sábado, 31 de maio de 2014

A crise e o vendedor de cachorros-quentes



Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros-quentes. Não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia os melhores cachorros-quentes da região.

Preocupava-se com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava.

As vendas foram aumentando e, cada vez mais, ele comprava o melhor pão e as melhores salsichas. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses.

O negócio prosperava… Os seus cachorros-quentes eram os melhores!

Com o dinheiro que ganhou conseguiu pagar uma boa escola ao filho. O garoto cresceu e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país.

Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo cachorros-quentes feitos com os melhores ingredientes e gastando dinheiro em cartazes, e teve uma séria conversa com o pai:

– Pai, o senhor não ouve rádio? Não vê televisão? Não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Há que economizar!

Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou: “Bem, se o meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, assina a revista Veja, assiste toda a noite ao jornal da Globo na televisão e lê as mensagens do facebook, acha isso, então só pode ter razão!”.

Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato (e, é claro, pior). Começou a comprar salsichas mais baratas (que eram, também, piores). Para economizar, deixou de mandar fazer cartazes para colocar na estrada. Abatido pela notícia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta.

Tomadas essas ‘providências’, as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo até chegarem a níveis insuportáveis.

O negócio de cachorros-quentes do homem, que antes gerava recursos… faliu.

O pai, triste, disse ao filho:

– Estavas certo, filho, nós estamos no meio de uma grande crise com esse governo que está aí, o negócio só volta a dar certo com alguém da oposição ou  a volta de alguém que nos governe com mão de ferro...

E comentou com os amigos, orgulhoso:

– Bendita a hora em que pus o meu filho a estudar Economia, ele é que me avisou da crise…


*****

Fonte: A história acima foi narrada pelo ministro Ernane Galvêas em palestra proferida a 23.06.81, na Escola Superior de Guerra, com “algumas adaptações...”.

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário