Nonada
Guimarães Rosa foi um grande criador
de palavras novas. A primeira palavra de seu livro Grande Sertão: Veredas, nonada (não e nada) é um neologismo, ou
seja, uma palavra inventada pelo autor para demonstrar algo que é insignificante,
uma ninharia. Outros exemplos:
Aboborar → estar deitado
Adormorrer → morrer dormindo
Arreleque → asas abertas em forma de leque
Bedelengar → badalar (o sino)
Bembaratar → gastar; empregar de forma conveniente
Boólatra → amante de bois
Brisbrisar → soprar a brisa
Carantonha → cara feia e grande
Coraçãomente → cordialmente
Destamanho → muito grande
Discardume → dispersão do cardume
Escafuar → fazer sair, escafeder
Estramontar → ficar desorientado, perder a tramontana
Extraordem → fora do comum
Fazejo → acostumado, à vontade, a gosto
Fluifim → pequenino, gracioso
Friúme → frio
Gateza → agilidade, ligeireza semelhante à de gato
Izinvernar → passar o inverno, época das chuvas
Lagalhé → João-ninguém, indivíduo insignificante
Luzluzir → fazer reluzir
Manantra → chefe, maioral
Mangonha → astúcia, manha
Muquirana → espécie de piolho
Nédio → gordo, de pelo lustrosa
Ousoso → ousado, rápido
Parapatas → confusão, dificuldade
Peitavento → peitar o vento
Potoca → mentira, lorota
Proposituído → propósito estabelecido
Quiriri → sonolência
Repimpar → acomodar-se
Ressupino → deitado de costas
Safirento → agitado, excitado, assanhado
Sanhudo → furioso, insaciável
Sofismundo → desconfiado, calado
Sofralda → sopé da montanha
Suspirância → suspiros repetidos
Tantamente → muito, tanto
Taramelagem → tagaralice, falatório
(Do Original
Almanaque – Dúvida Cruel, de Priscila Arida)
Continua...
Traduzindo Guimarães Rosa
Guimarães Rosa por
Fraga
→ Mestre em neologismos,
Guimarães Rosa faleceu aos 59 anos, em 1967, três dias após tomar posse na
Academia Brasileira de Letras
→ Talvez você se lembre de quando
aprendeu o que é um neologismo. Por via das dúvidas, vamos dar uma mãozinha:
trata-se de uma palavra nova, recentemente criada, fora dos dicionários e da
linguagem formal.
→ Na literatura brasileira, o
maior especialista em neologismos foi, provavelmente, o escritor mineiro João
Guimarães Rosa. A sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, por exemplo, tem
início com uma dessas palavras inventadas. Trata-se de nonada, um termo que
mistura “non” e “nada” para designar algo sem importância.
→ Essa é a explicação contida no
livro O Léxico de Guimarães Rosa, lançado em 2001, pela professora aposentada
de estilística Nilce Sant’anna Martins. A obra reúne a definição de cerca de 8
mil palavras formuladas ou resgatadas pelo autor mineiro. Tanta criatividade
deve-se ao hábito que ele nutria de estudar e ler em outros idiomas (conhecia
20, aproximadamente, incluindo o português arcaico) e de anotar as expressões
populares utilizadas no Sertão brasileiro.
→ Confira a seguir a tradução de cinco termos cunhados por
Guimarães Rosa. Talvez algum seja útil para você, qualquer dia desses…
Enxadachim → Designa um
trabalhador do campo, que luta pela sobrevivência. A palavra reúne “enxada” e
“espadachim”.
Taurophtongo → Significa mugido,
sendo a palavra uma junção de dois termos gregos, relativos a touro (táuros) e
ao som da sala (phtoggos).
Embriagatinhar → A mistura de
“embriagado” e “(en)gatinhar” serve para designar uma pessoa que, de tão
bêbada, chega a engatinhar.
Velvo → Adaptação do inglês velvet,
que significa “veludo”. Na linguagem de Guimarães Rosa, é o nome dado para uma
planta de folhas aveludadas.
Circuntristeza → Como a própria
palavra sugere, refere-se à “tristeza circundante”. Ficou para o final por ser
o meu neologismo favorito.
(Texto de Zero Hora)
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