domingo, 9 de julho de 2017

O inventor do Corpo de Bombeiros

(Excerto)

Crasso era homem e virou adjetivo, mas, antes disso, fez coisas importantes, como inventar o Corpo de Bombeiros.

É que incêndios ocorriam amiúde em Roma, sobretudo nos bairros mais pobres. Nesses lugares, as construções típicas eram as insulae, prédios frágeis de madeira ou tijolo, que alcançavam seis ou sete andares de altura. Eram tão próximos uns dos outros, e tão precariamente erguidos, que às vezes se tocavam na parte de cima.

As famílias romanas viviam em apartamentos minúsculos, sem banheiros ou esgoto. Faziam suas necessidades em penicos e, quando queriam se livrar delas, despejavam-nas pela janela, e ai de quem passasse embaixo.

Esses edifícios, quando um deles pegava fogo, todos no entorno queimavam, fosse pela contiguidade, fosse pela fartura de material combustível. Crasso, que já era rico e mais rico se tornou, viu o problema e imaginou a solução. Reuniu um grupo de escravos e os treinou como os primeiros bombeiros da história. Ideia genial e, aparentemente, generosa. Nem tanto. Crasso fazia o seguinte: quando irrompia um incêndio, corria para o local com seus homens. Parava ao lado do proprietário, este obviamente desesperado, e fazia a proposta:

‒ Se você me vender essa propriedade, eu apago o fogo. Se não vender, deixo que queime até o chão e você fica sem nada.

Como ficar com alguma coisa é melhor do que ficar sem coisa alguma, os proprietários aceitavam a primeira proposta de Crasso e vendiam barato o prédio em chamas. Aí Crasso ordenava que o fogo fosse apagado, reformava o lugar e o revendia a bom preço ou alugava.

Essa operação imobiliária era tão lucrativa, que, quando não havia incêndios, o próprio Crasso dava um jeito de providenciá-los através de outro corpo bem treinado, só que de incendiários.

(David Coimbra – Zero Hora, julho de 2017)


Erro crasso

→ A sua origem remonta ao nome de Licinius Crassus, um dos membros do primeiro triunvirato. Reza a história que Crassus, enviado como próconsul para a Síria em 53 a.C., partiu daquele território, movido pela ambição, para uma campanha contra os Partos, que redundou num enorme desastre, pela estratégia que adotou.

→ A memória da sua desastrosa estratégia chegou até nós, pelo fato de o seu exército ter sido completamente destroçado.

→ Quando se fala de “erro crasso”, significa que se trata de erro muito grave.

(Tese da internet)

O general Crasso e o erro homônimo

→ De acordo com uma tese que faz sucesso na internet, o adjetivo crasso – que significa “grosseiro” e ganha a vida quase exclusivamente como auxiliar do substantivo erro – também teria origem num sobrenome ilustre da Roma antiga. No caso, o do ricaço, general e político Marcus Licinius Crassus, ou Marco Licínio Crasso, membro do primeiro triunvirato romano ao lado de Pompeu e Júlio César.

→ Os erros grosseiros teriam ganhado esse nome em referência aos graves equívocos de estratégia militar cometidos por Crassus ao perder em 53 a.C. a batalha de Carras, que lhe custou a vida.

→ A história é pitoresca e tentadora, como costumam ser as lendas que enriquecem o acervo da etimologia romântica. No entanto, é preciso registrar que nenhum filólogo de respeito lhe dá crédito.

→ A origem de crasso, segundo os estudiosos, é simplesmente o adjetivo latino crassus, que a princípio queria dizer apenas “gordo, espesso” e que só adquiriu por figuração, ainda em latim, o sentido de “grosseiro, tosco, rude”. Trata-se da mesma palavra, aliás, que está na raiz do substantivo graxa (que a princípio queria dizer “feito de gordura”).

→ Se o adjetivo crassus, que já era empregado pelo dramaturgo Plauto quase um século antes de Marco Licínio Crasso nascer, goza de todos os atributos para ter dado origem ao nosso crasso, inclusive na acepção de grosseiro, uma possível participação do general no sucesso da expressão “erro crasso” poderia ter no máximo um papel coadjuvante. No entanto, mesmo assim precisaria ser confirmada por fontes históricas – que nunca apareceram.

(Sérgio Rodrigues – Sobre Palavras – Revista Veja)


4 comentários:

  1. Qual a Fonte, desse artigo, sobre bombeiros romanos ?

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  2. Está citado na matéria: da coluna de David Coimbra, do jornal Zero Hora de Porto Alegre, RS.

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  3. Me desculpem, discordo da imputação a este político romano da invenção de um verdadeiro Corpo de Bombeiros, o grupo que ele mantinha não tem as características de um Corpo de Bombeiros, mas sim mercenários a seu serviço que vendiam serviços de combate a incêndio, mas, principalmente, eram oferecidos para reconstruir prédios, quando muito bem pago seu chefe e também para reconstruir prédios muito ardilosamente comprados a preço módico após incêndios. Tal título deveria ser atribuido a Augusto que criou os "Vigili"

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    1. Na verdade, o grupo comandado por Crasso mais parecia uma “Milícia”, como as que agem no Rio de Janeiro, “dando uma segurança duvidosa”, extorquindo os moradores das comunidades em que eles agem.

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