O burocrata acorda e abre a boca,
segundo ordena a RIPD – Regras Imediatas Para o Despertar. Confere os botões do
pijama, vê que está faltando um, anota a quantia deles numa folha ao lado,
data, assina e carimba.
Tranca-se no banheiro, até que lá fora se forma uma fila imensa (mulher,
empregada e cinco filhos) que começa a agitar. O burocrata dá um sorriso (ele
só consegue sorrir diante de filas insatisfeitas). A mulher grita: “escova os
dentes”. E ele escova. “Toma banho”. E ele toma. O burocrata adora cumprir
ordens. Confere o número de furos do chuveiro, anota, data, assina e carimba.
Senta-se à mesa da copa, também
chamada de RDPD – Repartição Doméstica do Pão Diário, lê seu jornal favorito –
o Diário Oficial da União. Encaminha um ofício à empregada solicitando um
pedaço de pão com manteiga. A manteiga vem estragada e imediatamente é
instaurado um inquérito administrativo. Em seguida ele palita os dentes e com o
palito confere o número de molares, pré-molares e caninos. Anota, data, assina
e carimba.
Deixa com a esposa o dinheiro, também
chamado de previsão orçamentária – do dia: dez reais. O burocrata é notoriamente
um pão-duro.
A mulher quer beijá-lo, mas ele olha
o relógio – oito horas – sente muito, o expediente está encerrado, agora só
amanhã, pois agora tem que ir para a repartição e aguentar aquela monotonia o
dia inteiro.
(Do Almanaque do
Humordaz. Procópio)
*****
A história do Humordaz começou no
jornal Estado de Minas, mais precisamente em uma pequena coluna assinada pelo
Procópio, que aos poucos foi crescendo, quando então a convite vieram os
cartunistas Lor e Nilson, além do Dirceu, que se intitulava como frasista.
Tomando cada vez mais espaço na
página graças à crescente aceitação dos leitores, o time de colaboradores
aumentou com a presença de Afo, Benjamin e Mário Vale, e o resultado foi uma
página inteira com o melhor do humor produzido em Minas Gerais ,
publicada todos os sábados no segundo caderno, batizada como Humordaz.
*****
Burocratas
→ A mulher do burocrata está grávida há nove anos.
→ Os burocratas usam vírgulas demais.
→ Os burocratas, quando crianças, brincavam com tartarugas.
→ As mães dos burocratas jogam paciência durante a gestação.
→ O pensamento dos burocratas é cheio de esquinas.
→ Os burocratas xingam pelos canais competentes.
→ O noivado do burocrata dura em média uma aposentadoria.
→ Os burocratas morrem de labirintose.
(Torquato Ssó, no
livro “QI 14” )
Imagem da internet
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