Luis Fernando
Veríssimo
Na festa dos 34 anos da Clarinha,
o seu marido, Amaro, fez um discurso muito aplaudido. Declarou que não trocava
a sua Clarinha por duas de 17, sabiam por quê? Porque a Clarinha era duas de
17. Tinha a vivacidade, o frescor e, deduzia-se, o fervor sexual somado de duas
adolescentes.
No carro, depois da festa, o Marinho comentou:
‒ Bonito, o discurso do Amaro.
‒ Não dou dois meses para eles se separarem ‒ disse a Nair.
‒ O quê?
‒ Marido, quando começa a elogiar muito a mulher…
Nair deixou no ar todas as implicações da duplicidade
masculina.
‒ Mas eles parecem cada vez mais apaixonados ‒ protestou
Marinho.
‒ Exatamente. Apaixonados demais.
Lembra o que eu disse quando a Janice e o Pedrão começaram a andar de mãos
dadas?
‒ É mesmo…
‒ Vinte anos de casados e de repente
começam a andar de mãos dadas? Como namorados? Ali tinha coisa.
‒ É mesmo…
‒ E não deu outra. Divórcio e litigioso.
‒ Você tem razão.
‒ E o Mário com a coitada da
Marli? De uma hora para outra? Beijinho, beijinho, “mulher formidável” e
descobriram que ele estava de caso com a gerente da loja dela.
‒ Você acha, então, que o Amaro tem outra?
‒ Ou outras.
Nem duas de 17 estavam fora de cogitação.
‒ Acho que você tem razão, Nair.
Nenhum homem faz uma declaração daquelas assim, sem outros motivos.
‒ Eu sei que tenho razão.
‒ Você tem sempre razão, Nair.
‒ Sempre, não sei.
‒ Sempre. Você é inteligente,
sensata, perspicaz e invariavelmente acerta na mosca. Você é uma mulher
formidável, Nair. Durante algum tempo, só se ouviu, dentro do carro, o chiado dos
pneus no asfalto. Aí Nair perguntou:
‒ Quem é ela, Marinho?
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