sexta-feira, 28 de julho de 2017

Traduzindo Guimarães Rosa



Nonada

Guimarães Rosa foi um grande criador de palavras novas. A primeira palavra de seu livro Grande Sertão: Veredas, nonada (não e nada) é um neologismo, ou seja, uma palavra inventada pelo autor para demonstrar algo que é insignificante, uma ninharia. Outros exemplos:

Aboborar → estar deitado
Adormorrer → morrer dormindo
Arreleque → asas abertas em forma de leque

Bedelengar → badalar (o sino)
Bembaratar → gastar; empregar de forma conveniente
Boólatra → amante de bois
Brisbrisar → soprar a brisa

Carantonha → cara feia e grande
Coraçãomente → cordialmente

Destamanho → muito grande
Discardume → dispersão do cardume

Escafuar → fazer sair, escafeder
Estramontar → ficar desorientado, perder a tramontana
Extraordem → fora do comum

Fazejo → acostumado, à vontade, a gosto
Fluifim → pequenino, gracioso
Friúme → frio

Gateza → agilidade, ligeireza semelhante à de gato

Izinvernar → passar o inverno, época das chuvas

Lagalhé → João-ninguém, indivíduo insignificante
Luzluzir → fazer reluzir

Manantra → chefe, maioral
Mangonha → astúcia, manha
Muquirana → espécie de piolho

Nédio → gordo, de pelo lustrosa

Ousoso → ousado, rápido

Parapatas → confusão, dificuldade
Peitavento → peitar o vento
Potoca → mentira, lorota
Proposituído → propósito estabelecido

Quiriri → sonolência

Repimpar → acomodar-se
Ressupino → deitado de costas

Safirento → agitado, excitado, assanhado
Sanhudo → furioso, insaciável
Sofismundo → desconfiado, calado
Sofralda → sopé da montanha
Suspirância → suspiros repetidos

Tantamente → muito, tanto
Taramelagem → tagaralice, falatório

(Do Original Almanaque – Dúvida Cruel, de Priscila Arida)

Continua...

Traduzindo Guimarães Rosa


Guimarães Rosa por Fraga

→ Mestre em neologismos, Guimarães Rosa faleceu aos 59 anos, em 1967, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras

→ Talvez você se lembre de quando aprendeu o que é um neologismo. Por via das dúvidas, vamos dar uma mãozinha: trata-se de uma palavra nova, recentemente criada, fora dos dicionários e da linguagem formal.

→ Na literatura brasileira, o maior especialista em neologismos foi, provavelmente, o escritor mineiro João Guimarães Rosa. A sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, por exemplo, tem início com uma dessas palavras inventadas. Trata-se de nonada, um termo que mistura “non” e “nada” para designar algo sem importância.

→ Essa é a explicação contida no livro O Léxico de Guimarães Rosa, lançado em 2001, pela professora aposentada de estilística Nilce Sant’anna Martins. A obra reúne a definição de cerca de 8 mil palavras formuladas ou resgatadas pelo autor mineiro. Tanta criatividade deve-se ao hábito que ele nutria de estudar e ler em outros idiomas (conhecia 20, aproximadamente, incluindo o português arcaico) e de anotar as expressões populares utilizadas no Sertão brasileiro.

→ Confira a seguir a tradução de cinco termos cunhados por Guimarães Rosa. Talvez algum seja útil para você, qualquer dia desses…

Enxadachim → Designa um trabalhador do campo, que luta pela sobrevivência. A palavra reúne “enxada” e “espadachim”.

Taurophtongo → Significa mugido, sendo a palavra uma junção de dois termos gregos, relativos a touro (táuros) e ao som da sala (phtoggos).

Embriagatinhar → A mistura de “embriagado” e “(en)gatinhar” serve para designar uma pessoa que, de tão bêbada, chega a engatinhar.

Velvo → Adaptação do inglês velvet, que significa “veludo”. Na linguagem de Guimarães Rosa, é o nome dado para uma planta de folhas aveludadas.

Circuntristeza → Como a própria palavra sugere, refere-se à “tristeza circundante”. Ficou para o final por ser o meu neologismo favorito.

(Texto de Zero Hora)


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