às cartas dos leitores. Muitas eram forjadas pelo próprio
Maria, é claro. Mas a ideia surgiu quando, depois de lerem crônicas carregadas
de situações sentimentais, alusões a adultérios e outras complicações da vida
românticas, alguns leitores pegaram da pena e escreveram seriamente para o
jornalista que tanto parecia entender do assunto. Queriam uma luz na escuridão
da dúvida. Separar hoje o que chegou pelo correio e o que foi inventado na
redação é impossível. E desnecessário. Importa saborear o humor que Maria
conseguiu com aqueles textos curtinhos.
01) “Sr. Antonio Maria, meu
namorado sua muito debaixo do braço”.
→ Só debaixo dos braços, Mariza?
Divirta-se na área enxuta, que é a maior parte do seu namorado.
02) “Sr. Antonio Maria, é verdade que os casais se aproveitam da
escuridão da boate?”
→ Muito. E levam os cinzeiros, as xícaras, os talheres e os
guardanapos.
03) Reinaldo: “Sr. Antonio Maria, estou noivo há
dois anos e só agora descobri que Berenice, minha noiva, só tem três dedos na
mão esquerda.”
→ Mas se ela tiver sete na mão
direita dá no mesmo, Reinaldo. O negócio é ter dez dedos na hora de mostrar.
Verifique e volte a escrever-me.
04) Jandira (São Luís): “Meu filho,
Eleutério, veste-se mal, porque quem lhe escolhe as roupas é o pai”.
→ E o nome, foi a senhora quem escolheu?
05) Laís Pimenta (Rio): “E foi por
isso, exclusivamente por isto, que abandonei o meu marido”.
→ O “exclusivamente por isto” a que se refere Laís foi o seguinte: o marido chegou em casa, despiu-se completamente, surrou a sogra, o sogro e trancou-se no quarto da empregada, com empregada e tudo, durante 72 horas.
06) Dalita: “Já me casei três vezes,
e em nenhum dos meus maridos encontrei aquilo que eu esperava.”
→ Mas você procurou bem, Dalita?
Em todos os bolsos?
07) Claúdia Rúbia: “Sou, enfim, uma
mulher muito bonita. Que devo fazer para ingressar no cinema?”
→ Comprar a entrada. O fato de
você ser bonita não quer dizer que entre de graça nos cinemas.
08) Carlota Rios: “Me garantiram que
você não fala uma palavra em inglês – não acredito.”
→ Acredite, Carlota. A gente deve
ser ignorante numa língua só.
09) Sinésio Carmo: “Minha mãe, uma
senhora de 65 anos, vai operar o menisco. Terá que ficar longo tempo em repouso
e...”
→ É claro, Sinésio, repouso
absoluto. E jogar futebol, nem pensar.
10) Helena: “Estou espantada porque
meu filho, de 15 anos, me contou que teve uma aventura com uma mulher. Disse
que a conheceu, de volta do Rian, ali mesmo na calçada do cinema.”
→ Ficará ainda mais espantada
quando o médico lhe mandar a conta. As moças da calçada do Rian são caríssimas.
11) Alfredo: “Queria ser uma pessoa
que, quando passasse na rua, todo mundo olhasse, comentasse, apontasse.”
→ Você está querendo ser Martha
Rocha*, não é, Alfredo?
12) Raul Bahia: “Além de ter feito
todos os tratamentos modernos, agarrei-me a todos os santos, para deixar de beber.
Cheguei a passar seis dias sem ingerir uma gota de álcool.”
→ E no sétimo dia descansou...
não foi, Raul? Deus, quando fez o mundo, também foi assim.
13) Maria Félix (Nova Iguaçu): “Sou
uma moça bonita e vivo metida neste buraco. Aqui, não serei nada. Queria e
podia ser uma pessoa como a Norma Benguel e Conchita Mascarenhas.”
→ Você quer botar as pernas de
fora, não é, Maria Félix? Pois se você acha que a mulher só é alguma coisa
quando bota as pernas de fora, recorte este pedaço de jornal e procure, em meu
nome, o empresário Carlos Machado. Antigamente, M.F., as moças de sua idade
diziam: “Queria ser como Santa Terezinha e Santa Rita de Cássia.”
14) Paulino: “Minha mulher trabalha e
ganha bastante. É ela que, praticamente, mantém a casa. Tenho uma enorme
vergonha disto tudo.”
→ Não se deixe levar pela
vergonha, Paulino. A vergonha é, no fundo, uma demonstração de vaidade.
15) Horácio Veiga (Contando um
fracasso de amor); “Foi a mulher mais bonita que eu já vi. Consegui que ela me
desse o número do telefone. Mas não consegui nunca ter nada com ela.”
→ Porque você, Horácio, fez as
coisas ao contrário. Primeiro devia ter tido, com ela, isto que os homens
chamam de “alguma coisa”. Depois, então, pedir-lhe-ia o número do telefone.
16) Maria Caldas: “Quero trabalhar,
ser independente, mas ninguém me leva a sério, porque sou bonita. Cada dono de
empresa a quem vou oferecer meus serviços, me convida para jantar e, depois,
faz aquele outro convite que não preciso explicar.”
→ Maria, não estou insinuando que
você deva aceitar um só ou dois convites. Mas, no caso de aceitar os dois,
recomendo-lhe que deixe o jantar para depois.
17) Marietinha: “Meu marido teve uma
briga muito feia com a minha mãe. Os dois se esbofetearam e se unharam. Minha
situação é delicada. Não sei o que deva fazer, porque os três, desde o meu
casamento, moramos juntos. De que lado devo ficar?”
→ Só você pode resolver,
Marietinha, se deve mudar de mãe ou de marido. Ou de mãe e de marido. O
principal é que você viva em felicidade.
18) Maria Lúcia: “Na época em que o
senhor recomendava dietas pelo jornal, eu cheguei a perder 20 quilos. Meu
marido, muito mais gordo que eu, perdeu 27. Quando o senhor parou, nós
engordamos outra vez. Estamos mais gordos do que éramos antes.”
→ Maria Lúcia, você e seu marido
devem continuar gordos. Para que fazer regimes tão cruéis? Comprem uma cama
mais larga.
19) Cristina: “Sonhei com você e, no
sonho, você estava de terno branco e gravata-borboleta.”
→ Não posso impedir que alguém
sonhe comigo. Mas pedir que, quando sonhar outra vez, o meu terno não seja
branco, posso.
20) RT: “Depois que calcei os sapatos
foi que o moço me disse o preço: 3 mil cruzeiros. Só podia dispor, naquele dia,
de 1.500. É um absurdo que nosso comércio etc.”
→ Meu caro, eu, se fosse você,
teria comprado um pé e, quando tivesse mais 1.500 cruzeiros, compraria o outro.
Queixar da alta de preços não adianta.
21) Armando Guedes (GB): “não sei
como dizer à minha futura esposa que me faltam três dedos no pé esquerdo.”
→ Armando, Deus quando fez o
homem cometeu alguns excessos. Os dedos dos pés, por exemplo. Por que e para
que tantos? Dez, por quê? Não tem a menor utilidade e só trazem aborrecimentos,
como calos, pisadelas e unhas encravadas. Hoje mesmo, quando estiver em casa de
sua noiva, tire o sapato, a meia (pé esquerdo) e diga uma coisa mais ou menos
assim: “Olhe aqui, esse negócio de dedo de pé é besteira. Aos pouquinhos eu
estou mandando tirar.”
22) Lucienne François: “Estou
gostando de um homem casado.”
→ Sabe, Lucienne? Recebo muitas
cartas. Nunca houve alguém que me dissesse: “Estou gostando de um homem
solteiro.”
23) Tião (GB): “Eu e minha mulher
moramos com a minha sogra. Agora descobri que a minha cunhada está apaixonada
por mim. Não é suposição minha e, sim, paixão declarada. Que devo fazer? Não
quero que minha mulher saiba. Que ninguém saiba.”
→ Tião, você desse tamanho
morando com a sogra? Arranje um empreguinho e mude-se para um apartamento seu,
onde sua cunhada vá o menos possível. É preciso trabalhar, Tião. Não siga o
exemplo do governador de sua cidade. Trabalhe, Tião.
24) Marietinha: “Tenho só 1,60 m e acho muito pouco.”
→ Você diz que tem 1,60 m , mas não explica,
Marietinha, se é de altura. Se for de largura, é muito.
*Martha Rocha foi Mis Brasil nos anos 50.
(Frases do livro
“Seja feliz e faça os outros felizes
– Crônicas de humor de Antonio Maria,
– Crônicas de humor de Antonio Maria,
De Joaquim Ferreira
dos Santos)
Muito bom, dei muitas gargalhadas
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